Inevitável

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Carolina

Sentada em meu balanço, com uma taça de vinho na mão e Nina Simone a me embalar, me pego mais uma vez pensando naqueles olhos azuis.
Por mais que eu tente preencher meu tempo e evite pensar nele, minha mente parece ter vontade própria.

E o fato de ter visto um vislumbre de vulnerabilidade naquele homem sempre tão firme e imponente, me tocou de uma forma assustadora.
O fato de termos nos desentendido por conta do incidente com o café, de certa forma, havia me blindado contra o inegável charme dele.
Porém, ao vê-lo tão perdido e sofrendo por conta da situação do irmão, mexeu comigo.

Fábio tem um ar de inatingível que me atiça. E confesso, que ao observar seu jeito brincalhão com Jane me sinto enternecer.
O que é um enorme erro!!!
Eu prometi a mim mesma que não me envolveria em outro relacionamento e principalmente, interracial.

O que vivi junto a Henry, bastou por essa vida!!!
Toda a dor e decepção, me deixaram precavida contra novas armadilhas...ou deveriam ter deixado.


Mas aparentemente, Fábio com seu charme tem o dom de se infiltrar em minha mente. E eu preciso dar um basta nisso, urgentemente!!!

Agora que finalmente consegui me reerguer, não posso me permitir fraquejar.
E o pior é que ele nem me nota. O que me faz sentir duplamente idiota!!!
Atração unilateral era só o que me faltava.

Levanto e despejo o restante de vinho na taça e me vejo relembrando minha história com Henry...

Flash back On

Em um dia chuvoso e pra dizer no mínimo, tumultuado, esbarrei com Henry na saída do departamento de Arquitetura e Urbanismo da NYU ( Universidade de Nova York), aonde tinha acabado de defender minha tese de pós-graduação. Meu argumento que afirmava que arquitetura e design de interiores se complementavam e vão além de detalhes e acabamentos de um espaço, mas a arquitetura do interior, e de tudo o que não é estritamente estrutural, havia sido elogiado pela banca examinadora.

Eu estava em êxtase com a minha apresentação e feliz por finalmente poder exercer minha paixão, agora, gabaritada pela NYU.
Tão contente e distraída, que dei um encontrão em uma parede de músculos sólidos e se não fosse a agilidade do seu dono, eu teria ido ao chão.
Mãos firmes e quentes me seguraram e quando fitei aqueles olhos castanhos me senti paralisar.

Me desculpei sem jeito, gaguejando diante daquele monumento e o sorriso aberto e caloroso que recebi em troca, fez meu coração disparar.
Ele se apresentou, me ajudou a recolher as folhas que haviam se espalhado e me convidou para um café.
Sem hesitar, aceitei.
Me deixei levar por um impulso e por algum tempo agradeci aos céus por isso.

Do café passamos aos jantares, cinemas e teatros. Passeios no Central Park de mãos dadas, saídas com os amigos e viagens curtas. O pedido de namoro foi oficializado em um jantar à luz de velas e ao som de violinos.
Eu me sentia vivendo um sonho e ele me fazia crer que era especial.

Depois de um ano juntos, me senti segura para apresentá-lo aos meus pais. E o medo de que o rejeitassem por conta de sua etnia, caiu por terra. Meus pais o adoraram, principalmente, meu pai.
Logo estávamos passeando todos juntos e fazendo planos.
Contudo, Henry ainda não havia me apresentado aos pais. No início, acreditei que realmente as circunstâncias não estavam favorecendo esse momento. As viagens de trabalho dele, meus projetos em outras cidades.

Mas depois me dei conta que Henry sempre arrumava desculpas e se esquivava.
Cansada de esperar, o interpelei e vi meu sonho se transformar em pesadelo.

" Amor, eu não sei como te dizer isso... Ahn... mas meus pais são conservadores..."
" Como assim conservadores, Henry? Não estou entendendo..." - procurei por seus olhos que fugiam dos meus.
" É que eu ainda não contei a eles sobre nós, Carol... estou esperando o momento propício..."
"Momento propício?!" - questionei alterada.
" Eu preciso prepará-los e..."
" Prepará-los para o que, Henry?! Seja mais claro, por favor!!!"

A essa altura eu já suspeitava do que se tratava, mas não queria crer fosse possível.
O silêncio constrangido dele me fez explodir:
" Prepará-los para o fato de eu ser negra, é isso Henry?!"
"Amor... Carol, eles ainda tem essa mentalidade tacanha, retrógrada e..."
" Mentalidade medíocre, isso sim!!! Eu não acredito que isso está acontecendo!!!"
" Carol..."
" O pior é que eu acreditei em você, te fiz parte da minha vida..."

" Mas eu não sou como eles!!! Eu te amo. Só preciso de tempo para..."
" Não, Henry. Acabou. "
" Caroline!!! Como assim?! Eu só não disse nada ainda, porque há uma cláusula no testamento do meu avô que me proíbe de..."
" Testamento?! Cláusula?! Vocês são inacreditáveis, Henry. "
"Amor, me deixa explicar..."
" Sai daqui!!! Para mim você morreu."

Me tranquei no quarto e só sai quando ouvi a porta de entrada bater, selando a morte de um sonho.

Flash back Of

Meus pais e Jane recolheram meus cacos e me ajudaram a passar pelos momentos mais difíceis.
Eu não sei o que teria sido de mim, sem o apoio e amor deles.
E mesmo com todas as tentativas de contato, pedidos de desculpas, me mantive irredutível.
Ele que ficasse com os pais ignorantes e o testamento do avô dele.

Contudo, meus pais que já não eram a favor de relacionamentos interraciais e me confidenciaram que só aceitaram minha relação com Henry, em vista da minha felicidade, passaram a ter ojeriza desse tipo de relação após ver meu sofrimento.

Imagine, se eu tentar repetir esse erro...
Não!!! Nem pensar!!!
Essa atração boba, assim como esse interesse por tudo o que se relaciona ao Fábio é por carência. Afinal, estou há muito tempo sozinha.
Eu só preciso focar minha atenção no trabalho, talvez aceitar alguns convites da Jane para sair e me distrair e, logo isso passa.

Imediatamente, a imagem dele me assomou à mente, fazendo meu coração acelerar.


Ai meu Deus!!! Me ajude

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Ai meu Deus!!! Me ajude...

Olá amoras e amorecos!!! Mais um capítulo escrito com todo carinho para vocês.
O que fariam se estivessem no lugar da nossa linda Carol? Me contem!
Votem, comentem e façam essa autora feliz!!!
Beijos de Luz.

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