Capítulo 19

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Acordei com o barulho dos funcionários limpando a taverna

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Acordei com o barulho dos funcionários limpando a taverna. Apalpei o lado de Mikhail que estava vazio e gelado. Será que descobriram onde estamos e levaram Mikhail? Meu coração bateu acelerado no peito com o pensamento de Mika ter sido sequestrado ou pior... morto.

Corri para a porta e abri apenas uma fresta para ter a visão do corredor. Inclinei a cabeça para a frente e espreitei de um lado ao outro do corredor. Quando vi Olesya passando, puxei ela para dentro do quarto. Ela se assustou. Tive que tampar sua boca para ela não gritar.

— Você viu meu marido? — perguntei com a voz rouca.

Quando Olesya ouviu a minha voz, ela soltou um suspiro aliviado.

— Ele foi com o estalajadeiro ver um cavalo para comprar — disse ela segurando uma muda de roupa em suas mãos. — Vocês ainda têm uma viagem de dois dias para chegar na próxima cidade.

— Desculpa por assustar você. — Soltei ela e respirei aliviada por saber que Mikhail estava vivo e em segurança.

Ela estendeu a mão me dando uma muda de roupa que eu não reconheci. Lancei um olhar confuso em sua direção.

— Minha irmã mais velha não usa mais essas roupas. Acho que são do seu tamanho. Quando lavei os seus vestidos, eles praticamente se desfizeram nas minhas mãos. Desculpa Ellie, mas não posso entregá-los para você — e continuou. — Sei que as roupas de minha irmã não são de uma nobre, mas acho que vai ficar melhor na senhora do que aquelas roupas que estava vestindo.

Eu não estava acostumada a receber tanta gentileza das pessoas. Meus olhos se encheram de lágrimas e quando dei por conta, eu envolvi meus braços em volta de Olesya e a estava abraçando.

Ainda existia gentileza nesse mundo.

Parecia que o mal não poderia existir ali, não enquanto havia tanta gentileza. Ainda havia gentileza demais no mundo para o mal ter qualquer esperança de sair vitorioso.

— Muito obrigada, Olesya!

Ela me ajudou a vestir as roupas de sua irmã. O vestido verde musgo estava impecavelmente limpo e tinha um cheiro agradável de sabão. Apesar de o tecido ser um algodão rústico, ele tinha um toque macio no corpo. O xale de cor preta enrolado no meu ombro me mantinha aquecida.

Ouvi o barulho da porta abrindo quando Mikhail entrou vestindo uma roupa diferente daquela que ele usara no dia anterior. Ele vestia um casaco marrom desabotoado no alto que deixava exposto o seu torso pálido e calças pretas de algodão rústico. Ele parecia um camponês apesar dos traços de alabastro de seu rosto.

Era o disfarce perfeito.

Quando Olesya saiu do quarto, ele me encarou e disse:

— Até como camponesa você continua com uma beleza incomparável.

— Você também, meu senhor. — Fiz uma reverência rindo com escárnio. Eu não podia perder uma única oportunidade de alfinetar Mikhail. 

Ele sorriu de volta mostrando todos os dentes.

— Conversei com o dono do estábulo... que coincidentemente é o mesmo dono da estalagem. — O tom de sarcasmo era predominante em sua voz — Enfim, eu troquei a outra abotoadura do casaco por um cavalo e por suprimentos. — Ele me entregou uma bolsa de couro que tinha roupas e cobertores em seu interior.

— Acho que o preço caro da hospedagem já estava incluído em uma parte do preço do cavalo. — Deixei escapar uma risadinha.

Ele assentiu. O cenho franzido.

Eu conhecia aquela expressão.

Ele estava preocupado.

— O que foi, Mika?

— Temos apenas a minha espada longa e a adaga na sua bota para nos defender. O que não é muito. Precisamos sair logo dessa estalagem e sempre nos mover. Porque se Aleksander nos localizar e atacar... — Ele engoliu em seco. — Será fatal. Se prepare para partir antes de o sol estar a pino.

Ouvi passos rápidos e constantes em direção ao nosso quarto. Olesya bateu baixinho na porta perguntando se queríamos café da manhã. Estávamos com pressa para partir, mas se recusássemos o desjejum ela iria estranhar por que não comemos nada desde quando chegamos. Aquelas terras já eram cheias de lendas de demônios imortais que não comiam comida humana e bebiam sangue. Então resolvemos aceitar o café da manhã para diminuir as suspeitas. E também porque estávamos famintos.

Olesya entrou segurando uma bandeja. O café da manhã era simples. Um pedaço de pão e uma tigela de sopa para cada.

— Obrigada, Olesya.

Ela colocou a bandeja em cima da cama e quando se virou para sair do quarto segurei sua mão colocando minha pulseira entre os seus dedos. Era uma pulseira de ouro com pequenos rubis que Mikhail me deu de aniversário quando fiz dezoito anos.

— Eu não tenho dinheiro para te dar como agradecimento por cuidar de mim e do meu marido. Mas por favor fique com essa pulseira.

Ela me encarou com os olhos arregalados e disse:

— Milady, não posso aceitar um presente caro desses.

— Por favor.

Primeiro ela fez uma reverência de agradecimento e depois me deu um abraço apertado.

— Espero que dê tudo certo na sua viagem, Ellie. Espero que chegue em segurança ao seu destino! — disse ela como se soubesse que estávamos fugindo.

— Obrigada, Olesya. Eu também espero...

Quando Olesya saiu do quarto, eu e Mikhail comemos um pouco do café da manhã que parecia cinzas em minha boca. Eu estava acostumada com a comida do castelo de Crişana que era bem diferente da sopa e pão da taverna. Forcei mais uma colher de sopa na boca, contendo minha reação. Engoli a comida acompanhada de um copo de água.

Terminamos de comer, colocamos nossos pertences na bolsa de couro e nos dirigimos para o estábulo.

Cavalos punham o focinho para fora dos estábulos de madeira, emanando o cheiro doce de feno. Quando estávamos na frente da baia de um imponente cavalo com pelos negros como ônix, Mika disse:

— O nome dele é Pegasus.

Conforme Mika colocava os alforjes no animal, eu me aproximei para acariciar o seu focinho. Foi quando uma flecha passou zunindo pela minha cabeça, quase me acertando.

Arfei, quando vi que a flecha atingiu o peito de Mikhail.

Trono de Sangue e RuínasOnde histórias criam vida. Descubra agora