26 • Fôlego

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Mais um corpo sem vida enterrado num buraco qualquer em Lake como. Alexia estava acompanhada de Vicenzo, que terminava de jogar a areia na cova. O homem que havia matado se tratava de um dos responsáveis pelo sequestro repentino de Kiara Borelli. Sua morte poderia levá-la a pensar que Andras havia agido irracionalmente. Mas quanto mais refletia sobre tudo o que vinha acontecendo, sobre as pessoas que vinham morrendo e aonde chegavam após isso, questionava-se se o que sabia era a verdade ou só mais uma mentira contada.

— Já matamos quase todos os responsáveis. Não demorará muito pra se darem conta do que está acontecendo. — Alexia comentou ao jogar a pá - que segurava - no chão. Vicenzo jogou a última pá de areia na cova, finalizando. Limpou o suor da testa, concordando entre um suspiro.

— É exatamente isso que o Andras quer. Por que acha que ele fez todo aquele teatro para que ela fosse presa? — sorriu, pensando na última conversa que teve com o chefe, onde o mesmo explicou detalhadamente seu plano. — Desde o ataque a mansão Borelli, ele já desconfiava sobre a pessoa que poderia estar por trás disso. Só havia relevado por achar que o alvo eram só os Borelli. Mas nos seguiram até o México. A prisão da Borelli só serviu para que ele mostrasse a cara.

— E quando estou a ponto de esquecer o quanto ele pode ser calculista, algo assim acontece e a ficha cai.

— Ultimamente tem pensado muito antes de agir, e se continuar assim, pode acabar morrendo. Não pense que ele não te matou da última vez por gostar de você.

— Meu maior medo não é ele apontar uma arma pra mim. É ele não confiar mais em mim. Quando isso acontecer, não haverá razão para ficar aqui.

De todos ao redor de Andras, Vicenzo era o único que conhecia a verdade sobre Andras. O único que tinha conhecimento do seu passado, do que realmente procurava, dos seus objetivos e principalmente, da sua doença.

— Andras nunca confiará em alguém, Alexia. Quanto mais cedo entender isso, menos se decepcionará no futuro.

Ela sorriu, disfarçando a decepção.

— Desde que nos conhecemos, você sempre faz questão de deixar isso bem claro. Ou você gosta de mim, ou gosta do Andras. — especulou analítica, causando um ataque de risos em Vicenzo, que gesticulou para que ela o seguisse.

— Eu apenas o conheço bem e tenho pena de você.

[...]

Era madrugada, a lua cheia brilhando intensamente no infinito céu azul. Do topo da montanha, observaram o mar agitado, as ondas batendo contra as rochas submersas. Apreciavam a brisa fresca e gélida do fim de outono, sendo graciosamente contemplados com a magnífica visão do horizonte. O suor escorria pelo rosto de Kiara, a respiração lecionada e as batidas do coração aceleradas por conta da adrenalina que percorria suas veias. Diferente dela, Andras esbanjava calmaria enquanto observava fixamente a lua, sem expressar absolutamente nada. Não importava o quanto o olhasse e tentasse entendê-lo, ou tentasse decifra-lo, simplesmente não era capaz.

— Não gosto que me olhem. — ouviu sua voz, quase num sopro. Naturalmente riu, desviando o olhar para o mar abaixo do penhasco.

— Você não gosta de muitas coisas. — replicou num resmungo. — Há algo que goste? Não é possível que não haja nada nessa terra que te faça perder o fôlego.

Não precisou refletir muito sobre a resposta. Era muito óbvio. Vivia no preto e no branco, no modo automático sem muitas expectativas. Não sentia as batidas do seu coração entrarem num ritmo alucinante; também não poderia dizer como é a sensação de se sentir feliz olhando para algo que ama. Nem mesmo podia pensar em algo que o fazia bem. Nada lhe despertava interesse ou prendia a atenção.

O destino de Kiara. - III Borelli.Onde histórias criam vida. Descubra agora