Trono de Sangue e Ruínas

Capítulo 46

Eu estava me recuperando da dor que quase dilacerou meu coração deitada no sofá que ficava em frente a uma ampla janela da biblioteca com vista dos vastos campos esmeraldinos que circundavam o castelo Alnwick, delimitados por árvores em tons de ferrugem e laranja-fogo.

Os últimos raios de sol dançavam no céu rosado quando Lenore entrou apressada na biblioteca. Meus pés afundaram no tapete macio quando me sentei em posição ereta. Esquadrinhei Lenore que estava mais pálida que um cadáver. Mikhail estava atrás de uma mesa analisando documentos da Northumbria planejando a viagem para Oradea.

Por mais que sentíssemos traídos, não poderíamos quebrar a promessa que fiz. Encarei o odioso dragão de noite e estrelas na minha clavícula. Eu realmente odiava a estúpida tatuagem mágica que me conectava ao maldito príncipe da Wallachia. Era um lembrete de que a minha vida estava vinculada à de Aleksander.

Mika pousou os documentos em cima da mesa. Esquadrinhou Lenore e disse:

— O que aconteceu? Até parece que viu o príncipe do inferno em pessoa.

— Mas eu vi um príncipe... talvez não do inferno. Edward, o príncipe negro, está aqui — disse ela com os lábios arroxeados como se sua alma tivesse sido sugada de seu corpo.

Bons deuses.

O demônio Wallachiano foi embora para a chegada do demônio inglês.

A última vez que vi Edward foi em Limoges quando desertei o exército do príncipe da pior maneira possível. O que incluía uma ameaça minha para o futuro rei do reino da Inglaterra

— O que ele quer? — perguntei.

— Ele quer uma audiência com o Duque da Northumbria. Pedi para Emma levar ele e sua comitiva para os aposentos na ala oeste do castelo.

— Você fez bem Lenore. Obrigada.

— Tem algo que vocês devem saber... a saúde do príncipe piorou ainda mais desde o cerco à Limoges. O príncipe está usando uma liteira para se locomover.

Mikhail deu um longo suspiro e passou a mão em seu cabelo dourado.

— O momento não poderia ser pior para Edward vir aqui — reclamou Mikhail. — Assim que ele e sua comitiva estiverem instalados e confortáveis, nós iremos aos seus aposentos e faremos uma audiência privada.

Eu assenti com a cabeça.

Não podíamos ocupar nosso tempo pensando nos interesses do príncipe. Nós já tínhamos muito em nossas mãos planejando a viagem para Oradea. Se a saúde do príncipe tinha deteriorado tanto, então o melhor que poderíamos fazer era uma audiência intimista para tratar o mais rápido possível de suas preocupações para ele voltar quanto antes para seu palácio em Londres.