Capítulo 26

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★Gérson★

Caminhos cruzados


Depois que terminei com Ana Paula, tô mais murchinho que planta sem água. Meu irmão até tentou me animar, insistindo pra voltar a cantar com ele. Até compôs uma música nova, mas só consigo pensar em tocar a vida do jeito que era antes: cuidando da fazenda.

Chico agora canta sozinho, mesmo contra a vontade dele. Diz que não é a mesma coisa, que todo mundo sente minha falta, principalmente ele. Só que a inspiração pra compor se foi com a Ana. E a vontade de cantar tá mais seca que terra no verão.

O que me deixa mais cabreiro é que as pessoas ainda gostam da música "Musa de Vermelho". Chega a encher o saco.

Num fim de tarde, enquanto o sol vai se embolando atrás das montanhas, termino de arrebanhar o gado e encurralo meu cavalo no estábulo. Já faz um tempão que tô tocando as coisas praticamente sozinho, porque meu pai não tá muito bem. Ele tá cansado demais, tossindo feito cachorro engasgado.

Deixo meu chapéu num prego atrás da porta e logo escuto ele tossindo lá do quarto. Tô mais que preocupado, então vou lá ver como ele tá. Dou uma batida na porta e minha mãe aparece no corredor.


- Seu pai tá dormindo, deixe ele descansar! - ela exclama, com uma voz baixa.

- E como ele tá? - Pergunto, já virando as costas.

- Parece esgotado, nem se levantou hoje.

Sigo em direção à sala, em direção à ela.

- E o que o médico disse?

- Seu pai tem uma doença nos pulmões. Eu esqueci o nome dela, mas o médico disse que é rara e o tratamento é longo.

- Eu não sabia disso! - Fico atônito, olhos arregalados.

- Eu também não sabia até hoje. Seu pai se recusava a ir no médico.

- E por que ele fez isso? Já deveria tá tratano há muito tempo! - respondo, inconformado.

- Na verdade, meu fio... num existe tratamento em nenhum local aqui perto, só na capital, aí ele disse que num vale a pena gastar tempo e dinheiro com um velho como ele.

Balanco a cabeça em negação, quase sem acreditar no que ouvi. Como assim, não vale a pena? O coração aperta ao escutar essas palavras. Claro que vale a pena! Ele sempre foi minha rocha, minha inspiração, e agora vem com essa?

Peço os papéis dos exames pra minha mãe, não dá pra aceitar isso de braços cruzados. Fico estudando aqueles papéis como se fosse entender alguma coisa, como se pudesse fazer alguma diferença. Não dá pra deixar pra lá. Precisamos levar ele até a capital e começar esse tratamento.

Na manhã seguinte, assim que amanhece, saio rumo à cidade mais próxima atrás de mais informações sobre o tratamento e marco uma visita com o doutor que deu esse diagnóstico.

- Devido ao tabaco em excesso, seu pai contraiu uma grave doença que destrói os tecidos internos dos pulmões. - o médico me explica. - Os exames apontam que seu pulmão direito está 75% comprometido, enquanto o outro, 60%.

- Qual é a melhor forma de tratamento para essa doença?

- Ela não tem cura, pois é progressiva, mas podemos controlar os sintomas e prolongar a qualidade de vida dele.

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