Capítulo 66

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Um nó se formou em minha garganta. Por mais que eu odiasse Mikhail, ele não poderia morrer. Se ele morresse, uma batalha aconteceria. E eu não queria arriscar perder Aleksander, Lenore e até Dietrich, a minha família, em uma batalha.

Lenore franziu o rosto em confusão. Ela parecia perdida, sem entender o que estava acontecendo.

— Esposa? — finalmente Lenore verbalizou algumas palavras.

— Impossível! — A voz de Mikhail passou por uma mudança surpreendente, uma transição da condescendência arrogante e provocadora para um interesse genuíno. — Casamos na igreja. Você não pode casar de novo.

— É verdade que eu e Aleksander nos casamos. Estamos casados com a benção da Deusa — confirmei. Eu não tinha mais nada a esconder.

— Por que você se casaria com o homem que matou seus pais? Não sabia que você era tão ingênua. — Eu odiei o tom debochado que ele usou quando me chamou de ingênua. — Você é uma decepção, Elizabeth.

Era inacreditável que Mikhail continuava insistindo em sua inocência mesmo depois de eu ter falado que vi as memórias de Aleksander. Ele parecia querer me irritar. Me afetar. Mostrar que ele tinha controle e poder sobre mim. Mas eu não permitiria isso. Não mais.

— Por que não, Mikhail? — perguntei da maneira mais calma possível. — Eu casei com o filho do rei e da rainha que matou os meus pais.

Mikhail arregalou os olhos. Seus batimentos cardíacos dispararam.

— Não entendo. Os pais de Aleksander morreram quando ele era criança. Como poderia os pais de Aleksander, que estavam mortos, matarem os pais da Elizabeth? — perguntou Lenore, confusa.

Mikhail engoliu em seco.

— Fui casada durante mais de uma década com o duque da Northumbria, o príncipe da Moldavia, o filho da rainha Tassa e do rei Marius. O filho da rainha e o do rei que traíram e mataram meus pais de maneira covarde e brutal. — As palavras saíram arranhando a minha garganta. Segurei as lágrimas que ameaçavam explodir nos meus olhos. — Como você pôde fazer isso comigo, Mikhail? Como você pôde me trair assim? — Expor os crimes de Mikhail era a oportunidade perfeita de trazer Lenore para o meu lado.

Lenore virou a cabeça na direção de Mikhail. Suas sobrancelhas castanhas se uniram.

— Eu não sabia que eles matariam seus pais. — ele murmurou. Quase inaudível. — Não era esse o combinado. — Mikhail sabia que não podia mais continuar mentindo. As alterações em seus batimentos cardíacos entregavam suas mentiras.

— Então tudo bem dar um golpe nos meus pais?

— Seus pais eram péssimos governantes! O seu povo sofria! — ele disparou. — Quando o reino fosse unificado pelo nosso casamento, o meu povo também iria sofrer.

— É mesmo? — Eu perguntei, a voz carregada de escárnio. As palavras atravessaram o bosque feito flechas envenenadas. A etiqueta real foi suficiente para manter o rosto de Mikhail impassível, mas não seus olhos que ardiam feito fogo gelado. — Não fale como se você se importasse com o sofrimento do meu povo ou do seu povo. Porque você não se importava. E nunca vai se importar. Você só se importa com você mesmo.

— E você se importa? — Os olhos dele ardiam prestes a me consumir.

— Ao contrário de você, Mikhail, meu mundo era um lugar restrito. Eu não tinha contato com o mundo exterior. Eu não sabia que o povo sofria. Se eu soubesse que meus pais eram péssimos governantes, eu teria encontrado uma maneira de tirar eles do poder. Você só precisava ter me contado.

Trono de Sangue e RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora