48 • Tóquio

542 55 3
                                    

No topo de um dos edifícios mais alto de Tóquio, Andras Cartellieri reencontrou um homem que preferia ter evitado esbarrar. Alguém que lhe ensinou uma regra simples, uma regra que - ironicamente - o levou diretamente até ele. Ao seu lado, Vicenzo o acompanhava com sua postura ereta e o semblante fechado. Ambos se direcionaram a única mesa no amplo espaço vazio e silencioso.

Reece estava sentado em frente a mesa ao lado das enormes vidraças, observando a cidade de Tóquio e a magia das incontáveis luzes espalhadas por cada centímetro. Andras sentou a sua frente, enquanto Vicenzo permaneceu em pé, atento aos imprevistos.

— O que está fazendo no fim do mundo?

Reece direcionou o olhar a ele, passando a analisá-lo minuciosamente. A sua frente estava um dos seus melhores alunos, um dos únicos que se orgulhava e se arrependia por ter incentivado a voar sobre um mundo tão sombrio.

— Recrutando jovens com futuros promissores, já que os meus melhores alunos me abandonaram pelos Borelli. Já é a segunda vez que perco alguém importante pra eles. Se uma terceira vez acontecer, tornarei pessoal. — brinca, mas é o único a rir. Reece rapidamente percebe o distanciamento e indiferença de Andras. Embora Cartellieri nunca tenha expressado suas emoções, não significava que Reece não poderia reconhecê-las. — Semana passada fiz negócios com os americanos e ouvi um boato estranho. Disseram que você passou o controle de tudo para a filha de Rico Borelli.

Andras o olhou diretamente nos olhos, passando a confiança nas suas próximas palavras.

— Não é um boato. É verdade.

Reece riu, desacreditado. Se negava a acreditar em tal absurdo.

— Você está morrendo? Deve haver um motivo para abrir mão de tudo que construiu para eles. Para as pessoas que te tiraram tudo. — disse. Reece sabia que tinha algo maior por trás das suas decisões. Andras era um homem racional e jamais abriria mão do que lutou arduamente para construir. Ravena poderia ter sido sua falha, mas Andras, o homem a sua frente, jamais seria. — Eu te treinei pra ser o melhor! Você é como eu. Eu conheço você. Se fez isso, é porque está planejando algo muito maior.

Reece estava certo ao afirmar que Andras planejava algo maior. Mas estava errado ao afirmar com tanta veemência que o conhecia. Porque se realmente o conhecesse, uma explicação não seria necessária e o caminho de ambos não se cruzariam tão longe de casa. O grande erro de Reece, foi seguir acreditando que Andras continuaria sendo sua arma letal, assim como fez com Ravena.

Andras batucou os dedos sobre a perna, calculando seus próximos passos. Deveria ser cauteloso e cuidadoso ao avançar para dentro de um terreno traiçoeiro. O homem com quem estava lidando era diferente de todos que enfrentou, até mais perigoso que Rico Borelli, pois Reece não tinha quem proteger, não tinha o que perder. Era ele por ele mesmo. Ainda estariam em pé de igualdade se nunca tivesse conhecido Kiara.

— Há uns meses atrás fui emboscado por alguns homens. Armamento pesado e tecnologia de ponta. O tipo de recurso que não se encontra em qualquer organização. — começou, e sorriu ao notar a expressão sombria de Reece marcar sua presença. — Você me conhece... quando tocam no que é meu, não consigo ignorar.

— Aprender a largar o osso também é uma qualidade, Andras. Deveria ter aprendido isso quando Enrico te manteve em cativeiro.

Concordou.

— E por não ter aprendido, fui afundo descobrir os mandantes. Parece que existe uma unidade secreta da Interpol que tem resignado seus melhores agentes e mercenários para virem atrás de mim e dos Borelli.

— E daí? Você tem o próprio governo. Se eles usarem as lei contra você, mostre a eles como se controla um tribunal.

Andras sorriu cinicamente, lembrando de todas as informações que Gianluca lhe passou nos últimos meses.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora