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Giulia

—Vamos repetir isso de novo meninas—minha irmã diz e então repetimos todos os passos novamente—Plié, Tendu, Fondu, Rond de jambe, Frappé.

E lá estávamos, depois de horas ali, repetindo a mesma coisa enquanto seguravamos a barra, estou acostumada a levar as coisas sob pressão, isso pode ser tanto uma qualidade quanto um defeito, já me acostumei a sofrer com essas sapatilhas e passar horas treinando a mesma coisa para se obter a perfeição.

—Meninas, hoje fizemos um bom trabalho, amanhã vão se iniciar os ensaios para o grande campeonato, nossa escola nunca perde e séria tão humilhante ver nossos grandes talentos perder.

—Fiquei sabendo que Bruna vai fazer um passo meio arriscado na apresentação de San Padre—uma de minhas colegas de equipe diz.

—Fala sério, desde quando ela consegue alguma coisa? Essa escola é um típico convento com aquelas freirinhas—diz Sarah enquanto retira suas sapatilhas e faço o mesmo.

—Tenho algo especial dessa vez, Giulia, você vai fazer um solo magnífico—quase desmaio assim que posso assimilar tudo, meus planos estão indo de acordo com o que quero—Falei com a Estela e ela concordou, sei que você você potencial.

—Obrigada mana, farei de tudo para não decepcionar—digo muito feliz.

Assim que retiro as sapatilhas, vejo as marcas roxas e alguns machucados que as vezes se formam, isso pode ser um sinal para que eu dê uma pausa porém é quase inevitável. Logo pego minhas coisas e junto com Geórgia, partimos pata casa.

—Mãe, adivinha quem vai fazer um solo impecável no campeonato—digo mais feliz do que nunca, jamais imaginei que esse dia iria chegar oficialmente.

—Eu sabia, Geórgia me contou que te chamaria—sempre é assim.

—Acho que eu vou subir pra tomar banho—digo sem graça, eu posso contar nos dedos todas as vezes em que já vi ela feliz com alguma vitória minha.

—Eu te disse que não era pra agir assim, ela se sente mal e você sabe disso—Geórgia a repreende é eu posso escutar enquanto subo as escadas.

—Ela está fazendo muito drama, sempre estou em todos os cantos aplaudindo o que vocês duas fazem e ela sempre é a sensível—eu já nem me importo mais.

Contar cada vez em que corri pro quarto e comecei a chorar iria perder a conta, as vezes minha mãe esquece que a filha dela tem sentimentos, e que tem um coração também, bom eu só preciso de um banho e então assistir mais alguns episódios de friends para acabar dormindo, entro no banheiro já indo para debaixo d'água, isso tudo tem sido tão frustrante, em pensar no quanto estou tendo que aguentar tudo isso por um futuro é tão difícil, pelo menos eu vejo que lá eu serei feliz.

—Que banho demorado, estou te esperando para maratonar friends—vejo minha irmã jogada na minha cama usando seu pijama de ovelhinha.

—Tá aqui para me consolar, né?

—Você sabe como é as coisas, só precisa ignorar e seguir em frente, precisamos de hates na vida para podermos evoluir—diz e tenho que rir.

—Tirou isso de alguma legenda do Instagram?—pergunto enquanto a olho ligando a TV.

—Talvez, já viu meu último post? Tá engajando demais—como não ver, ela faz questão de me perguntar tudo antes de postar literalmente tudo.

E então me deito ao seu lado na cama, temos o costume de dormir juntas as vezes, por mais que eu prefira ficar em seu quarto, lá é como entrar em um paraíso adolescente, tendo luzes Led e algumas plantas na parede, e seus troféus que eu sempre ganho também, a diferença é que este quarto é feio demais para trazer alguém aqui ou então colocar meus troféus neste quarto com papel de parede rosa ainda.

—Eu preciso tanto arrumar este quarto—digo choramingando.

—Nossa mãe é literalmente uma engenheira e você ainda tem um quarto para uma bebê de cinco, isso é tão fofo, cadê a minha menininha?—começa a apertar minhas bochechas e isso dói tanto.

—Para com isso, eu preciso dormir cedo hoje, saia do meu quarto—empurro para fora da cama.

—Você está me humilhando desta forma tão baixa, nunca mandaria a minha gêmea porta a fora.

—Como é? Toda vez que Bryan vem pra cá você me deixa do lado de fora sua podre, eu não quero nem saber o que vocês fazem lá.

—Espero que tenha belos pesadelos—manda um beijinho no ar e sai do quarto.

Coloco na minha série que já estava na tela da TV e logo pego no sono, adoro estes momentos, presa em um mundo imaginário no qual a realidade pode ser tudo o que eu quero, em uma realidade no qual Igor possa ser fiel e que respeita muito bem uma mulher, porém não importa o que eu faça a cena dele beijando novamente aquela menina ainda invade meus pensamentos, sou aterrorizada até em meus próprios sonhos.

Não foi a primeira vez em que isso aconteceu, lembro até hoje de ter pego ele também aos beijos com Fernanda, no início de tudo, ele sempre corre atrás dela sempre, qualquer briga que temos ele vai atrás dela, quando ele sente carência ou precisa de atenção ele sempre vai atrás dela, talvez já seja a hora de dizer um tchau pra isso, isso é cansativo demais pra mim, naquele momento por mais que eu já esteja acostumada a sempre ser feita de otária, voltando sempre com um idiota que só serve para me fazer sentir-se mal.

***

—Terminou mesmo com o Igor?—minha mãe pergunta sobre o almoço de domingo.

—Sim, e não pretendo voltar nunca mais.

—Sabe o quanto a família dele tem representatividade?—novamente esse papo.

—Mãe, ela só não se sente feliz ao lado dele, ainda está nova demais e precisa curtir a vida antes de acabar o ensino médio—minha gêmea tenta me defender.

—Por quê você nunca dá certo com ninguém? Sua irmã está com o Bryan a tanto tempo.

—Chega Gina, o único dia em que consigo ficar em casa com a minha família você dá um jeito de fazer confusão, não irá forçar minha filha a voltar com quem ela não quer, se acabou foi por um motivo—meu pai me defende, ele não para muito em casa com o novo projeto no qual ele está desenvolvendo porém sempre fui a favorita dele, sempre os melhores presentes e sempre estava lá para me apoiar, amo tanto.

—Agora eu sou a culpada, desculpa se eu só penso no melhor desta família.

A tarde se passou bem calma, passei a tarde inteira aproveitando um bom sol da tarde com uma boa leitura e um café maravilhoso, estou tentando aproveitar o máximo que posso antes da dor de cabeça diária.

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Ela é amiga da minha mulher, pse.

Mas fica dando encima de mim, enfim.

𝗔 𝗗𝗮𝗺𝗮 𝗘 𝗢 𝗩𝗮𝗴𝗮𝗯𝘂𝗻𝗱𝗼Onde histórias criam vida. Descubra agora