— É estranho.— O quê? — Marcela pergunta com os olhos fixos na estrada.
— Isso. Eu no mesmo ambiente que você, por vontade própria — penso em voz alta — Nunca achei que meu ódio por você fosse diminuir.
— Acho que nunca vou me acostumar com sua sinceridade — ela diz e eu dou de ombros.
— Para onde você está me levando? Posso até te odiar um pouco menos, mas isso não significa que eu confie em você.
Ela não responde, apenas continua dirigindo e eu suspiro de tédio. Faz uma semana desde que tranquei a faculdade e para ser sincera essa semana só me fez perceber que eu fiz a coisa certa. Tudo bem que não tenho feito nada de útil na minha vida, mas eu pretendo começar na semana que vem.
Tenho algum dinheiro guardado dos quadros que vendi e pretendo juntar mais. Pretendo voltar a pintar e a vender os quadros. Exceto o quadro de Elijah. Sim, eu não pretendo vendê-lo, ainda não me vejo desapegando dele e eu me odeio por isso. Mas para o meu consolo acho que eu tenho o direito de ter algo que me lembre dele.
É a última coisa que vejo antes de dormir e a primeira que vejo ao acordar pois se encontra em frente a minha cama. Eu sei que é um pouco idiota da minha parte mas isso não fará com que eu o tire de lá. Marcela não fez nenhum comentário sobre, atitude bastante inteligente dela pois se o fizesse isso geraria uma briga entre nós e acabaria completamente com o ambiente de paz em que estamos vivendo.
Claro que nossa relação não é a melhor de todas mas comparando a semanas atrás, melhorou bastante. Eu ainda discordo de algumas coisas que ela faz e ela discorda de coisas que eu faço mas tirando isso, está tudo bem.
Faz exatamente uma semana que não ouço falar de Heitor. E nem quis tocar no assunto com Marcela e nem ela comigo. Falar de Heitor é um gatilho para mim, pois eu não consigo entender como é que um pai pode agir do jeito que ele agia comigo, com uma filha.
Tive três pesadelos envolvendo ele ao longo da semana. E toda vez eu acordava e trancava a porta do quarto pois eu ainda temo que ele possa entrar no meu quarto, como fazia quando eu era criança, e fazer o que ele nunca conseguiu fazer. É deprimente ter esse tipo de pensamento, mas eu não consigo evitar, por vezes sou obrigada a tomar remédios para dormir porque a insónia me atormenta.
Tenho crises de pânico frequentemente mas ninguém, além de Sebastian, sabe disso. Eu prefiro que Marcela não saiba por enquanto. Não quero que tente me levar a um psicólogo mesmo que eu saiba que preciso de terapia mas não me permito admitir isso em voz alta.
Não me permito admitir que Heitor causou tantos danos em mim. Ele não merece ter esse gostinho e eu não darei isso a ele.
Noto o rumo que estamos tomando e encaro Marcela esperando que ela não esteja me levando para onde eu acho que está. Porque se for, qualquer tipo de amizade que tenhamos criado vai terminar agora. Mas para o meu desgosto ela para o carro.
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Mais Feliz Do Que Nunca!
Teen FictionDois adolescentes problemáticos. Dois adolescentes tóxicos, cegos pelo orgulho. Uma mistura perigosa de fogo e petróleo que a qualquer momento poderia entrar em combustão, mas acima de tudo, duas almas quebradas que podem escolher entre unir uma a o...