2 • O que somos?

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Asya sentia-se presa entre a cruz e a espada. Encarando aquela mansão gigante que ocultava tantos segredos sombrios, hesitou em prosseguir com seus planos. A liberdade e a resposta que buscava dependia da sua coragem em continuar. Com todas as informações que possuía, teve medo de não conseguir, principalmente por trazer consigo pessoas inocentes.

O grupo de amigos que lhe acompanhavam naquele "documentário" estavam animados e entusiasmados. Os dois câmeras sorriam ao olhar para todos os lados. Foram recebidos por Nana, que educadamente os guiou a sala principal, onde pediu para que esperassem por Rico Borelli.

— Esse lugar é incrível... — Jonah comentou num murmuro, deslumbrado com a decoração.

— Por quantos anos tenho que trabalhar pra ter um lugar assim? — Matteo perguntou à Asya, que sorriu.

— Talvez algumas vidas. — balbuciou, risonha.

— Fico imaginando o que é preciso para viver dessa forma... Como alguém se torna tão rico? É sorte? — Matteo tornou a perguntar, tão vislumbrado quanto Jonah. Asya sorriu ao pegar a câmera e verificar a configuração, ligando-a e iniciando uma gravação.

— Não podemos perder nada. Vocês tem que filmar até o que acham insignificante. — avisou, ao selar os lábios, sons de vozes preencheram o cômodo. Asya e seus dois amigos foram pegos desprevinidos com a entrada inesperada de uma criança, que caíu de joelhos ao entrar na sala.

— Ele está andando! Veja. Ele deu os primeiros passos e foi para mim! — Derian gabou-se. Bateu palmas antes de pegar Angelus no colo e o girar no ar. O beijou na cabeça. — Sou seu tio preferido, não sou?

Anelise o pegou, empurrando Derian para o lado. Enciumada, o abraçou fortemente.

— Eu sou a tia preferida dele!

— Kiara não vai gostar se ouvir isso. — Nana comentou ao entrar no cômodo. Trazia consigo uma mamadeira com leite.

— Não cite o nome dela em voz alta. Você sabe que o Heron ainda está chateado. — Ane aconselhou, olhando para a entrada, certificando-se de que o sobrinho não estava por perto. Respirou em alivio. Pegou a mamadeira de Nana e levou a boca de Angelus. — É melhor evirtamos brigas por enquanto. O clima está tenso por aqui, não vamos piorar.

— Esquecer que ela existe não vai evitar brigas, só vai fazer com que a gente se acostume com a ausência dela. — Derian replicou, lembrando-se dos momentos difíceis que teve com a irmã. Não tinham uma relação harmoniosa, mas a amava apesar das controversas e diferenças. — Já faz meses que não temos notícias dela. E se ela estiver morta?

— Fazemos o funeral. — respondeu Heron, surgindo pela porta. — Ela quis ir. É o destino dela.

Asya coçou a garganta, forçando uma tosse, atraindo a atenção da família Borelli. Em uníssono a olharam, tão surpresos quanto ela, se encararam. Rapidamente foi reconhecida.

— O que faz aqui? — Derian questionou ao rumar ao centro da sala. Examinou seus amigos e as câmeras em suas mãos. — Quem deixou vocês entrarem?

Desconcertada pela recepção "calorosa", trocou olhares atentos com seus companheiros, o trio comunicou-se mentalmente em busca de uma resposta rápida que não causasse tanto alvoroço. Como sempre, Asya ficou responsável por explicar a situação. Devolveu a câmera à Matteo, levantou do sofá enquanto passava as mãos pela calça, tirando o excesso de suor por conta do nervosismo.

— Temos... uma reunião com Enrico Borelli...

— Ele não está. — Heron respondeu, examinando-a minuciosamente. Reparou nas duas câmeras. Não lembrava-se tão claramente dela, diferente de Derian, que não poderia esquecê-la. — Podem falar comigo.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora