40 • O fim de Rico Borelli

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Uma única peça pode colocar o fim a um jogo?

Se for mal movimentada, pode causar até um xeque-mate.

Embora tivessem tentado ir contra o destino cruel, não deu pra evitar o fim drástico e a queda da dinastia Borelli. Foram vencidos pelo sinal do relógio que não parou para ajudá-los a ganhar tempo. Entre a conversa tensa entre Derian, Asya e Kiara, foram surpreendidos com a chegada de Heron e Kênia, que soavam abalados e extremamente atônitos. Através das expressões abatidas descobriram o que havia acontecido. Rico Borelli havia desaparecido em uma misteriosa emboscada, onde o carro em que estava, fora destruído por uma explosão. A notícia percorreu o mundo como uma praga, chocando à todos os envolvidos. Encontraram-se sem chão, sem noção do que fazer a seguir. O impenetrável castelo fora quebrado em milhares de pedaços. O muro que os protegia da queda, desmoronou com eles.

Por algumas horas não souberam exatamente como reagir a isso. Soou irreal demais para simplesmente aceitarem. Não foram capazes de aceitar a morte de Rico Borelli.

Foi como se tudo tivesse perdido o sentido.

Heron usou de todos os meios para encontrar o corpo do pai, ordenando aos seus homens que varressem o país em busca de vestígios. De qualquer evidência que lhes provasse com certeza de que tudo não passava de um pesadelo. Mas quanto mais cavavam, quanto mais se aproximavam da óbvia verdade, mais a realidade os chicoteava. 

E então, eles sofreram o luto. Não deu pra sustentar a farsa de família inabalável quando tudo o que conseguiram fazer foi lamentar um luto que os atingiu nos pontos mais fortes.

— Eu perdi meu marido! Perdi o pai dos meus filhos! — Kênia gritou num desabafo após se recusar a fazer um velório à Rico. — Enquanto não encontramos o corpo, sempre haverá uma chance dele estar vivo! Entende o quanto isso é cruel? Eu preciso ver o corpo para poder acreditar!

— Kênia...

Ela chorou. Em um soluço colocou tudo para fora, desmoronando ainda mais. Não teve forças para sustentar o próprio corpo, caindo no chão.

— Se ele estiver vivo... ele voltará pra nós. Ele é o Rico Borelli. Você sabe tão bem quanto eu que ele é arrogante demais pra aceitar o próprio fim. Uma explosão? Não é uma morte digna pra ele.

— A garota... use-a. — a sugestão cruel veio de Derian, que ao ver o estado decadente da mãe, teve o coração despedaçado. Havia uma chance de por um fim aquela angústia, só tinha que ser egoísta mais uma vez, só precisava abrir mão da razão da sua paz. Por amor a sua família, novamente, deixaria escapar um futuro diferente do sombrio que lhe aguardava.

Kiara soltou uma risada dura. Os olhos inchados e vermelhos, denunciando as últimas horas. Não havia restado vestígios de luz, a escuridão ocupou espaço em seu interior.

— Usá-la? Para quê? Vingança? Ele morreu para que pudéssemos viver e agora querem cometer o mesmo erro? A morte dele terá sido em vão!

Inesperadamente, Kênia concordou. Pensando sobre as decisões tomadas na hora da raiva e nos momentos de medo e angústia, repensou sobre suas escolhas. Seus pais cometeram atrocidades pela ganância, e vinham pagando esse preço com a vida das pessoas que amavam. Como a matriarca da família, era sua responsabilidade lidar com as rachaduras antes que fosse tarde demais para rebocar.

— Vamos embora daqui. — decidiu por fim. Heron separou os lábios na menção de rebater, mas Kênia estava exausta demais para continuar discutindo. Ergueu a mão para que lhe ajudassem a levantar. — Sua família está te esperando na Itália.

— Não podemos voltar. O governo está nos acusando de terrorismo!

— Eles estão acusando seu pai. E seu pai... está morto.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora