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   A FECHADURA SOA E as portas duplas se abrem. Perco o fôlego. Nunca na minha vida fiquei em uma suíte, muito menos uma tão bonita. Era a lua de mel dos sonhos de Hyejin, e procuro não me sentir grata por ela estar sofrendo para que eu possa estar aqui. Mas é difícil, pois isso acabou muito bem para mim.

Bem, quase. Olho para Minho, que gesticula para mim para que entremos. Diante de nós, há uma sala de estar absurdamente espaçosa, com um sofá imenso, um sofá menor, duas poltronas e uma mesa de vidro ao centro sobre um tapete branco felpudo. Na mesa está uma bela orquídea violeta em um cesto trançado, um controle remoto complicado, que parece provavelmente acionar uma camareira biônica, e um balde com uma garrafa de champanhe e duas taças com as inscrições "senhor" e "senhora".

Logo à esquerda da sala de estar há uma salinha de jantar com uma mesa, dois castiçais de bronze e um carrinho de bebidas coberto com todos os tipos de copo de coquetel ornamentado.

No entanto, na outra extremidade, está a verdadeira beleza da suíte. uma parede de portas de vidro que se abrem para uma varanda com vista para as ondas de Maui a se quebrar. Suspiro. deslizando as portas para os lados e saindo para a brisa quente de janeiro. A temperatura me impacta e traz uma consiência surreal: estou em Maui, em uma suíte dos sonhos, em uma viagem com tudo incluído. Eu nunca estive no Havaí. Nunca fiz nada parecido com um sonho. Ponto. Começo a dançar, mas só parcebo que estou fazendo isso quando Minho aparece na varanda e despeja um enorme balde de água fria na minha alegria, pigarreando e olhando para as ondas com os olhos semicerrados.

Ele parece estar pensando "Já vi paisagens melhores".

— Esta vista é incrível — digo, quase buscando o confronto.

— Assim como a sua propensão para compartilhar demais as coisas.

— Já disse que não sou uma boa mentirosa. Fiquei nervosa quando ela ficou olhando para a identidade de Hyejin, ok?

Minho levanta as mão em uma rendição sarcástica. Com uma careta, escapo do senhor Desmancha-prazeres e volto para o quarto. Imediatamente à direita, Há uma pequena cozinha, que ignorei completamente à caminho da varanda. Depois da cozinha, há um corredor que leva a um banheiro e, logo depois, ao suntuoso quarto principal. Entro e vejo que existe um banheiro enorme ali, com uma banheira muito grande — suficiente para duas pessoas. Viro-me para encarar a cama gigantesca. Quero rolar nela. Quero tirar minhas roupas e me deitar nos lençóis de seda...

Mas... como? Como chegamos até aqui sem discutir a logística dos arranjos para dormir? Será que nós dois realmente presumimos que a suíte de lua de mel teria dois quartos? Sem dúvida, ambos morreríamos felizes se não compartilhássemos a cama, mas como vamos decidir quem fica com o único quarto? Evidentemente, acho que deveria ser eu, mas, conhecendo Minho, ele provavelmente pensa que vai ficar com a cama.

Saio do quarto no exato momento em que Minho está fechandos as grandes portas duplas, e, então, ficamos presos nesse estranho momento de coabitação sem preparação. Nós nos viramos para encarar nossas malas.

— Uau.

— É.

— Muito legal.

Minho tosse, um relógio faz tic-tac em algum lugar da suíte, alto demais em meio ao silêncio encômodo.

— É sim — ele concorda, estende a mão e coça a nuca. As ondas do mar se quebram ao fundo. — Você deve ficar com o quarto por ser a mulher.

Algumas desses palavras são as que eu quero ouvir, e outras são simplesmente terríveis. Inclino minha cabeça, fazendo cara feia.

— Não vou ficar no quarto porque sou mulher. Vou ficar no quarto porque minha irmã ganhou a hospedagem.

Desdenhoso, Minho dá de ombros e diz:

— Quer dizer, se formos seguir essa lógica, então eu deveria ficar com o quarto, pois Hyejin, em partes, conseguiu hospedagem usando os pontos que Junseo acumulou por sempre se hospedar na rede Hilton.

— Hyejin ainda conseguiu organizar tudo — digo. — se dependesse do Junseo eles ficariam hospedados em um Hilton qualquer.

— Você se deu conta de que está discutindo comigo apenas pelo prazer de discutir? Já disse que você pode ficar com o quarto.

— O que você está fazendo agora não é discutir? — pergunto, apontando para ele.

Minho bufa como se eu fosse a pessoa mais irritante do mundo.

— Fique com o quarto. Vou dormir no sofá — ele diz com o olhar para o móvel. Parece macio e agradável, sem dúvida, mas ainda é um sofá, e ficaremos aqui por dez noites. — Ficarei numa boa — ele acrescenta com uma boa dose de martírio no tom de voz.

— Se você for agir como se eu lhe devesse um favor, então não quero isso.

Minho caminha até sua mala, levantando-a e carregando-a para o quarto.

— Espere! — exclamo. — Retiro o que disse. Eu quero o quarto.

Minho para, sem se virar para olhar para mim.

— Só vou colocar algumas coisas nas gavetas, não vou viver com a minha mala na sala por dez dias — ele afirma e me olha por cima do ombro. — Algum problema?

Ele se equilíbra tão generosamente entre ser generoso e ser passivo-agressivo que fico confusa a respeito de tão babaca ele realmente é. Torna-se impossível medir uma dose exata de sarcasmo.

— Tudo bem — respondo. — Use todo espaço que precisar.

A conclusão é que nós não nos damos bem, mas a outra conclusão é que realmente não precisamos nos dar bem! A esperança toma conta de mim. Minho e eu podemos circular por aí sem termos que interagir e podemos fazer o que quisermos para tornar estas férias dos sonhos de cada um.

Para mim, esse pedacinho do paraíso vai incluir spa, tirolesa, mergulho e todos os tipos de aventura que eu puder encontrar e, é claro, as aventuras alcoólicas. Se a ideia de Minho de férias perfeitas é ficar se remoendo, reclamando e respirando de modo exasperado, ele certamente pode fazer isso em qualquer lugar que quiser, mas eu não tenho que aturar.

Rapidamente, checo meus e-mails e vejo um novo da Hamilton. A proposta é...Bem, basta dizer que não preciso examinar mais nada para saber que vou aceitar. Poderiam dizer que a minha mesa vai estar junto à cratera de um vulcão e eu aceitaria sem prestejar por essa quantidade de dinheiro.

   Pego meu iPad, assino tudo digitalmente e envio.

Quase vibrando, folheio a lista de atividades do hotel e decido que a primeira coisa a fazer é uma esfoliação facial e corporal comemorativa no spa. Sozinha. Não acho que Minho seja do tipo que goste de spas, mas a pior coisa seria se ele levantasse uma fatia de pepino refrescante da minha pálpebra para me encarar enquanto estou deitada de roupão.

— Minho, o que você vai fazer esta tarde? — pergunto, quase gritando em direção do quarto.

No silêncio da resposta, sinto seu pânico de que eu possa estar pedindo a ele me acompanhar.

— Não estou perguntando porque quero companhia — acrescento.

Outra vez, ele hesita e, ao finalmente responder, sua voz chega abafada, como se ele realmente tivesse entrado no armário.

— Graças a Deus.

Bem...

Acho que vou até o spa — informo.

— Faça o que quiser. Só não use todos os créditos da massagem — ele responde.

Faço uma careta, mesmo que ele não possa ver.

— Quantas vezes você acha que vou ser esfregada um uma única tarde?

— Prefiro não pensar nisso.

Mostro o dedo do meio em direção ao quarto. Consulto a lista para confirmar se o spa possui chuveiros que eu possa usar, pego meu cartão-chave e deixo o mal-humorado do Minho desfazendo suas malas.

@ard4kani

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora