Os Wolf

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My Fairy Tale

Os Wolf

No dia seguinte...

Acordei com um som vindo da sala. Michael já havia levantado e dedilhava algo no piano, viver com ele era assim, a qualquer instante ele poderia sumir, porque uma canção ou uma melodia começava a se criar em sua mente...

Levantei devagar, ainda sentindo no corpo o peso do fuso horário, mas com o coração leve, pelos acontecimentos da noite anterior, Michael sempre me dizia "você precisa estar ao meu lado, para poder entender" e assim é, só quem convive com ele, é capaz de entender a natureza do que ele faz, a essência de quem realmente é o Michael...

As crianças ainda dormiam. O hotel estava calmo, mas sabíamos que lá fora nos esperava mais um turbilhão de flashes e especulações. Respirei fundo. Não importava...

Fui até a sala e me sentei no sofá, observando Michael tocar. Ele nem percebeu minha presença de imediato. Só quando terminei de prender o cabelo e limpei a garganta de leve, ele virou com um sorriso...

(***)

- bom dia, meu anjo... dormiu bem...?

- muito. Acho que estou me acostumando com o fuso horário, seus carinhos também ajudaram bastante...

Ele riu, parou de tocar e veio até mim. Sentou ao meu lado, me puxou pelas mãos e ficamos assim por alguns segundos, só nos olhando, as vezes não precisamos falar para nos comunicarmos...

Até que ele quebrou o silêncio...

(***)

- hoje faremos a visita a família Wolf - ele lembrou, com uma voz suave...

- sim... quero muito ajudar de alguma forma...

- eles perderam tudo com os alagamentos... mas mantêm uma força tão bonita - ele diz, tocando meu rosto com delicadeza. - vai fazer bem pra eles te conhecerem também. Sua presença acolhe, Ju...

Senti um nó na garganta. Sempre que ele me olha desse jeito, com essa ternura sem defesas, eu me lembro do quanto ele precisa disso, de calor humano de verdade, sem contratos, sem câmera, sem máscaras...

Algum tempo depois, nos arrumamos juntos. Michael optou por algo simples, confortável, nada extravagante, ou seja, calça preta, camisa vermelha. Eu também - uma blusa de lã clara, calça jeans e um casaco neutro. Quero ser acessível, real...

Enquanto os seguranças preparavam a saída, olhei pela janela e vi que os fãs ainda estavam lá. Alguns com cartazes, outros apenas observando, esperando por um aceno, um momento. Michael se juntou a mim...

Antes de sairmos, ele segurou minha mão e disse baixinho...

(***)

- vamos levar um pouco de luz pra eles hoje...?

Apertei sua mão de volta e sorri...

- vamos, meu amor. Luz é o que você mais sabe dar...

Ao que ele me respondeu com um meio sorriso tímido...

Vamos em um carro menor, sem alarde, com dois seguranças discretos nos acompanhando. O endereço nos levou a uma região mais afastada do centro de Berlim, onde o rastro da enchente ainda era visível. Casas parcialmente destruídas, ruas de terra ainda úmidas, e aquele silêncio típico de quem está recomeçando - meio resignado, meio esperançoso...

A casa da família Wolf havia sido reconstruída às pressas por uma organização local, com ajuda de doações. Era simples, mas acolhedora. Uma lona cobria parte do telhado, e o cheiro de madeira úmida ainda pairava no ar. Um senhor nos recebeu no portão com os olhos marejados...

(***)

- é uma honra... não sei nem como agradecer por virem - disse ele, com um forte sotaque alemão e um sorriso gentil...

Michael o abraçou, sem cerimônia, com aquele jeito que desarma qualquer um...

-a honra é nossa. Só queremos trazer um pouco de alegria...

Entramos. A esposa dele, Magda, estava com uma bandeja de pães caseiros. Uma das filha, acho que a mais nova, que devia ter uns seis anos, nos olhava com uma timidez encantadora, me lembra o Mike. E a outra filha, segurava um caderno de desenhos, pela capa rasgada, imagino que seja uma das doações. Meus olhos marejaram...

Sentei ao lado da menina e comecei a conversar com ela em inglês, devagar, com palavras simples. Ela entendeu algumas, sorriu, apontou para um desenho que fez de um pássaro com as asas abertas...

- happiness - ela disse. E meu coração se apertou...

Michael se conectou imediatamente com as garotas. Sentou ao lado delas no chão, pediu para ver os desenhos. Os olhos delas brilharam. Mostraram todos, um por um. Michael elogiava cada traço, como se estivesse diante da mais linda obra de arte, o que para ele, realmente era...

Depois, cantou baixinho a melodia de uma música, a mesma que ele tocava pela manhã, só que agora tem letra, enquanto as meninas batiam palmas tentando acompanhar o ritmo. Magda chorava em silêncio, e eu a abracei, sem dizer nada. Era um daqueles momentos em que o amor falava mais alto do que qualquer língua...

Antes de irmos, deixamos alguns brinquedos, mantimentos e roupas, além de um envelope com uma ajuda financeira. Michael fez questão de entregar pessoalmente. Ele sempre prefere dar na mão, olhar nos olhos...

Na saída, o senhor Wolf nos segurou pelos braços e disse, com a voz embargada...

(***)

- o que vocês trouxeram aqui hoje não cabe em caixas. Foi calor humano... e esperança...

As meninas vieram correndo, com um prato de porcelana nas mãos, uma lembrança da sua cidade Meissen, com uma inscrição, "Obrigado por estar, Saskia & Sabrina"...

- espero todos vocês em Neverland, para as férias de verão - Michael diz, convidando toda a família, para uma visita no ano que vem...

No carro de volta, ficamos em silêncio por um bom tempo. Michael segurava minha mão, olhando pela janela...

(***)

- Às vezes acho que esses momentos são os únicos em que tudo faz sentido - ele sussurrou...

- esses momentos mostram quem você é, Mike - respondi. - e quem eu quero continuar sendo ao seu lado...

Ele me olhou com tanto amor e sorriu. E então, com a voz suave, disse...

- meu anjo, se eu tivesse que escolher entre todos os palcos do mundo... ou essa tarde, com você, nessa casa... eu escolheria essa tarde...

Eu apenas o abracei forte...

- e a música amor, que musica incrível! Como se chama...? - digo para quebrar o clima triste que teimava em pairar sobre nós...

- se chama "A Place With No Name", ainda estou trabalhando nela, para a coletania ou talvez para um disco novo de ineditas, ainda não sei...

_ eu adorei...

- voce é suspeita... - ele fala rindo...

 - ele fala rindo

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(...x...)

Continua...

My Fairy Tale (Editando)Onde histórias criam vida. Descubra agora