15 • Meia noite

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E de inferno você entende bem, não é? — replicou, sarcástica. Andras sorriu, instigado à irritá-la.

— Você não faz ideia.

Se encararam. Fora perigoso o silêncio que se instalou entre os dois. Ele era calculista demais, e ela intensa. Dois elementos que não se misturavam. Embora tivessem nascidos no mesmo mundo e crescidos no meio de tanta maldade, apenas Andras conhecia a escuridão. Diferente de Kiara, só ele pertencia a obscuridade.

— Michèle. — apresentou-se à Andras, estendendo a mão. — Você...é?

Andras olhou sua mão, sorrindo com arrogância. O ignorou, voltando a atenção à Borelli.

— Devo me preparar para outra festa de casamento?

Ela revirou os olhos.

— Não seja ridículo. Eu não convidaria você.

— Que pena... Meu presente seria... — olhou rapidamente Michèle, rindo com maldade. — ...de matar...

— Seria sua cabeça entregue numa bandeja?
— indagou, cínica. Curvou os lábios num sorriso maroto, aproximando-se dele, levando a mão até seu colarinho. Havia algo de diferente nela que não passou despercebido. Já não aparentava ser apenas uma criança em busca de atenção. Kiara sabia o que fazia, o que fazer para afeta-lo e tirar o sorriso debochado dos lábios. Inclinou-se para mais perto, erguendo o rosto para mais próximo do seu. — Vou te ensinar a temer algo, Cartellieri.

— O fato de você achar que não temo nada, me mostra o quanto ainda é inocente. — rebateu, sério. Levou à mão ao seu queixo, o segurando firmemente. — Não serei seu desafio, pequena Borelli. Não pense, nem por um segundo, que não sei o que se passa na sua cabeça.

Sorriu, concordando. Recuou.

— Isso será ainda mais interessante do que pensei.

Andras semicerrou os olhos.

— Lembre-se: você começou esse jogo.

Negou.

Foi você quem começou. Eu só estou movendo minhas peças.

Kiara tremia por dentro, sentia que estava a ponto de explodir. A ânsia de vômito ao estar perto dele era constante. O coração batia numa frequência aterrorizante. Entendia perfeitamente que o caminho que havia escolhido seguir não era o melhor, que poderia engoli-la. Mas sua determinação em destruí-lo simplesmente a cegou. Mas também a deu coragem.

Michèle não tentou entender o que acontecia, observou em silêncio, ouvindo atentamente. Não teve um momento que não sentisse a tensão entre os dois. Algo não parecia certo. Em tudo aquilo. Toda aquela festa, as pessoas, o clima... Havia algo que não se encaixava. E por mais que debatesse consigo mesmo, não encontrava uma resposta menos assustadora.

Kiara apanhou sua mão e o arrastou para o segundo andar da casa, sem se despedir de Andras. Aquele não era um adeus. Ainda voltariam a se encontrar. E a cada encontro, o impactoso fim se concretizaria.

— O que foi aquilo? Quem é ele? — perguntou ao chegarem no corredor. Soltou sua mão, passando a encarar uma das paredes. Respirou fundo, suspirou, inspirou novamente. Ainda encontrava-se inerte. Em choque. — Kiara... você está bem?

— Pode... por favor, calar a boca! — exclamou, séria. Trincou o maxilar ao fita-lo. — Desculpa... e-eu só... Ele não é ninguém. Não é nada.

— Não foi isso que pareceu. — comentou, analisando-a. Notou sua inquietude. Nunca havia a visto tão transtornada. Nem mesmo quando a ignorava, soava tão irritada. — Ele é seu ex namorado?

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora