The end

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6 meses depois

Andras Cartelliei decolou no primeiro avião com destino à Itália ao receber uma ligação de Rico Borelli, informando o nascimento do seu filho. O mesmo havia estado ausente nos últimos dias resolvendo umas últimas pendências, certificando-se que nada mais colocaria a vida de Kiara em risco. A pedido da família Borelli, deixou que permanecesse na Itália, pelo menos no período da gravidez. Andras sabia que Kiara precisava estar segura, e principalmente, precisava de estabilidade e de pessoas ao seu redor. Se a levasse para a Suíça, estaria sozinha com Gilca, pois não podia prometer estar ao seu lado todos os dias. A vida que levavam tornava as chances de dias calmao quase que um sonho distante.

Durante o voo, entrou em contato com a irmã, Asya, a contando sobre a novidade. Embora desconfiasse de que já não era uma novidade. Tinha a enorme sensação de que Derian Borelli já havia lhe contato todos os detalhes.

Eu sinto muito. Mas... não tenho nada haver com aquelas pessoas.

Asya respondeu ao ser perguntada se gostaria que Andras a buscasse na Colômbia para que pudesse conhecer o mais recente membro da sua pequena e desajeita família. A mesma estava seguindo com sua vida, retornou a faculdade, ao cotidiano e aos velhos amigos. Parecia estar se saindo bem e superando as dificuldades vividas nos últimos anos. Por essa razão, decidiu manter distância do mundo sombrio de Andras. Ela podia vê-lo com seu irmão e sua única família, mas jamais seria capaz de enxergar Kiara, ou qualquer outra pessoa ligada aos Borelli, como parte dessa família. Diferente dele, que havia deixado as desavenças de lado pelo bem estar de Kiara, Asya não fora tão madura. Nem mesmo Derian fora capaz de mudar sua opinião. Para Asya, eles sempre significariam a perda da mãe. E estava tudo bem pensar dessa forma. Talvez, se não possuísse uma condição rara que o impedisse de diferenciar as emoções, também agiria da mesma maneira.

— Quando estivermos na Suíça, venha nos visitar. — Andras insistiu mais uma vez. A mesma suspirou do outro lado da linha.

— Ouvi dizer que ela nasceu com os olhos cinzas.

Naturalmente Andras sorriu, lembrando da imagem que Rico lhe mandou. A criança mal tinha aberto os olhos e fora atacada por câmeras.

— São os olhos da nossa mãe. Olhos cinzas como a lua.

Um breve silêncio marcou presença. Ambos temiam o que aquilo poderia significar.

— Andras...— notou o tom mais baixo, aparentemente relutante. — Você será um bom pai. Sei que não cometerá o mesmos erros dos nossos pais.

— Por que está dizendo isso?

Porque Asya sabia que ninguém mais diria. E que ele precisava ouvir isso para sempre pensar duas vezes antes de se isolar e manter distância das pessoas.

— E se ela for como eu? — perguntou de volta, prendendo a respiração ao sentir um aperto no peito. Seu primeiro pensamento quando Kiara lhe contou que estava grávida, fora esse: e se a criança herdasse sua doença? Poderia enlouquecer como Lua? — E se ela não tiver herdado apenas os olhos dela?

Ouviu a risada baixa da irmã soar como uma música clássica, acalentando o caos dentro de si. Andras estava confuso porque não sabia distinguir ao certo o que cada sentimento significava. Não sabia se estava com medo, preocupado, ou apenas confuso. Sua única certeza naquele momento era: não podia perdê-las.

— Vocês não ficaram assim porque nasceram com essa doença. Vocês ficaram assim porque pessoas más usaram isso contra vocês. Então... apenas se certifique que ninguém fará isso com ela.

Não pôde prometer a ela que faria o possível e o impossível para que esse pesadelo não se tornasse realidade. Mas prometeu a si mesmo não permitir que tais sentimentos o dominasse. Encerrou a ligação após Asya lhe contar sobre como vinha aproveitando a liberdade. Derian lhe visitava de vez em quando, passavam alguns dias juntos e depois partia e voltava para a família. Se teriam um futuro, não afirmou com certeza, mas estava convicta de que encontrariam o caminho certo em algum momento.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora