4 • Ausência de emoções

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Um encontro fadado a terminar em caos.

De um lado, Rico Borelli.

Do outro, Andras Cartellieri.

Reuniram-se em um restaurante chinês, numa sala reservada, confortáveis e seguros para terem a conversa franca que tanto evitaram. Rico sabia dos riscos que corria ao encontrar com Andras na presença da filha, segredos possivelmente viriam à tona, segredos que queria levar ao túmulo. Elegantemente ocupou um lado da cabeceira na mesa, enquando Andras ocupava o outro. De um lado, Alexia e Petrus, do outro, Kiara. A garota não evitava os olhares tristes ao pai, a decepção sendo refletida e expressada a cada gesto. Sentia-se um pássaro na gaiola, controlada por quem mais confiava.

— Já faz um tempo. — Rico comentou, quebrando o silêncio. O sorriso maroto que exibia os manteve mais tensos.

— Não o suficiente. — retrucou. — Por que o convite? Estou começando a me acostumar com as vindas à Itália. Você não quer isso.

Rico olhou a filha, analisando-a minuciosamente, certificando-se de que estava bem. Percebeu a vermelhidão em volta do seu nariz.

— Quem fez isso com você? — a questionou, cerrando os punhos sob o colo. Kiara fitou Alexia, que não expressou preocupação, provavelmente confiante de que estaria segura ao lado de Andras.

Pensou se deveria contar a verdade, mas temeu que soasse uma garotinha mimada e amedrontada. Não queria parecer tão imponente e dependente do pai, embora precisasse urgentemente da sua ajuda. Já não suportava estar ao lado de Andras e testemunhar suas maldades, temia que chegasse o dia em que teria que escolher - outra vez - quem viveria ou morreria.

— Eu cai.

— Você nunca caiu assim. — Petrus replicou. Fixou a atenção em Andras. — Bate em garotas? É tão canalha assim?

Andras o ignorou ao focar em Rico. A seriedade que expressou deixou claro que já não estava com humor para conversas banais e muito menos para os interrogatórios inúteis que terminaria de uma única forma: com um deles afetados.

— Desista da sua candidatura. — exigiu.

— Sabe que não vou fazer isso.

Propositalmente olhou para Kiara, sorrindo cinicamente, ergueu a mão e levou ao seu rosto, acariciando o queixo. A mesma recuou, indiferente. Uma ameaça marcante em cada movimento.

— Posso te dar motivos suficientes para fazer isso.

Rico manteve-se calmo para não se deixar levar pelos jogos insanos de Andras.

— Não ouse tocar nela, Cartellieri. Não respondo por mim caso faça isso. — Petrus o ameaçou ao notar o desconforto da sobrinha. — Seu poder termina aqui. Não pense que é intocável. Todos podem ser derrubados.

Propositalmente riu, discordando completamente.

— O que pensa sobre isso, Borelli? Todos podem ser derrubados? — indagou, o enfrentando através do olhar. O olhar sutil que o enviava causava tensão na mesa.

— Vamos resolver nossos problemas de maneira pacífica. Aceite minha proposta. — tornou a insistir. Naturalmente Andras lembrou-se do dia em que Rico ofereceu a mão da filha em casamento. Não houve nenhum momento em que cogitou a ideia de aceitar. Só de pensar nisso seu estômago revirava. — Para famílias como as nossas, casamentos servem para aumentar e manter o poder.

— Isso prova que você não sabe de nada. Casamentos são os negócios mais ultrapassados que existem. A simples possibilidade de me imaginar casando com sua filha é horripilante.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora