17 • Lados desconhecidos

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Devolveu o aparelho celular à Vicenzo, que estava deitado na cama de um cômodo privado em um avião particular. Uma equipe móvel tentava retirar a bala de dentro do seu ferimento. O homem nem se quer transparecia dor, algo que manteve os enfermeiros preocupados, pois não achavam possível tal reação.

— Você morre mas não perde a oportunidade de irritá-lo. — comentou, aparentemente chateado. Esfregou o cenho, sentando em uma das poltronas ao redor da cama. Vicenzo soava agitado com toda a confusão que seu chefe havia criado. Deveriam estar longe do país após o último ataque que sofreram, mas Andras fez questão de retornar à Itália e ir a festa dos Borelli. — Você deixou Gianluca para trás! Afinal, por que decidiu ajudá-los? Sempre negou uma aliança com eles. Está sendo contraditório e invasivo.

Andras olhou para uma das enfermeiras, que segurava a pinça com a bala que retirou do seu ferimento. Havia mais em seu olhar do que palavras poderiam dizer. O sorriso nos lábios causou certo desconforto em Vicenzo.

Pessoas caladas estão bem consigo mesmas. As que estão sorrindo... São essas que deve se preocupar. — repetia pra si mesmo toda vez que precisava lidar com Andras.

— Você entenderá meus motivos em breve. Há um provérbio chinês que diz "Espere com paciência, ataque com rapidez". Tenha paciência, Vicenzo.

Vagarosamente ergueu uma das sobrancelhas, não reconhecia o Andras a sua frente, a seriedade que exalava já não era tão acalentadora quanto de costume. De certa forma, temia o que estava por vim, pois sabia que o fim era incerto, que apenas a morte seria capaz de por um fim aquela guerra sem tréguas. Mas Infelizmente não havia muito o que fazer, pois tentar impedi-lo só seria mais um erro a ser corrigido.

— Foi pela garota? — especulou. Queria estar errado e que toda a situação não girasse em torno de Kiara Borelli. Não queria dar razão à Alexia e admitir que Andras estava obcecado por ela. Isso colocaria todos em perigo. O fitou seriamente. A história dos dois não iria acabar bem. Não importava se nasceram no mesmo mundo, eram diferentes. — A gente ama o que nos mata, e mata o que nos ama. Os Borelli... não valem a pena. Você é maior que eles.

— Sei o que está pensando. — balbuciou ao notar a preocupação do amigo. Deitou a cabeça no travesseiro, passando a encarar o teto do avião, o remédio que havia tomado começava a surtir efeito. —  Fui lá por Derian Borelli. Queria confirmar algo.

Vicenzo inclinou o corpo pra frente, tendo a curiosidade despertada por uma resposta inesperada. Não conhecia muito sobre o filho de Kênia Martino, um garoto reservado que costumava viver longe de olhos alheios.

— Estou confuso... O que há de interessante nele?

Andras sorriu, lembrando-se de acontecimentos irrelevantes que - ironicamente - o trouxeram grandes revelações.

— Não é ele, mas a pessoa ao lado dele. — revelou, relembrando o dia em que a colocou na vida de Derian. Havia planejado cada passo, cada ação desde o início. Como Vicenzo sempre costumava ressaltar a cada vez que Andras armava algo contra os Borelli: "eles nem saberão o que os atingiu". Ele estava certo. Mesmo após tanto tempo, ainda não sabiam.

— Você tem destruído os Borelli há anos. Eles nem sabem o que realmente os atinge. — comentou, impressionado com a inteligência e paciência de Andras. — Qual é o interesse nessa garota? Você foi atrás dela depois que descobriu que ela o salvou, naquela época, não havia nada que a tornasse especial. Duvido que isso tenha mudado com o tempo.

Andras negou ao balançar a cabeça.

— Isso é o que muitos pensam, mas não é verdade. Há algo muito mais valioso do que a fortuna que ela esconde. Tenho quase certeza que o testamento do diablo está com ela.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora