Capítulo 8

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Gérson★

Tecendo memórias

Enquanto acaricio os cabelos macios dela, percebo sua reação ao meu toque, reparando a suavidade do seu olhar e a forma como os olhos brilham. Parece que meu toque tem o poder de sossegar a alma dela, trazendo um tanto de paz no meio do rebuliço de sentimentos.

Sinto um desejo crescente de dar mais sossego no coração dela, e deixo minha mão deslizar de mansinho pelo contorno do rosto, explorando cada traço delicado com cuidado. Sinto a textura macia da pele dela sob meus dedos, uma sensação que me esquenta por dentro e me deixa com vontade de mais.

Apesar de ter uma vontade grande de beijá-la, resisto à tentação de partir pra ação. Por mais forte que seja o amor que tenho por ela, sei que preciso respeitar o espaço dela e o processo de lembrança, deixando ela descobrir sua verdade no momento certo.

Em vez de tomar a frente, quero que seja ela quem tome a iniciativa, quem venha pra mim com o mesmo ardor que sinto por ela. Quero que o beijo seja um fruto do reconhecimento e da memória do amor que compartilhamos, um gesto sincero de carinho e afeto que vai além das barreiras da lembrança.

Ela abaixa a cabeça de novo em silêncio. Percebo ela ficar quieta demais, espero que esteja ganhando lembranças, ou pelo menos gostando do meu carinho. Mas uma coisa é certa, ela tá cada vez mais ligada a mim, e isso me deixa todo contente.

— Gérson, eu me lembro de uma vez, de quando éramos bem mais jovens, que fui ao parque de diversões. Você estava junto comigo e mais alguns amigos. Como você ficou feliz quando ganhou o bichinho de pelúcia na jogada de argolas! Você me deu de presente, era um...

— Porquinho. — Completo rapidamente, demonstrando que eu também me lembro muito bem desse dia. Ela levanta a cabeça, olhando para o meu rosto, com um semblante surpreso, mas depois abre um sorriso.

— Sim, era um porquinho. Você se lembra!

Começamos a rir baixinho da situação, e a alegria que sinto é sem tamanho. Tô muito feliz dela ter lembrado disso, porque mostra que, mesmo depois de tanto tempo longe um do outro, nossos laços continuam firmes e fortes. A escolha do porquinho Harry como bicho de estimação é como um eco do passado, um jeito de mostrar o laço forte que a gente tem e uma prova de que nossa ligação é mais forte do que as esquecências da memória.

— Ta melhor?

— Acho que sim...

— Se quiser, pode adotar outro porco. — sorrio de leve, ela faz o mesmo, enquanto assente — Agora vamos embora? Precisamos almoçar. — convido, sentindo meu estômago roncar.

— Vamos, sim.

Eu me levanto rapidamente e estendo a mão para ajudá-la a se levantar também. Em silêncio, compartilhamos um olhar significativo e começamos a caminhar de volta juntos.

Saímos do matagal do lago e chegamos entre um campo extenso de trigo, nossos passos sincronizados como se estivéssemos em sintonia. Ela ta quieta demais pro meu gosto, o que será que ta pensando?

Ela vira o pescoço para mim e eu lhe sorrio, demonstrando que gosto de caminhar ao seu lado, mas ela não me corresponde, seu semblante tá sério.

— Gérson, o que nós fomos no passado, exatamente?

A pergunta repentina dela me pega totalmente desprevenido, e por um instante, me vejo incapaz de articular uma resposta.

— Ou você é o noivo que tanto procuro?

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