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ACHO QUE EU DEVERIA ter prestado mais atenção nas regras — Minho diz, ofegando ao meu lado, sujo de lama e besuntado de tinta roxa. Nós dois estamos nesse estado. Alerta de spoiler: a porra do paintball dói. — Será que existe um limite de tempo nesse jogo? — ele pergunta, pega o celular e começa a pesquisar no Google, resmungando por causa do sinal fraco.

   Apoio minha cabeça contra o abrigo de madeira e dou uma olhada para o céu. O plano original de nossa equipe era se dividir e se esconder perto dos bunkers, escalando alguns defensores para ficar em território neutro e dar cobertura aos atacantes que avançam. Não tenho bem certeza de por que esse plano falhou, mas, em algum momento, houve uma emboscada imprudente, e restaram apenas quatro de nós. Todos os integrantes da equipe adversária, incluindo todos os adolescentes que falam merda, ainda estão no jogo.

   Agora, Minho e eu estamos encurralados atrás de uma parede mal-conservada, sendo caçados de todos os lados por garotos que são muito mais cruéis do que esperávamos.

— Eles ainda estão aí? — pergunto.

   Minho se estica para ver por cima da barricada e imediatamente volta a se abaixar.

— Sim.

— Quantos?

— Só vi dois. Acho que eles não sabem onde estamos — ele responde, rasteja para observar o outro lado e desiste rapidamente. — Um deles está bem longe e o outro está apenas parado na ponte. Sugiro esperarmos. Alguém vai aparecer e chamar atenção dele mais cedo ou mais tarde. Então poderemos correr para aquelas árvores ali.

   Alguns instantes se passam, preenchidos pelo som de gritos distantes e pela erupção ocasional de bolas de tinta. Isto é mais surreal do que posso imaginar. Mal consigo acreditar que estou curtindo.

— Talvez devêssemos tentar escapar deles — digo. Não me agrada a ideia de levar mais bolas de tinta pelo corpo. Está frio e úmido onde estamos agachados, e minhas coxas estão começando a doer. — Acho que somos capazes de nos safar. Por incrível que pareça, você não é terrível nisso — concluo.

   Minho olha para mim e, em seguida, volta a mirar a mata.

— Você tem a agilidade de uma pedra. É melhor ficarmos quietos.

   Estendo-me para lhe dar um chute e rio quando ele resmunga de dor fingida.

   Por estarmos agachados aqui, escondendo-nos de um grupo de adolescentes agressivos, sinto-me tentada a puxar conversa, mas hesito, imediatamente questionando a mim mesma. Será que quero conhecer Minho? Costumava achar que já sabia a coisa mais importante a respeito dele: que ele é um cara censurador, que tem algo contra mulheres que consomem comidas altamente calóricas. Mas também descobri que:

1. Ele trabalha com algo ligado à matemática.

2. Que eu saiba, ele teve uma namorada desde que eu o conheci, dois anos e meio atrás.

3. Ele é muito bom em fazer cara feia (mas também é incrível sorrindo)..

4. Ele insiste que não se importa em compartilhar comida; ele simplesmente não come em bufês.

5. Ele costumava levar o irmão mais novo em viagens aventurescas caras.

O resto da lista desliza por meus pensamentos, sem convite.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora