36 • Mudanças de planos

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— Kiara, abaixe essa arma! — Rico grunhiu entre dentes. Negou, engatilhando a arma e arriscando passos para perto. Andras se virou, e naturalmente sorriu ao vê-la.

— Se não for ele, será você. — engoliu em seco ao ver a calmaria vindo dele. — Surpreso?

Andras enfiou as mãos nos bolsos da calça, relaxando os ombros. Admirava a obstinação da Kiara e não podia deixar de se sentir curioso para ver até onde ela era capaz de ir em nome do amor a família.

Embora se encontrasse decepcionado, não se surpreendeu com tal atitude. Havia esperado por esse momento. Só que, o que ele não percebeu, era que - pela primeira vez - Kiara não estava escolhendo sua família. Ao fazer aquilo, ela estava o escolhendo. Iria libertar a criança que sua família há muito tempo aprisionou. Ela sabia que se Andras desse continuidade aos seus planos, não só ele, mas como todos, acabariam mortos.

— Surpreso. Mas não chocado. Eu aprecio a lealdade. E agora, está sendo leal a sua promessa. Você é como o seu pai, não faz promessas que não vai cumprir. — proferiu. Ao se aproximar dela, encostou o cano da arma em seu peito. Os olhos transmitiam uma escuridão que nenhuma luz do universo seria capaz de iluminar. — Disse que me mataria, e aqui está você, apontando uma arma para mim. Atire, pois não vou implorar pela minha vida, e nem tentar me redimir pelos meus pecados.

Através das suas palavras e dos olhos tristes, notou que havia aceitado seu destino. Ele queria morrer. Queria que ela o matasse. Para Andras, só existia uma forma de morrer sem parar de respirar, porque quanto maior a altura maior a queda e ninguém é capaz de nos ferir tanto quanto alguém que a gente ama. Se ela puxasse o gatilho, seria o fim.

Ao se dar conta de que Andras Cartellieri havia decaído a tal ponto em que mais uma vez desistia da própria vida por Kiara, fez o que tinha que fazer para colocar um ponto final nessa relação mal fadada que não teria um futuro diferente do inevitável. Imperceptivelmente se aproximou por trás de Kiara, e agilmente encostou o cano da sniper na sua cabeça. Sua atitude ousada não despertou desconfiança, pois o fato de ser uma grande aliada de Andras, fez parecer que sua ação era para ajudá-lo. Mas Andras sabia que não. Ele havia plantado uma armadilha e ela havia caído de forma mais patética possível. Quase bateu palmas pra si mesmo por não ter confiado nela, nem por um segundo.

— Jogue a arma no mar. — ordenou num tom duro. Friamente encarou Andras, que a fitava de volta em um misto de raiva e divertimento. — Você também.

Curvou os lábios num sorriso maroto.

— Está com ele?

Com a cabeça gesticulou para que um dos homens tirasse a arma das mãos de Andras. Naquele momento, percebeu que a maioria dos homens presentes, não eram seus homens e nem os de Rico, mas sim policiais disfarçados.

O sorriso se estendeu ainda mais ao confirmar suas dúvidas. Teria sido pego desprevenido se não fosse o tipo de pessoa que não confia em ninguém. O fato de se manter desconfiado de tudo e todos o dava certa vantagem.

— Você não está surpreso. — Alexia analisou.

— Quem trai uma vez, trai uma segunda vez. — respondeu calmamente. Discretamente trocou um olhar furtivo com Rico e Kênia. — Sabe o que mais me decepciona em você? Não é o fato de ter me traído pela segunda vez. É o fato de ter se rebaixado por causa de sentimentos inúteis.

— Se não tivesse vindo a Itália, eu não teria que ter sido a vilã. Você e o Borelli vem comigo. Mande os seus homens baixarem as armas.

— Está cometendo um grande erro! — Rico a alertou enquanto se comunicava - através do olhar - com Andras. — Vou te dar uma chance de desistir. Se fizer isso, pouparei sua vida.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora