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   ABRO A PORTA DA nossa suíte o mais silenciosamente que posso, Minho ainda não estava acordado quando finalmente desisti de esperar por ele e fui pegar algo para comer, mas ele está agora, sentado no sofá, só de cueca. Há tanta pele para captar que isso faz meu pulso dispara. Vamos ter que conversar sobre o que aconteceu ontem à noite — o beijo e o fato de termos dormido juntos toda a noite, encolhidos como um par de parênteses —, mas provavelmente seria muito mais fácil se pudéssemos simplesmente pular a conversa embaraçosa e ir direto para a pegação novamente.

— Oi — digo baixinho.

— Oi.

   Seu cabelo está uma bagunça, seus olhos estão fechados e ele está recostado como se estivesse concentrando somente a própria respiração ou no planejamento de uma petição para proibir todas as vendas de margaritas por 1,99.

— Como está a cabeça? — pergunto.

   Ele me responde com um grunhido um rouco.

— Eu lhe trouxe frutas e um sanduíche de ovo — digo e mostro uma caixa de papelão, com mangas e frutas vermelhas, e um pacote embrulhado com o sanduíche.

   Ele olha para ambos como se estivessem recheados com frutos do mar da um bufê.

— Você desceu para comer? — pergunta. A continuação "sem mim?" está claramente implícita.

   O tom dele é de babaca, mas eu o perdoo. Ninguém gosta de sentir a cabeça latejando.

   Deixando a comida ma mesa, vou para a cozinha pegar um café para ele.

— É, eu esperei por você até por volta de nove e meia, mas meu estômago estava digerindo a si mesmo.

— Yizhuo viu você sozinha lá?

   A sensação é a do tranco de uma freada brusca. Eu me viro para encará-lo por sobre o ombro.

— Hum, o quê?

— Só não quero que ela ache que há problemas em nosso casamento.

   Passamos toda a tarde ontem falando sobre a respeito de como ele está melhor sem Yizhuo, ele me beijou e, nesta manhã, está preocupado com o que ela pensa. Incrível.

— Você está se referindo ao nosso casamento falso? — pergunto.

Minho esfrega uma mão na testa.

— Sim, exatamente — ele responde, abaixa a mão e olha para mim. — Então?

   Trinco os dentes e meu peito fica apertado. Isso é bom. Sentir raiva é bom. Eu consigo sentir raiva de Minho. É muito mais fácil sentir raiva de que sentir as borboletas apaixonadas.

— Não, Minho, sua ex-namorada não estava no café da manhã. Nem o noivo dela, nem algum dos amigos que você fez no saguão ontem à noite.

— Os o quê? — ele pergunta.

— Esquece.

   Obviamente, Minho não se lembra. Ótimo. Podemos fazer de conta que o resto também não aconteceu.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora