Conseqüências

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Gian Carlo

Como um dos dias mais felizes das nossas vidas, se tornou um pesadelo?!
Desde o maldito momento em que atendi a ligação, em que um policial disse que meu filho tinha sofrido um acidente, a noite se tornou uma sucessão de horrores.

Ao chegar ao local, precisei amparar Marina que quase desmaiou ao ver o que restou do carro em que os meninos estavam.
A aglomeração de curiosos, carros das emissoras de TV sensacionalistas, os vários carros de polícia e ambulâncias com suas sirenes e luzes ligadas, tornavam o cenário aterrorizante.

Quando finalmente consegui, falar com um oficial e me identificar, fui orientado a seguir para o Hospital da Universidade de Michigan, pois eles tinham sido levados para lá. Questionei sobre a condição deles, mas o oficial apenas disse que não havia vítimas fatais.

Tentando manter o controle, insisti que Marina continuasse tentando localizar Fábio, enquanto dirigia o mais rápido possível
para o hospital.
Em meu desespero, tenho certeza, que ultrapassei os limites de velocidade permitidos. Mas saber dos meus meninos era muito mais importante, naquele momento.

Lá chegando, fomos direto à recepção do pronto-socorro, onde nos deparamos com os pais de Sam, tão aflitos e apreensivos quanto nós.

- Boa noite, Frank, Joan... alguma informação sobre eles?- interpelei angustiado.
- Boa noite, Gian.- ele respondeu desolado, enquanto Joan e Marina se abraçavam chorosas- Nada ainda.

- E o pai do Robert?
- As autoridades tentaram localizar o pai dele e eu também, mas ainda não conseguimos.
- Bem, só nos resta esperar e continuar tentando. Que eu saiba, o Dallinger está na cidade.
- Olá, Gian Carlo. - Joan finalmente se aproximou- Desculpe... Eu estou tão nervosa...
- Joan, vamos tentar manter a calma e a fé de que tudo não passará de um grande susto.- tentei consolá-la.
Marina permanecia amparando- a. E antes que qualquer uma das duas pudesse se manifestar, Fábio, Allie e Jane, irromperam afobados e claramente, desesperados.
- Pai, o que houve?! Como eles estão?!
- Já há alguma informação?!
- Eles estão bem?!
Todos falando ao mesmo tempo, apavorados.

- Pessoal, acalmem- se! - disse firme, conduzindo-os para os bancos na sala de espera- Nós acabamos de chegar e também não temos notícias ainda. Mas vamos nos manter tranquilos e...
- E orar, pedindo a Deus pelo melhor.- completou Vovó Célie se aproximando.
- Vovó... - Allie se jogou nos braços da avó em um choro convulsivo.
- Alicia, acalme- se. Precisamos nos unir agora e sermos fortes, meu bem.- disse firme, fazendo -a sentar-se.
- Eu vou buscar café para vocês.- Fábio disse, levantando-se de supetão.
Percebi que estava fazendo um esforço sobrehumano para conter o choro e manter sob controle suas emoções.
- Eu vou com você.- afirmei, acompanhando-o

Permanecemos em um silêncio tenso até chegarmos à lanchonete. Pedi os cafés e enquanto esperávamos, nós nos sentamos e ele finalmente, explodiu.
- Pai... é... minha culpa! Se eu... tivesse... ido com eles...- o choro tornava sua fala truncada.
- Filho... Fábio! Me escute...- segurei suas mãos trêmulas por sobre a mesa, fazendo com que me encarasse- Ninguém tem culpa! Foi um acidente. Por favor filho, acalme- se, os meninos precisam da nossa força, ok? Sua mãe precisa de você... Eu preciso...- parei ao sentir minha voz embargar.
- Ok... Eu... desculpe.
- Não se desculpe, é natural sentir medo. Nós não sabemos qual a situação.- respirei fundo e auri forças para acalentá-lo- Só não se culpe por algo que não dependia de você. Nós estamos juntos e vamos passar por isso, unidos, nos ajudando como sempre fizemos. Certo?
- Certo. - assentiu- Pai...
- Sim?- respondi, me levantando para pegar nosso pedido, pois a senha tinha sido chamada.
- Eu te amo.- disse simplesmente.
Dei a volta na mesa e o abracei fortemente.
- Meu garoto... Eu também te amo muito.
Pegamos o pedido e voltamos para a sala de espera, mais unidos do que nunca.

Cerca de uma hora e meia, de pura aflição, tres médicos retirando seus aventais se aproximaram.
Ansiosos, nós nos levantamos, mas permanecemos em uma expectativa silenciosa.
- Familiares de Robert Dallinger, Samuel Peters e Lucca Landucci?
- Sim, somos nós.- Frank respondeu por todos.
- Eu sou o dr° Anders, esses são o dr° Hill e o dr° Benson, somos os responsáveis pelo atendimento dos três.- disse o mais velho calmamente, apresentando os colegas que apenas nos cumprimentaram com meneios de cabeça.
- Como eles estão?!- afoita Joan o interpelou.
- Bem, o carro dos rapazes foi abalroado por um caminhão que invadiu a pista em que estavam. Por reflexo e instintivamente o motorista tentou desviar, com isso o lado do passageiro foi o mais afetado...
- Certo. E...? - Fábio impaciente o interrompeu.
- O senhor Robert Dallinger, o motorista, sofreu escoriações no rosto por conta do Airbag e fraturou duas costelas.- continuou ignorando a interrupção- Tivemos que sedá-lo por conta do nervosismo e preocupação com os amigos. O senhor Samuel Peters, teve uma concussão e contusões no tórax, por sorte estava usando o cinto de segurança, cuidamos do seu estado de embriaguez também...
- Eles estavam bêbados?!- pela primeira vez, Marina se manifestou.
- O senhor Peters apresentava alto teor alcoólico no sangue, os demais não.- esclareceu paciente.
- E quanto ao Lucca?- questionei.

Estranhamente, os médicos se entreolharam e o dr° Hill que tinha permanecido calado, assumiu a fala.
- Conforme o dr° Anders disse, o lado do passageiro foi o mais afetado pelo impacto. Sendo assim, o senhor Landucci sofreu múltiplas fraturas, um deslocamento na bacia e o que mais nos preocupa no momento, um edema na medula.
- Edema na medula?! - repeti sentindo as garras do medo agarrarem meu coração e estraçalhá-lo impiedosamente.
- Sim, é um inchaço que comprime as vértebras e pode causar paralisia...
- Meu irmão está paraplégico?!
- Não podemos afirmar. Esse inchaço pode causar paralisia, que pode ser reversível ou não. Essas primeiras quarenta e oito horas são decisivas no quadro dele. Após esse período, o inchaço cederá com as medicações e nós poderemos avaliar o estado dele com mais precisão, para finalmente darmos um diagnóstico. É traçarmos um plano de recuperação.- fez uma breve pausa- No momento, induzimos o coma para que o corpo dele possa se recuperar sem o estresse causado pela dor.
- Nós podemos vê-lo? - Allie perguntou em um sussurro desesperado.
- Ele está na UTI, entubado. Não pode receber visitas.- afirmou taxativo.

- E os demais, podemos vê-los? Há previsão de alta?- Jane prática questionou.
- Tanto o senhor Peters quanto o senhor Dallinger, estão sedados e estáveis. Se não ocorrer nenhuma intercorrência, possivelmente , receberão alta depois de amanhã. Achamos prudente, observá-los por um dia pelo menos. Aconselho que vão para casa e tentem descansar, eles só acordarão amanhã no final da tarde. E quanto ao senhor Landucci, não há uma previsão.

Um silêncio sepulcral se fez após as últimas palavras dele. Eu não sabia o que pensar ou dizer...
- Obrigada. Mas nós vamos permanecer aqui.- Marina finalmente disse sem se dirigir especificamente a nenhum dos médicos.
- Muito bem, qualquer alteração ou novidade no quadro de um dos três, nós informaremos. E qualquer dúvida, é só pedir na recepção que nos localizem.- dr° Anders reassumiu o comando- Eles irão superar essa adversidade. Até mais tarde.
Apenas assentimos em silêncio, observando-os se afastar.

Abracei Marina que chorava silenciosamente e Fábio se uniu ao abraço sofrido.
Elevei meu pensamento a Deus e implorei que cuidasse do meu menino.
Finalmente, permiti que as lágrimas caíssem livremente.
Que Deus misericordioso se apiedasse do meu filho.

Rise UPOnde histórias criam vida. Descubra agora