46 • Minha herdeira

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E se morressem lutando? Eram espertos demais para ceder a um futuro tão impróspero. Por isso aceitaram o fim de uma era como essa. Pode não ser um fim digno de uma dinastia, pode não ser um fim poético cheio de sangue e mortes. Mas é o único fim. É o fim do grande Rico Borelli, um homem cujo nome carrega um vasto rastro de sangue e destruição causado pela ganância dos pais. Aprendeu desde criança a sempre lutar pelo poder e nunca ser derrotado. Friamente devastou famílias, dando início a uma série de vingança que lhe custou bons amigos, homens fiéis, amores e a juventude. Mas ele não foi o único a ser atingido por esse trágico destino. Como ele, Kênia Martín também conheceu muito jovem a maldade do ser humano e como ela pode ser cruel.

Perdeu tudo que conhecia como ''bom'' e por muito tempo viveu se agarrando a uma vingança que - no fim - a devastou por completo. O universo se redimiu dando-lhe uma chance de apreciar o que a vida - cruelmente - lhe arrancou. E assim foi para o restante da família. Embora de um jeito meio torno, todos tiveram a oportunidade de encontrar a paz. Assim como Anelise, que perdeu o amor da sua vida de maneira trágica e até a si mesma, fechando-se para o mundo e para as pessoas ao seu redor. Após tanta dor e sofrimento, encontrou seu próprio caminho, reencontrando a vontade de se conectar as pessoas.

Como aconteceu com Heron e Ravena. Duas crianças marcadas por um passado triste com perdas dolorosas que causaram grande impacto em seus presentes, afetando o futuro de forma mais destruidora possível. Tiveram que aprender a lutar contra si mesmos para vencer esse fatídico desastre antes que os consumisse por completo e os impedisse de serem felizes.

Derian só foi libertado ao perceber que tinha que ir embora. Esquecer o passado e focar no futuro era sua única garantia de que não viveria os dias se remoendo pelo que não viveu ou pelo que perdeu por conta de atitudes impensadas. Abriu mão de sua família e seguiu com o coração aliviado, ciente de que não importava muito em que lugar no mundo viveria, sempre haveria um pedaço seu entre a família Borelli. Para sempre seria um Borelli. Para sempre seus pais seriam Enrico Borelli e Samantha Martino.

Com esse mesmo pensamento, Kiara também foi atrás de sua felicidade. Com toda a sua ingenuidade, amou alguém que não era capaz de amá-la, iluminou a escuridão densa de Andras Cartellieri, que fora tão vítima da maldade humana como o restante. Talvez tenha sido a verdadeira vítima desde o início. Desde o começo fora afetado por todos os lados, sendo atacado, perseguido e acorrentado ao passado.

— Então... é isso? Realmente acabou? — Kiara perguntou após assisti-lo bombardear um galpão que fora usado para contrabando de armas de guerra. Fora um ataque contra as pessoas que os perseguiram na Suíça. Andras não perdeu tempo em descobrir os nomes responsáveis para eliminá-los do mapa. Após meses desgastantes, finalmente os localizou e colocou um fim as suas vidas.

De canto de olho observou Kiara ao seu lado, que havia estado ao seu lado durante todas as noites longas e exaustivas, ajudando-o com seus objetivos. Embora soasse cansada, firmemente aguentou, sem contestar suas ações. Também relembrou uma conversa que tiveram que o fez tomar uma decisão importante que mudaria o futuro completamente.

Havia retornado à Suíça após mais uma de suas viagens, onde trazia consigo um rastro de sangue e morte. Apesar de - praticamente - ter vivido quase toda sua vida dessa forma, era a primeira vez que sentia-se exausto e esgotado.

Chegou em casa pela parte da madrugada. Kiara deveria estar dormindo - pensou ao entrar em casa e ser recebido pelo silêncio absoluto. Nem mesmo Gilca marcava sua presença, o que despertou certa desconfiança no homem, já que a mesma - independente de qualquer situação ou horário - sempre se encontrava na sala com um sorriso amistoso e um banho quente. Mas nada. Não havia rastro de que alguém estava na casa, e isso o despertou ansiedade. Sua primeira ação foi se dirigir ao quarto em que Kiara - possivelmente estaria. Os passos ligeiros e o coração acelerado, denunciava um sentimento incomum.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora