CAPÍTULO 04

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A fortaleza dos Park's esteve em constante alvoroço durante dias. No oitavo dia após o recebimento da mensagem do rei, o conde de Seul chegou, como o oficial representante do rei, para testemunhar o casamento que forçaria a paz entre os dois clãs rivais.

Dong-hae o recebeu no pátio, e assim que o cavalo do conde foi levado, os dois alfas entraram na casa e andaram até uma mesa alta, ao fim do grande saguão, onde eram servidas comidas e bebidas.

– Ji-hoon II comunica seu pesar por não poder estar presente no casamento – disse o conde, após tomar um gole de uma das canecas incrustadas de joias.

Havia no olhar dele um brilho que denunciava a mentira que acabara de dizer, pois o rei nunca teve nenhuma intenção de comparecer ao casamento que ele próprio decretara. E, com a ausência do rei, não havia ninguém a quem Dong-hae pudesse pedir para pôr um fim a toda àquela confusão.

O conde de Seul gozava de grande prestígio junto ao rei Ji-hoon II e, de fato, era o conde mais alto do reinado.

Ele e Ji-hoon II eram grandes aliados e amigos, e o fato de o rei enviar seu mais poderoso conde para o casamento denunciava a Dong-hae sua importância para o monarca.

– Ele não sabe o que faz – Dong-hae respondeu.

O conde ergueu uma sobrancelha, tomou um longo gole de cerveja e depois olhou intensamente para Dong-hae, enquanto se inclinava na cadeira. Parecia indolente e arrogante, encarando-o como se quisesse intimidá-lo, mas Dong-hae, que não sobrevivera como chefe de uma das maiores fortalezas da Coreia fugindo de desafios, encarou-o de volta sem vacilar.

O conde suspirou e baixou a caneca sobre a mesa fazendo um barulho agudo.

– Se servir de consolo, Dong-hae, eu disse a Ji-hoon que ele estava louco. Tenho ciência do que aconteceu com seu filhote ômega, e você e ele possuem a minha simpatia. Seu filho ômega não é adequado para o casamento, mas, infelizmente, você possui apenas um filho ômega, e Ji-hoon enfiou na cabeça que a única maneira para forçar a paz entre seus dois clãs mais poderosos é dá-lo ao seu inimigo. Ele sente que, se o seu filho ômega se casar com o senhor dos Jeon's, você nunca erguerá sua espada contra eles.

– E que garantia eu tenho de que eles não atacarão o meu clã? – Dong-hae exigiu saber. – É claro que eu não poderia erguer a minha espada contra o homem que possui a vida do meu pequeno filhote em suas mãos. Mas o que eu terei dele em troca?

O conde esfregou o queixo pensativamente.

– É uma boa pergunta. Não sei se o rei pensou nisso. Talvez ele tenha pensado que o casamento seria suficiente para forjar uma aliança, por mais tênue que fosse. Ele quer a paz. Agora que assinamos um tratado com Japão, Ji-hoon precisa se concentrar em problemas internos com chefes rebeldes. Precisa de aliados, e os Park's e os Jeon's sempre foram leais à coroa, apesar de desprezarem uns aos outros.

– Eu estaria disposto a assinar um tratado com os Jeon's – Dong-hae disse secamente. Foi a coisa mais difícil que já dissera em toda a sua vida. Engolir o próprio orgulho era doloroso, mas, por seu bebê, ele faria qualquer coisa, mesmo humilhar-se diante do inimigo. – Eles não podem querer esse casamento mais do que nós. É como você disse. Jimin não é adequado para se casar com alfa algum. É por isso que o noivado com Lee Minjun se desfez. Jeon Jungkook iria destruí-lo, e não posso nem pensar nisso.

O conde sacudiu a cabeça.

– Não estou aqui para barganhar com você, Dong-hae. É tarde demais para falar em tratados e paz. A guerra entre vocês já foi longe demais. Ji-hoon está impaciente para trazer paz às terras altas, e a disputa sangrenta entre o clã de vocês é uma ameaça à estabilidade que ele deseja. Posso não concordar com os métodos dele, mas dou-lhe meu total apoio. Ele enviou-me para testemunhar o casamento e levar-lhe um relatório oficial. Estou aqui para dar o consentimento e a bênção dele sobre a cerimônia e levar a carta com o selo real e a declaração oficial da união.

– Meu filhote está condenado – Dong-hae sussurrou.

– Acredito que Jeon Jungkook é um alfa justo – disse o conde cuidadosamente. – Não acho que seria cruel com seu filho apenas por vingança.

Em todos esses anos, Dong-hae nunca se sentira tão impotente. Quando ergueu os olhos, encontrou sua esposa em pé, do outro lado do grande saguão; seu pesar se irradiava como uma coisa viva, mas ela o escondeu bem ao se aproximar.

Park Eun vestira-se da melhor maneira possível em respeito à visita do conde, e apenas o olhar afiado de Dong-hae poderia detectar o turbilhão que borbulhava sob a superfície de sua cuidadosa compostura.

Ele e o conde se levantaram quando ela se aproximou.

– Minha senhora – o conde disse suavemente, tomando sua mão para beijá-la. – Faz muitos anos desde a última vez que nos encontramos, e juro que você se tornou ainda mais linda do que antes.

Eun sorriu graciosamente, mas o sorriso não chegou aos olhos.

– Muito gentil, meu senhor. Você nos honra com a sua presença no casamento do nosso filho ômega. Espero que goste das acomodações. Se houver qualquer coisa que deseje, por favor, me avise e providenciarei imediatamente.

Dong-hae nem se deu conta de que estava segurando a respiração, até que seu peito começou a queimar em protesto. Ele sabia que Eun seria capaz de plantar uma adaga no coração do conde se pensasse que isso salvaria o filho.

Eun era eloquente, obstinada, e Dong-hae a amava com todas as partes de seu coração de guerreiro. Se ela fosse alfa, seria a mais indomada de toda a Coreia. Muitos alfas não tolerariam sua disposição para falar tudo o que pensava ou a sua força, que se equiparava à dele próprio; tentariam subjugá-la, torná-la fraca e apagar aquilo que a tornava tão especial.

Eun não era uma ômega fraca, e Dong-hae agradecia por isso todos os dias. Ela pertencia-lhe e nunca pediria desculpas pelo temperamento da esposa, pois a amava exatamente como era. Mas, naquele momento, começara a se preocupar, porque Park Eun estava sendo gentil e educada demais. O sorriso dela o deixava nervoso. Será que estava planejando envenenar a bebida do conde? Enterraria ela um punhal entre as costelas dele quando o acompanhasse aos seus aposentos? As duas coisas eram possíveis, pois Park Eun era feroz quando se tratava de seus filhotes.

– Eu acompanharei o conde até seu quarto – Dong-hae disse, antes que Eun pudesse se oferecer. – Peça que lhe deem comida e bebida, para que possa descansar da viagem.

Antes que Dong-hae pudesse guiar o conde na direção da escada, um dos guardas da torre entrou de repente no saguão e parou imediatamente quando viu o conde e Dong-hae lado a lado, inclinando a cabeça em sinal de respeito.

– Líder, um mensageiro dos Jeon's apareceu, trazendo notícias de que o líder deles e seus soldados chegarão até o cair da noite.

Os lábios de Eun se apertaram, mas, para seu crédito, a ômega permaneceu quieta, mesmo com
os punhos cerrados.

O conde ergueu uma sobrancelha e brincou com Dong-hae:

– Pode-se até pensar que o líder Jeon Jungkook está ansioso para reclamar seu noivo.

O estômago de Park Dong-hae se embrulhou, enojado pelo mero pensamento de seu bebê nas mãos dos Jeon's. Ele trocou um olhar de pesar com a esposa, porque estava se tornando cada vez mais claro que não havia nada a ser feito, exceto trair seu rei e começar uma guerra, e fazer isso significaria a morte de todo o seu clã. Seu amado filhote ou a vida de todas as pessoas que dependiam de sua proteção...

Era uma escolha que nenhum alfa deveria ter de fazer.

GUERREIROSOnde histórias criam vida. Descubra agora