Em frente ao espelho quebrado da pensão, Eusébio se arrumava para o maior encontro que poderia ter em toda sua vida. Ele tentava ajeitar a gravata borboleta, mas de alguma forma ela teimava em ficar direita.
Havia percebido a pouco tempo que a camiseta social que vestia havia uma mancha de cândida e que a sola de seu único sapato social estava aos poucos desgrudando.
Mas era o que tinha conseguido de melhor naquele momento.
Em exatas duas horas estaria no mercadão para encontrar Margarida no... Espera.
Enquanto reparava em seu traje, uma luz acendeu em sua mente, lhe trazendo à tona de que haviam sim, marcado de se encontrarem no mercadão, mas a questão é... Em que lugar dele?
— Seja o que Deus quiser! — Exclamou Eusébio.
O mercadão poderia ser grande, porém não a ponto de se perderem lá dentro. Por mais que demorasse um pouco, acabariam se topando em algum momento. Talvez, essa preocupação, estava sendo a de menos.
Mas é claro que ele não poderia chegar de mãos atadas. Um buquê de margaridas para uma Margarida não podia faltar. Por sorte, dentro do próprio mercadão havia uma floricultura, que Eusébio teria que passar assim que chegasse.
Dando uma última olhada no espelho, passou-se um flash na mente de Eusébio, mostrando-lhe que depois de muitos anos estava de volta a São Paulo, e melhor, estaria indo de encontro com Margarida, seu primeiro e único amor. Porém, ele queria que a filha também estivesse presente. As duas tornavam sua vida mais completa, de certa forma.
Não sabia nem como conseguiu sobreviver sem elas durante esse tempo. Mas sabia que tudo isso havia acontecido por decisões precipitadas que acabou tomando no passado.
Ao ajeitar o cabelo, Eusébio apaga a luz de seu quarto e segue para o lado de fora.
***
Na noite passada, Margarida ficara preparando as bandeiras para a festa junina da igreja. Tinha sido uma forma de se distrair, mas mesmo assim, às vezes, acabava se pegando em pensamentos de como seria o dia seguinte. De como seria o reencontro com Eusébio e de como ele estava, depois de tanto tempo.
O casal havia chegado em casa às onze da noite, trazendo consigo um pouco da macarronada e a sobremesa que André havia feito. Ficaram um pouco com Margarida, conversando e ajudando a colar as últimas bandeiras no barbante, mas não demoraram a subir e se acomodarem para mais um dia que viria amanhã.
— Não vá dormir tarde, mãe.
— Já, já vou me recolher.
E num beijo reconfortante, André e Olívia subiram, pondo-se em seus quartos.
Quando Margarida acordara no dia seguinte, os dois já não estavam mais em casa. A mesa do café da manhã estava posta, porém André e Olívia já haviam comido e saído para trabalhar.
Depois de um pedaço de pão com queijo e uma xícara de café, Margarida havia decidido passar na paróquia para levar as bandeiras para o padre Euclides, antes de seguir para o encontro de Eusébio.
Seria uma forma de avisar o vigário a respeito desse encontro, que há muito estava para acontecer.
Antes que pudesse sair de casa, Margarida pôs seu véu branco na cabeça, acendera a vela que estava ao lado da santa e começara a conversar com Maria num sinal de cruz inicial.
— Minha mãezinha, guia meus passos até o encontro com Eusébio hoje. Meu coração tá em tempo de saltar do peito e não consigo parar de pensar em como vou reagir perante ele, depois de todo esse tempo. Me proteja e me ampare, me dando calma e discernimento. Lhe entrego meu dia em suas mãos, minha Nossa Senhora.
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O Poder do Perdão - Pelo Espírito Amélia
SpiritualOlívia sempre carregou a dor do abandono. Quando era apenas uma criança, seu pai, Eusébio, deixou-a e sua mãe, Margarida, sem explicações. Anos de dificuldades e turbulências moldaram a vida de Olívia, que cresceu com um coração cheio de mágoa e rai...