LOGO DEPOIS QUE VOLTAMOS a terra firme, Minho recupera a maior parte da cor, mas, em vez de abusar da sorte — ou arriscar ter de jantar com Yizhuo e Seojun —, decidimos nos recolher mais cedo e pedir serviço de quarto.Ainda que ele jante na sala de estar e eu no quarto, ocorre-me, em algum momento entre minha primeira mordida no ravióli e meu quarto episódio de série, que eu poderia ter deixado Minho voltar para o hotel e saído sozinha. Poderia ter feito uma centena de coisas diferentes mesmo sem sair do hotel. E, no entanto, aqui estou eu, fechada no quarto, à noite, porque Minho teve um dia difícil. Pelo menos agora estou a apenas um aposento de distância se ele precisar de alguém.
Precisar de alguém como eu? Quero zombar de mim mesma e dessa nova ternura por achar que Minho me procuraria como uma fonte de conforto em qualquer momento diferente daquele em que estávamos presos num barco. Ele não procuraria, e, afinal não é para isso que estamos aqui!
Contudo, assim que começo a ficar presa em uma espuma mental a respeito de necessidade de curtir minhas férias e não passar a gostar desse cara que só foi amigável comigo no paraíso, mas nunca na vida real, lembro de como me senti debaixo d'água próximo da cratera, de como foi ter a parte inferior do corpo dele ao longo das minhas costas no convés do barco, de como foi passar os dedos por seu cabelo. Meu coração fica aos pulos quando penso como a respiração dele se sincronizou com o ritmo de minhas unhas arranhando levemente seu couro cabeludo.
Então caio ma gargalhada ao me lembrar de nós dois nus no Banheiro da Perdição.
— Você está rindo por causa do banheiro? — ele grita da sala de estar.
— Vou ficar rindo por causa do banheiro até o fim dos tempos.
Pego-me rindo na direção da sala de estar e me dou conta de que ficar no time Eu Odeio Lee Minho pode dar mais trabalho do que valer a pena.
[...]
A manhã chega á ilha com um clarear lento e embaçado do céu. Na manhã de ontem, a umidade fresca da madrugada evaporou-se gradualmente com a luz do sol. Mas não hoje. Hoje está chovendo.
Está frio quando saio do quarto em busca de café. A suíte ainda está bem escura, mas Minho está acordado. Ele está estendido por todo o comprimento do sofá-cama com um livro grosso aberto diante dele. Sensatamente, ele me deixa em paz até que a cafeína tenha tido tempo de ser metabolizada em meu organismo.
Finalmente, eu me encaminho até a sala de estar.
— Quais são seus planos para hoje? — pergunto, ainda de pijama, mas me sentindo muito mais humana.
— Você está olhando para ele — Minho responde, fecha o livro e o coloca sobre o peito.
A imagem é imediatamente arquivada em minha enciclopédia mental como "postura de Minho", e subcategorizada como "incrivelmente sexy".
— Mas, de preferência, perto da piscina com uma bebida alcoólica na mão — ele prossegue.
Em conjunto, fazemos cara feia olhando pela janela. Gotas grossas balançam as folhas da palmeira lá fora e a chuva escorre suavemente pelas portas da varanda.
— Eu queria praticar stand-up peddle hoje... — digo, chateada.
Minho volta a pegar o livro.
— Acho que isso não vai rolar.
Minha reação automática é fuzilá-lo com os olhos, mas ele já nem está olhando para mim. Pego o guia do hotel no suporte da TV. Deve haver algo que eu possa fazer em um dia de chuva.
Abro o guia diante de mim. Minho se coloca ao meu lado e lê a lista de atividades por cima do meu ombro. Sinto minha voz vacilar enquanto leio a lista.
— Tirolesa... Helicóptero... Caminhada... Submarino... Caiaque... Off-road... Passeio de bicicleta...
Minho me interrompe antes que possa ler a próxima atividade.
— Ah, paintball.
Olho para ele sem expressão. Paintball sempre me pareceu algo praticado por caras movidos a testosterona e obcecados por armas. Minho não parece esse tipo.
— Você já jogou paintball? — pergunto.
— Não — ele responde. — Mas parece divertido. Não deve ser muito difícil.
— Parece uma provocação perigosa para o universo, Minho.
— O universo não se importa com o meu jogo de paintball, Minji.
— Antes de eu fazer uma viagem na faculdade com um namorado, meu pai me deu uma pistola sinalizadora. Ela disparou no porta-malas do carro e incendiou nossa bagagem enquanto estávamos nadando em um rio. Tivemos que ir ao mercado mais próximos para comprar roupas, pois tudo o que havia restado eram os maiôs molhados. O supermrrcado ficava numa cidade muito pequena, habitada por moradores assustadores. Nunca mais me senti como um futuro jantar de alguém do que quando caminhei por aqueles corredores tentando encontrar novas roupas íntimas.
Por algum tempo, Minho me observa.
— Você tem um monte de histórias como esse, não é?
— Você não faz ideia — respondo e volto a olhar pela janela. — Mas, sério, se choveu a noite toda, não vai estar tudo enlameado?
Ele se apoia contra o balcão.
— Então, você gostaria de ficar coberta só de tinta, mas não de lama?
— Acho que o objetivo do jogo é não ficar coberta de tinta.
— Você é incapaz de não discutir comigo — ele diz. — Isso é muito irritante.
— Você não estava discutindo comigo a respeito de ficar coberta de tinta, mas não de lama?
Minho resmunga, mas eu percebo que ele está reprimindo um sorriso.
Aponto para o outro lado da sala.
— Por que você não vai até o frigobar e resolve essa irritação?
Minho se inclina para trás, ficando mais perto do que antes. Ele cheira incrivelmente bem e está incrivelmente irritante.
— Vamos jogar paintball hoje.
Virando a página, faço um gesto negativo com a cabeça.
— Não.
— Vamos lá — ele adula. — Você pode escolher o que vamos fazer depois.
— Por que você ainda quer sair comigo? Nós não gostamos um do outro.
Minho sorri de modo malicioso.
— Com certeza você não está pensando estrategicamente a respeito disso. Você vai atirar em mim com bolas de tinta.
Uma edição de videogame passa pela minha cabeça: minha arma cuspindo uma rajada de bolas de tinta verde e respingos verdes caindo em explosões por toda a frente do colete de Minho.
— Pensando bem... vou fazer uma reserva para nós.
@ard4kani
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𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢
Fanfiction― (im)perfeitos, lee minho Minji e Minho são inimigos mortais. Há um passado entre eles que tornou a convivência impossível. Mas quem vai dizer não para uma viajem no Havaí? A ideia de ambos era ficar bem longe um do outro, mas a situação muda quand...