O destino de Kiara. - III Borelli.

1 • Caos

O mundo está um caos. As pessoas já não são as mesmas e o futuro soa cada vez mais distante, frio e vazio, perdido em algum momento do tempo. O mau permanece presente, sondando a vida dos inocentes e carregando consigo segredos cruéis e obscuros. Segredos que as pessoas matam para possuir. Embora a guerra tenha chegado ao fim, mortes continuam a surgir ao redor da família Borelli. Seus inimigos se tornaram mais ousados e obstinados, causando-lhes destruição. Após décadas, o passado distante da família Martín permanece vivo no presente. Rico Borelli sabe perfeitamente que já não é capaz de evitar o inevitável; que já não importa seus motivos para manter suas imperdoáveis escolhas debaixo do tapete.

Após duas décadas e tantas mortes, finalmente o acerto de contas chegou, e a conta parece cara demais para ser paga apenas com uma vida. Andras Cartellieri chegou, e com ele, a sede de vingança. Uma sede que não se saciará com pouco.

Por anos agiu nas sombras, causando o caos, atiçando seus inimigos, cruelmente obtendo o poder, arrancando a influência das mãos de seus inimigos. As pessoas passaram a temê-lo. Mantém distância e respeitam sua presença, ainda mais sua ausência. Porque não importa muito aonde se está, independente de tudo, Andras Cartellieri não pode ser subestimado.

A chuva cai intensamente, cobrindo as ruas, trazendo consigo o ar gélido e clima frio de novembro. É um dia calmo e comum, ninguém jamais esquecerá o que aconteceu quando Cartellieri encontrou com o responsável pela queda brusca de um dos seus melhores aliados. Os carros blindados chegam em fileira em frente a mansão de Gutierrez, que é cercada por seguranças fortemente armados. Cautelosamente sai de um dos carros, abotoando o terno preto, instantaneamente analisando o lugar. Um sorriso sorrateiro estende-se em seus lábios. Abomina o homem que irá encontrar. O homem que irá matar. A obscuridade em seus olhos causam tremores nos homens ao redor, que não ousam manter contato visual.

Em seguida, Gianluca, seu conselheiro, surge com Kiara ao lado. Não é um bom momento para tê-la ao lado, mas não pode arriscar mantê-la longe quando - a qualquer momento - sua família pode vir buscá-la. Embora esse seja seu desejo e faça parte dos seus planos, espera que demore um pouco mais. Planejou muitos outros planos para ela e não quer enfrentar nenhum contratempo.

— Cartellieri, amigo meu! Você finalmente aceitou o meu convite e veio me visitar. — o homem que lhe cumprimenta e o recebe na escadaria, trata-se de mais uma escória da sociedade. Um ministro de justiça corrupto que usa as lei e a justiça a favor de si mesmo. Gutierrez estende-lhe a mão, mas Andras ignora tal ação, notavelmente enojado. Desconfortável, dirige a atenção a Gian Lucca e Kiara. — Gian Lucca, é um prazer ter você aqui. Já faz um tempo desde a última vez. E você é...?

Kiara soa intimidada com a atenção sobre si. Se passaram muitas semanas desde que deixou a Itália e foi embora com Andras. Sua família não aceitou sua saída e não a procurou, o que resultou em noites de desespero e solidão. Fora forçada a testemunhar cada morte causada por Andras. Já não sabe exatamente o que esperar dele, toda a crueldade sendo brutalmente dirigida aos seus inimigos causa-lhe medo e receio. Está ciente de que seu pai é o alvo final.

— Quem ela é não importa. A presença dela aqui é insignificante. — Andras responde ao colocar as mãos nos bolsos da calça. Torna a encarar Gutierrez. Seus olhos carregam uma escuridão profunda e temível, que despertava o pavor nas pessoas. Os olhos tão escuros que nem a claridade do sol é era capaz de ilumina-los. — Vamos direto ao assunto.

Gutierrez soa desconfiado de tal resposta, mas não contesta. Conhece Andras o suficiente para saber que não gosta de conversar sobre assuntos banais. É sempre direto. Evita conversas longas.

Gutierrez afasta-se para o lado, dando passagem para que passem, sinalizando - com a mão direita - a entrada da casa.

— Vamos entrar. Minha esposa preparou um jantar maravilhoso. Ela é muito boa na cozinha.