Capítulo 10

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— Tiramos a sorte grande, rapazes! O Duque Grayson vai pagar um valor enorme pela princesa amaldiçoada

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— Tiramos a sorte grande, rapazes! O Duque Grayson vai pagar um valor enorme pela princesa amaldiçoada. Ele adora bonecas exóticas. — Ele passou a língua em seus lábios rachados — Vamos comemorar! — Ele sorriu mostrando os dentes amarelados.

Enquanto os bandidos abriam um barril de cerveja para festejar, o líder se aproximou e disse:

— Recebi a dica que uma princesa amaldiçoada morava nessas terras. Mas nunca imaginei que a encontraria na floresta sem nenhum guarda.

— Por - por favor — foi a última palavra que consegui dizer antes de ser amordaçada.

— Você é bem bonita, princesa amaldiçoada — e continuou. — Olhos azuis e um longo cabelo loiro. Pele pálida, nariz pequeno e boca carnuda rosada. Uma combinação bem bonita. — Ele me analisava enquanto mordia os lábios. — Acho que o Duque não vai se importar se eu me divertir um pouco com a boneca dele — ele riu vendo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Vai para o inferno, seu maldito! — balbuciei com a mordaça na boca.

O medo começou a corroer meu coração. Fiquei pensando em como sair daquela situação. O que eu poderia fazer. Eu tinha sido envenenada e não tinha força o suficiente para quebrar as correntes de ferro maciço. Eu não conseguia gritar por causa da mordaça. Não conseguia usar minhas habilidades porque eu estava muito nervosa e não conseguia me concentrar. Não tinha avisado para ninguém que estava ali. Os residentes do Castelo só perceberiam minha ausência daqui a pelo menos uma hora. Até lá, talvez, já fosse tarde demais.

Ele puxou minhas correntes de maneira impiedosa. Eu caí no chão enquanto ele me arrastava para fora da clareira. Ele sabia que eu era forte, então não manteria contato próximo enquanto eu não estivesse totalmente imobilizada. Com cuidado, ele me amarrou em uma árvore, me imobilizando completamente.

— Princesa amaldiçoada, vou te dar um conselho... de amigo. Aconselho você a mentir para o Duque falando que é virgem mesmo você não sendo depois de hoje. Ele costuma pegar um pouco leve com as garotas virgens — Ele riu com malícia se deliciando com o pavor que crescia nos meus olhos.

Fechei os olhos.

Não queria mais ver aquele rosto odioso. Sentir aquele cheiro de malte e terra que me enojava. Meu estômago se contorcia só de imaginar aquele homem tocando em mim.

Ouvi o barulho da neve e dos galhos cedendo sob a bota do homem. Ele lentamente se aproximava de onde eu estava amarrada.

Eu não era religiosa, não como os meus pais. Eu preferia os deuses antigos do que os novos, mas o meu encontro com aquele diabo na floresta me deixou sem opções. Rezei para os deuses antigos e novos implorando para me salvarem. Nadia que acreditava somente nos deuses antigos acharia péssimo eu apelar para o novo Deus, mas eu estava desesperada.

Se eu rezasse para todos os deuses, algum deles teria misericórdia e me salvaria.

Foi então que ouvi uma voz em meus pensamentos:

— Não olhe!

Eu obedeci.

Mantive os olhos fechados enquanto ouvia os gritos estridentes dos bandidos e a floresta era dominada pelo cheiro metálico de sangue.

Depois de alguns minutos os gritos cessaram.

— Abra os olhos — ordenou a voz em minha cabeça.

Quando minhas pálpebras se ergueram, vi as correntes quebradas, caídas na neve perto dos meus pés descalços e queimados pelo frio.

— Está tudo bem. Apenas respire fundo. Você está segura comigo. — disse ele em Wallachiano antigo. Ele passou o braço em volta da minha cintura e retirou a mordaça. — Ninguém pode te machucar... eu não vou permitir 

Lágrimas arderam na minha garganta e subiram para os meus olhos. Eu comecei a chorar. Sem parar. Envolvi meus braços nas costas largas do homem parado na minha frente.

— Obrigada por me salvar, Aleksander — sussurrei em Wallachiano antigo em seu ouvido.

Não sei quanto tempo ficamos lá assim. Quando tentei me afastar, ele me puxou de volta. Nos encaramos por alguns minutos. Os seus olhos negros como o céu noturno percorreram os hematomas no meu pescoço, tornozelos e pulsos.

— Você está bem? Está ferida? — ele perguntou com a voz rouca como se algo estivesse preso em sua garganta.

— Agora estou bem. Obrigada — respondi soltando um suspiro de puro alívio.

Olhei em volta. A neve estava encharcada de sangue. Deuses... era tanto sangue. Os homens estavam todos mortos. Aleksander se certificou que nenhum deles escapasse com vida para contar a história. Contei oito cadáveres que pareciam ter sido rasgados pelas mãos dele. Ele tinha uma força descomunal e era capaz de cometer atos bárbaros de violência, mas agora, comigo, ele parecia gentil e acolhedor.

Aleksander me pegou e me segurou firmemente em seu colo. Passei a mão por trás de suas costas e segurei em seus ombros largos.

Ele tinha o cheiro de cedro e sal e estrelas.

Estrelas? Cheiro de estrela?

Não sei o que isso significava. Só sei que ele me lembrava as estrelas no céu noturno de inverno que lançavam sua luz prateada no meio da escuridão. Elas brilhavam lá sozinhas, intocadas, solitárias, deslumbrantes...

Não vi nenhum cavalo, então presumi que ele tinha ido a pé. Me agarrei firme nele para não cair, me preparando para voltar para o Castelo de Crișana.

— Vou te levar para casa — sussurrou ele na minha têmpora.

Sombras crescerem em volta de nós. O céu se tornou escuro à medida que tudo à nossa volta era engolido pela escuridão. Eventualmente, toda a luz foi engolida. Não estávamos mais na floresta silenciosa... estávamos no vazio, não havia vento, nem uma brisa, só a pressão da mão de Aleksander nas minhas costas, acompanhada da sensação infinita de queda. A única luz era das estrelas que rodopiavam no céu. Náusea me atingiu. Meus dedos afundaram com força nas costas firmes de Aleksander enquanto eu fechava os meus olhos.

— Chegamos — murmurou Aleksander quando finalmente uma brisa quente acariciou meu rosto.

Abri meus olhos, aliviada. As sombras se dissiparam revelando uma biblioteca que reconheci assim que vi a placa que meu pai entalhou em cima da porta.

— Como?

— Não é tão complicado quanto parece. Você deve imaginar dois pontos que quer unir e dobrar esses pontos com as sombras — Ele olhou nos meus olhos como se pudesse ver a minha alma. Como se pudesse ver a confusão estampada em meu rosto — Atravessar é dobrar a realidade como uma tapeçaria juntando um local ao outro. Posso te ensinar a usar as sombras para atravessar. É muito útil em uma emergência — explicou ele, pacientemente.

Depois de quase ser violada, eu estava convencida de que precisava aprender autodefesa. Aleksander tinha se colocado à disposição para me ensinar várias vezes, mas eu nunca me interessei. Achei que era forte o suficiente para tomar conta de mim, mesmo sem treinamento. E como eu era uma princesa, achei que não precisava desse tipo de habilidade já que tinham vários cavaleiros e guardas para me proteger.

— Eu quero aprender. Não quero ser a donzela indefesa que precisa ser salva pelo príncipe. Eu quero ser forte o suficiente para salvar a mim mesma e aqueles que eu amo. Eu não quero nunca mais me sentir tão impotente.

Um sentimento de culpa tomou conta de mim. Encolhi os ombros.

Trono de Sangue e RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora