044

298 47 33
                                    


   ALGUMAS HORAS DEPOIS, recebo — e ignoro — uma ligação de Minho. Só posso supor que esteve ocupado lidando com Junseo, mas eu também estou lidando com Junseo, só que indiretamen-te: estou embalando todas as suas roupas. E posso sentir a intensidade do desejo de Hyejin de tirá-lo de casa, porque, talvez pela primeira vez em sua vida, nem sequer lhe ocorreu procurar um cupom de brinde antes de me mandar comprar uma pilha enorme de caixas de papelão.

   Não quis deixar minha irmã sozinha enquanto saía correndo, então liguei para mamãe, que trouxe Sohee, Soyeon, Hyunjin e Sana, que, ao que tudo indica, mandaram uma mensagem de texto para meu tio e para sua filha, Ryujin, para que trouxessem mais garrafas de vinho. Ryujin e titio também trouxeram biscoitos, junto com um monte de primos. Então, mais rápido do que alguém possa dizer "Já vai tarde, canalha", somos vinte e dois trabalhando para recolher cada vestígio pessoal de Lee Junseo e colocar em caixas na garagem.

Exaustos, mas com a missão cumprida, todos nos ajeitamos em qualquer superfície plana e vazia que encontramos na sala de estar, e já parece que temos novas tarefas: a minha é aconchegar Hyejin, a de Sana é manter a taça de vinho dela cheia, a de mamãe é massagear os pés dela, a de titio é renovar o prato de biscoitos de tempos em tempos, a de Soyeon e Hyunjin é cuidar da música, a de Ruyjin é andar de um lado para o outro da sala enquanto detalha precisamente como vai castrar Junseo, e a de todos os outros é cozinhar comida suficiente para o próximo mês.

— Você vai se divorciar dele? — Sana pergunta, com cuidado, e todos esperam pelo sobressalto de mamãe... Mas ele não vem.

   Hyejin faz que sim com a cabeça, com o rosto junto à taça de vinho.

E mamãe eleva a voz.

— É claro que Hyejin vai se divorciar dele.

   Todos nós olhamos para ela, espantados, e finalmente ela dá um suspiro exasperado.

— Ei basta! Vocês acham que minha filha é tão burra quanto os pais dela para se envolver no mesmo jogo idiota que eles vêm jogando há duas décadas?

   Hyejin e eu nos entreolhamos e, então, desatamos a rir. Após um instante de silêncio pesado, toda a sala, incrédula, começa a rir e, finalmente, até mamãe está rindo.

   Em meu bolso, o celular volta a tocar. Dou uma espiada, mas não o escondo rápido o suficiente e Hyejin consegue ver a foto de Minho na tela antes que eu consiga recusar a ligação.

   Já ligeiramente embriagada, Hyejin se inclina para mim.

— Ah, é uma boa foto dele. Onde você a tirou?

   Sinceramente, é um pouco doloroso lembrar aquele dia, quando Minho e eu alugamos o Mustang e passeamos ao longo da costa de Maui. Foi naquele dia que nos tornamos amigos. E ele me beijou naquela noite.

— Foi na fenda d'água de Nakalele.

— É bonita?

— É — respondo baixinho. — Na verdade, incrível. Toda a viagem foi. A propósito, obrigada.

Hyejin fecha os olhos com força.

— Ainda bem que Junseo e eu não fomos.

— Sério? — pergunto, encarando-a.

— Sim! Porque eu me arrependeria de ter perdido isso agora. Teríamos tido mais boas memórias arruinadas. Eu deveria ter percebido que foi um mau presságio quando todos, exceto você e Minho, ficaram doentes no casamento. Foi um sinal do universo... — Hyejin diz.

— Céus — mamãe se intromete na conversa.

— ... Você e Minho deveriam ficar juntos — Hyejin fala gaguejando. — Não eu e Junseo.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora