Sam
Eu estava ansioso para ver meu amigo, mas ao mesmo tempo com medo do que ia encontrar.
Afinal, o Landucci é um cara tão cheio de vida e ativo. Eu não consigo imaginá-lo preso à uma cadeira de rodas...Meu lado racional e espiritualizado entende que essa situação é um aprendizado pelo qual ele e, todos nós que estamos ao seu redor temos que passar e amadurecer.
Contudo, meu lado emotivo e bem humano que está engatinhando nas sendas do conhecimento da vida espiritual, só consegue me fazer questionar: Por quê?!Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos tão limitadores e entrei no hospital em oração por todos que se encontram aqui nesse local de provas.
Finalmente, à porta do quarto, respirei fundo, revisei os livros que trouxe e a playlist que fiz com músicas que marcaram vários momentos das nossas vidas e, com um sorriso no rosto entrei:
- E aí cara, que susto hein!!!- digo tentando parecer relaxado.
Mas o olhar sem brilho que recebi como resposta me faz temer pelo meu amigo.
- Oi, Sam.
- Olha, eu trouxe alguns livros e fiz uma playlist só com as melhores músicas em homenagem aos nossos velhos tempos.
- Legal. Obrigado. - respondeu simplesmente.
O desânimo dele era quase palpável.Diante disso, não consegui sustentar o papel de alegre e despreocupado e fui direto:
- Lucca... irmão, eu sinto muito!!! Sinto por tudo o que está passando, mas eu tenho certeza de que você vai superar e saiba que estou ao seu lado para o que der e vier!!!
Ele suspirou profundamente e disse:
- Pensei que você também ia tentar ignorar a situação e falar sobre amenidades...
- Irmão, nós podemos falar sobre o que você quiser!!!- respondi com um arremedo de sorriso.
- Obrigado! Não aguento mais ter que fingir...
- Fingir?! Como assim?!
- Deixa pra lá... Sam, você tem visto ou falado com a Allie? Ela está bem?Surpreso com o questionamento, pois acreditei que eles já tivessem se entendido, percebi que ele hesitou ao perguntar sobre ela.
- Lucca, porque você mesmo não pergunta para ela isso? Eu sei que ela tem vindo todos os dias te ver e você se recusa a recebê-la. - disse direto.
Ele se remexeu irrequieto na cama e desviou o olhar.
- Sam, eu...
- Sério, cara... não sei o que você está pensando, mas desse jeito só vai afastá-la.Depois de alguns instantes em silêncio, ele finalmente disse:
- Eu já a perdi, Sam... perdi tudo...- seu tom derrotista me assustou profundamente.
- Ei, o que é isso, Landucci?! Esse não é o Lucca que eu conheço!- falei incisivo- Você não perdeu nada...
- Samuel, sejamos realistas...
- Eu não vou tentar suavizar, é realmente uma situação difícil, em que você terá que se ajustar à uma nova realidade. - interrompi - Mas a Allie te ama...
- Eu vi o olhar de piedade dela! Percebi e senti o desconforto quando tentei beijá-la...
- Lucca...
- Ela não sabia para onde olhar, o que fazer! E você lembra daquele comentário que...
- Foi um comentário infeliz! - interrompi firme- Nós sabemos que ela se arrependeu e que não condiz com a maneira dela pensar.
- Sam, se ela sentiu todo aquele desprezo...
- Lucca! Me escute com atenção: a sua situação já é complicada e difícil o suficiente sem você procurar dificultar ainda mais!- o encarei sério- O que você precisa é deixar de lado esses pensamentos negativos que não vão te levar a lugar algum e, se concentrar na sua recuperação. E no amor que a Allie e todos nós temos pra te dar. Ok?Por um instante, ele fechou os olhos e suspirou profundamente, achei que não iria me responder. Mas para minha grata surpresa, ele disse:
- Ok, Senhor Sensatez em pessoa! - e nesse instante tive um vislumbre do meu amigo e sua positividade natural, o que me fez sorrir aliviado.
- Ótimo! Agora vamos organizar esse horário de visitas e depois vou te colocar a par dos últimos acontecimentos.
- Hum... sensato,mas fofoqueiro, Sam? - caiu na sua gargalhada característica me fazendo rir também.
- Sr. Landucci, me respeite! - disse tentando conter o riso e soar sério- Fofoqueiro não! Comentarista dos fatos, com isenção e parcimônia.
- Certo... em outras palavras: FOFOQUEIRO!
Rimos e eu senti que se estivéssemos todos juntos, conseguiríamos passar por mais esta prova.Quase ao final do horário de visita, percebi que ele estava inquieto e perguntei o que estava acontecendo:
- Ah, Sam... é que sinto que o efeito dos analgésicos tem passado cada vez mais rápido. - respondeu rouco - E mesmo com eles, as dores têm sido intensas...
- Lucca, eu sinto muito! Você já falou com seu médico sobre isso?
- Já, ele me respondeu dizendo que já estou na dose máxima. E que conforme as fraturas forem se calcificando a dor irá diminuir... mas até lá...
- Eu vou falar com os seus pais para que eles solicitem uma segunda opinião!- disse resoluto- É inadmissível essa resposta!
- Sam... Samuel! - insistiu- Por favor, não fale nada! Meus pais já estão sofrendo demais e eu não quero...
- Lucca, posso até não falar com eles para não preocupá-los ainda mais, mas que você não ficará sofrendo, eu te garanto.
O abracei e ele retribuiu sem dizer mais nada.
- Eu volto amanhã e se você se comportar se alimentando direitinho, talvez, sem querer... eu trarei um chocolate.
- Samuel, seu filho...
- Ops! Modere seu linguajar, sr. Landucci!- interrompi rindo já na porta- Do contrário, adeus chocolate.Saí sorrindo da expressão dele que dizia " você me paga!".
Ele sempre foi apaixonado por doces e chocolate era sua perdição. Então nada mais eficiente de que usar isso como moeda de troca.
Tia Marina havia me dito que ele vinha se recusando a fazer a maior parte das refeições. O que era sem sombra de dúvidas, extremamente prejudicial.Eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para vê-lo bem, sem medir esforços.
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Rise UP
RomansaUm amor que teve início na adolescência, pode ser destruído por um acidente e suas consequências? Imaturidade, traumas do passado, falta de confiança e preconceito, podem acabar com uma relação? Nessa história vamos descobrir como o autoconhecimento...