Fábio
Os últimos dias foram repletos de medo e desespero.
Apesar de os médicos terem suspendido a sedação, Lucca demorou a recobrar a consciência.No início, os médicos, não se alarmaram e tentaram nos manter calmos. Contudo, diante da demora atípica, acabaram se preocupando também.
Uma bateria de exames neurológicos depois, em que segundo eles, todos os resultados foram satisfatórios, veio o veredicto: aguardar pacientemente que o corpo dele reagisse aos traumas severos.E mesmo com a afirmação da equipe médica de que dentro do possível, ele estava bem, a espera não se tornou menos angustiante.
Eu tentei ser forte por ele e por meus pais, que estavam cada vez mais abatidos, mas confesso que chorei muitas vezes escondido.
A culpa me corroía...Trabalhar se tornou um suplício, não conseguia me concentrar e cometi erros simplórios.
Surpreendentemente, Carolina se mostrou gentil e atenciosa, despertando sentimentos inesperados.Flashback On
Perdido.
Era assim que me sentia com aqueles contratos em mãos. Precisei imprimir, porque não consegui ler na tela do computador, as letras pareciam dançar. A impressão que eu tinha é que eles tinham sido escritos em algum idioma ininteligível e, mesmo tendo os lido algumas vezes, não consegui apreender o seu conteúdo. De fato, a impressão dos contratos não os tornou inteligíveis.A imagem do meu irmão inerte e entubado, não saía da minha mente, me assombrando a todo maldito instante.
Eu precisava assiná-los e encaminhar ao setor jurídico após analisá-los, contudo, não conseguia concluir essa simples tarefa.- Com licença, senhor Landucci.- uma voz firme, mas ao mesmo tempo suave interrompeu a automassagem que eu realizava em minha têmpora dolorida. Os benditos comprimidos para dor de cabeça não estavam fazendo efeito.
- Pois não.- respondi impaciente, finalmente abrindo os olhos e encarando meu interlocutor.
Me surpreendi ao ver Carolina parada à porta, segurando uma pasta.
- Ah, senhorita Meirelles, por favor, entre.- falei me empertigando na cadeira.
Era estranho a reação que ela me causava com a sua simples presença.- Eu enviei para o seu email os adendos do setor de Design sobre a restauração da Vila dos Pescadores, precisamos do seu aval para a redação final dos contratos.- foi direto ao ponto- Desculpe pressiná-lo, mas a reunião com os representantes da prefeitura é daqui há duas horas.
- Ah, sim... Eu estava terminando de analisá-los e já ia enviá-los ao jurídico.- respondi tentando conter a minha frustração.
- Certo. É que o jurídico cobrou a Jane, que me cobrou e...
- E você veio me cobrar.- interrompi sorrindo com a sua explicação, ela parecia agitada e constrangida.- Sou eu quem peço desculpas, por atrasar o andamento das coisas, srta. Meirelles. Mas, confesso, que não estou com cabeça...
- Por favor, me chame de Carolina.- sorriu e me perdi naquele sorriso lindo- Eu imagino que esteja sendo muito difícil se concentrar, se precisar de ajuda, pode contar comigo.
Seu oferecimento cordial, me surpreendeu.
- Muito obrigado, vou aceitar. E por favor, me chame de Fábio. Sei que começamos com o pé esquerdo, mas vamos mudar isso, começando por acabar com tanta formalidade.
- Está bem. Humm... eu soube do acidente do seu irmão... quer dizer, todos nós ficamos sabendo... enfim, o que eu quero de fato, perguntar é como ele está? Mas não quero ser inconveniente...- concordou e sua hesitação ao perguntar sobre Lucca foi cômica.
- Não está sendo inconveniente, agradeço por perguntar.- sorri pela segunda vez em vários dias- Ele permanece inconsciente, mas de acordo com os médicos é uma questão de tempo até acordar. Algo a ver com o tempo de reação do organismo.
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Rise UP
RomanceUm amor que teve início na adolescência, pode ser destruído por um acidente e suas consequências? Imaturidade, traumas do passado, falta de confiança e preconceito, podem acabar com uma relação? Nessa história vamos descobrir como o autoconhecimento...