Amor de mãe

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Marina

Desde que Lucca recobrou a consciência, eu lutava entre alívio e novas preocupações. Alívio por tê-lo de volta e preocupações tais como, qual seria a reação dele com o diagnóstico de paralisia?
Seria irreversível?
Nós teríamos forças e sabedoria para ajudá-lo a passar por toda essa situação?

Eram tantos pensamentos permeados pela angústia e o medo, que me sentia perdida. Contudo, não podia demonstrar.
Afinal, Lucca precisa de mim, assim como GianCarloe Fábio. E haviam os meninos, Sam e Robert, outra das minhas maiores preocupações.
O fato de Robert ter se afastado desde que recebeu a visita do pai e alta do hospital, recusando-se a atender nossas ligações e a responder nossas mensagens, me deixava ainda mais aflita.

Felizmente Sam, vinha sendo um ponto de equilíbrio e calma em meio a esse pesadelo. Mas eu me perguntava que preço, toda essa fortaleza, cobraria dele?

Ah, e havia Fábio, que segundo GianCarlo estava melancólico desde antes do acidente. O que estaria acontecendo? E como eu não percebi nada?!

Fui bruscamente tirada das minhas reflexões ao ouvir os gritos furiosos de Lucca.
O que estava acontecendo, meu Deus?!
Eu achei que a visita de Allie lhe daria ânimo, mas parece que me enganei.

Rapidamente me dirigi ao quarto e entrei, me surpreendendo com a cena que encontrei: Lucca praticamente sentado na cama, visivelmente descontrolado, monitores disparados e uma Allie assustada, em prantos.
Sem entender, contudo sem tempo para pedir explicações, me aproximei de Allie e a abracei  conduzindo-a gentilmente para fora do quarto, sob os gritos de Lucca.

A coloquei sentada na poltrona aonde eu estivera sentada, perdida em meus pensamentos há poucos minutos e me fui ao balcão de enfermagem.
Solicitei que uma enfermeira fosse verificar meu menino e voltei para perto de Allie.

- Allie, meu bem, o que houve?- questionei o mais delicadamente possível, visto que ela ainda chorava.
- Eu não sei... ele começou a dizer umas coisas agressivas e ...- não concluiu  voltando a soluçar desesperada.
A abracei e acalentei, até que finalmente se acalmasse.

- Tia, eu acho que ele pensou que estou com pena dele.- disse finalmente, me encarando ainda com os olhos marejados.
- Como assim? Quer dizer, por qual razão ele pensaria isso, Allie? - me senti enregelar.
O que ele menos precisa é se sentir alvo de pena de alguém, principalmente da mulher que ama, pensei, mas evitei falar.

- Eu fiquei sem jeito... quer dizer, com medo de machucá-lo...
- Allie, por Deus...
- Tia eu juro que não foi pena!!! Eu tive tanto medo de perdê-lo e não soube demonstrar. - ela me interrompeu dando finalmente uma resposta- Ele se lembrou de uma situação em que fiz um comentário desagradável, infeliz, na verdade. E explodiu.
- Ele lembrou do dia em que vocês estavam na Weekend Burger?

Ela arregalou os olhos e ficou tomada pelo constrangimento.
- Ele contou para a senhora?!
- Sim, Allie. - respondi segurando em suas mãos trêmulas para transmitir carinho e apoio- Ele estava inquieto demais quando chegou em casa naquela noite, eu perguntei se vocês haviam brigado e ele acabou me contando o que houve.
- Foi um comentário inapropriado, eu  sei!!!Mas não sei o que me deu ao ver aquele casal. Me senti tão estranha... porém eu me desculpei e achei que ele houvesse deixado pra lá.
- Eu não sei o porquê, mas essa situação mexeu com ele...
- Mas ele sabe que não sou preconceituosa e já passou tanto tempo!!! Não era motivo para uma explosão dessas agora.- reagiu indignada, me impedindo de concluir.

- Alicia, leve em consideração por tudo o que ele está passando!!! Talvez, ele esperasse que você fosse mais assertiva ao vê-lo e o fato de ter sido tão contida, pode ter parecido uma rejeição.
- Mas eu o amo!!! Como ele pôde pensar algo assim?!
- Como você reagiria no lugar dele? Tendo ocorrido um desentendimento, mesmo que por um comentário e há algum tempo, sendo que agora está na situação do pivô do comentário? - falei firme- No momento, a única coisa que ele sabe é que tem um diagnóstico de paralisia, Allie.
E cabe a nós, dar a certeza a ele, de que isso não vai mudar o que sentimos e que estaremos ao lado dele para o que der e vier.

Em silêncio,  ela assentiu e eu a abracei.

Conversamos por mais algum tempo, sobre as questões práticas que precisávamos resolver. Ela, como conciliar os horários de trabalho, para poder ficar o maior tempo possível junto dele.
Eu sobre as adaptações e reformas que se faziam necessárias para quando ele voltasse para casa.
Por fim, vovô Ben veio buscá-la e fiquei mais tranquila ao saber que ela não iria dirigir ao voltar para casa. Pois apesar, de parecer calma e controlada, eu percebi que era só um verniz.

Suspirei cansada, me recompus,  aparentando uma tranquilidade que estava longe de sentir e entrei no quarto dele com um sorriso.
Porém, ele continuava dormindo como a enfermeira havia nos avisado quando saiu do quarto.
Me aproximei da cama e segurei a mão dele, meu menino parecia tão frágil e indefeso...
Senti as lágrimas descerem pelo meu rosto e não tentei contê-las.
Rezei fervorosamente, pedindo a Deus que protegesse meu amor.

Ah, se eu pudesse evitar que ele passasse por isso...
Mas não posso. Então só me resta amá-lo ainda mais.

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