35 • sim & fim

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Se preparam para o grande dia, agindo de acordo com o planejado. Como ordenado, cercaram a propriedade com bombas. Barcos e helicópteros foram preparados para caso de emergência. Tanto Andras quanto Rico entraram em contato com seus informantes, que lhes manteriam a par de tudo que ocorreria dentro e fora das delegacias locais e até mesmo na Itália. Estavam dando tudo de si, não apenas para ir atrás de um único homem, mas sim para o xeque mate final, que terminaria com ambos se enfrentando. Sabiam que quando Michèle morresse, ambos teriam que agir e o mais esperto e ágil venceria.

Kiara olhava-se no espelho, admirando o vestido de casamento que fora entregue pelo próprio pai. O mesmo fez questão de avisa-la mais uma vez sobre os perigos que enfrentariam, dando-a a chance de recuar e ir embora do México. Teve a chance de seguir o próprio caminho mas recusou, pois já não havia um caminho diferente a seguir. Concretizou o futuro ao dormir com o diabo e não se arrependia.

Ouviu batidas na porta, virando-se para ver quem era. Andras. Escorou-se no batente da porta com as mãos nos bolsos da calça, analisando-a dos pés a cabeça, esboçando um sorriso ao ver o quanto estava bonita. Até poderia acreditar que ela era uma noiva de verdade. Sua noiva.

— Dá azar ver a noiva antes do tempo.

Riu, provocativo.

— Por isso estou aqui, para que tenhamos muito azar.

— Tenho certeza que garantirá que isso acabará antes do sim.

Balançou a cabeça em concordância, e arriscou passos para perto. A centímetros de distância, examinou detalhamento os traços perfeitos e delicados do seu rosto. Ergueu uma das mãos a uns fios de cabelos ondulados que caíam sobre sua testa, colocando-os atrás da orelha. Atenciosamente levou os dedos ao queixo, o erguendo, usando o polegar para acariciar a pele pálida. Kiara estava enganada quando tocou o piano e disse a ele que seria a última vez que o tiraria o fôlego. Aquela sua imagem vestida de noiva com certeza o arrancou o fôlego mais uma vez. Fitou os lábios levemente rosados e naturalmente lembrou do beijo. Uma noite que havia despertado sentimentos bons.

— Isso é pra você. — informou ao se afastar para entregá-la a arma que havia providenciado especialmente para ela. — Precisará hoje. Não espere que alguém te salve.

Ela sorriu, pensando no quanto a vida irônica podia ser cruel. Questionou-se se Rico estava certo o tempo todo e Andras mataria sua pessoa como um dia fizeram com sua mãe.

— E se eu tiver que atirar em você pra me salvar?

Não hesite. Só... atire.

Durante aqueles breves segundos que mantiveram o olhar fixo um no outro, pensaram em tudo que haviam passado para estar ali. Talvez não tivesse amor envolvido ou algo que fizesse com que fossem hesitar quando o momento crucial chegasse. Mas existia algo e não dava pra negar. Ele se jogaria novamente em frente a uma bala por ela, e ela faria questão de enxerga-lo de forma mais serena e gentil.

— Então acho que é uma despedida, não é? Depois de hoje, seguiremos caminhos diferentes. Seja qual for o fim, não voltaremos a nos ver.

— Minha mãe tentou me matar uma vez enquanto eu dormia...— começou de repente, chocando-a, que imediatamente percebeu do que se travava. Ele finalmente confiava nela a ponto de contá-la sobre seus pesadelos. Sobre o motivo de ser sonâmbulo. Não ousou interrompê-lo com sua curiosidade insaciável. — Quando durmo, lembro desse dia e tento afastá-la. Mas tudo que consigo é retribuir. Não importa o que eu faça, quando fecho os olhos... ela está lá. Meu maior arrependimento é não ter perguntado o por quê dela ter tentado me matar.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora