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SAIMOS DO ELEVADOR, passamos pelo saguão e, na escuridão, entramos em um táxi. Ainda não respondi à pergunta dele. É uma pergunta sobre a qual preciso pensar mais um pouco para responder, e Minho aparentemente não está com pressa, porque não me pergunta de novo.

O que é incrível é que, mesmo às quatro e meia da manhã, há trânsito no parque nacional em direção ao pico da cratera. Há vans com bicicletas, grupos de caminhada e casais como nós — somos uma espécie de casal — planejando estender uma toalha e se aconchegar no frio da manhã.

Levamos uma hora para atravessar o trânsito e chegarmos ao topo, onde escalamos várias rochas até o pico. Ainda que o céu esteja escuro, a vista é de tirar o fôlego. Há grupos de pessoas amontoadas no frio ou sentadas no chão com cobertores, mas está estranhamente silencioso, como se todos fossem respeitosos o suficiente para manter sua voz baixa quando estão prestes a testemunhar um nascer do sol de 360 graus.

Minho estende duas toalhas de praia que pegamos emprestadas do hotel e acena para que eu me abaixe. Ele me orienta a se sentar entre suas pernas longas e estendidas e me puxa contra seu peito. Não me parece que esteja muito confortável, mas me sinto no paraíso. Assim, eu cedo e simplesmente baixo a guarda por um longo e silencioso período.

Quem me dera saber o que está acontecendo — tanto entre nós quanto dentro do meu coração. Parece que o próprio órgão ficou maior, como se exigisse ser visto e ouvido, lembrando-me de sou uma mulher de sangue quente, com desejos e necessidades que vão além do básico. Estar com Minho parece cada vez mais como mimar a mim mesma com um par de sapatos novos e perfeito ou com um jantar extravagante. Só não me convenci ainda de que mereço isso diariamente... Ou de que isso possa durar.

É óbvio para mim que ambos caímos em uma reflexão silenciosa a nosso respeito e não me surpreende nada quando ele afirma:

— Eu te fiz uma pergunta mais cedo.

— Eu sei.

"Estamos apenas tendo um namorico de férias, não é?"

"É isso que temos?"

Ele volta a ficar em silêncio; é claro que não tem que repetir o que disse. Mas não tenho certeza de onde minha cabeça está nesse assunto específico.

— Eu estou... pensando.

— Pense em voz alta — ele diz. — Comigo.

Meu coração realiza uma manobra difícil e sinuosa por causa da maneira com que Minho tão facilmente me pede aquilo de que precisa e que sabe que posso lhe dar: transparência.

— Nós nem gostávamos um do outro havia uma semana — eu o lembro.

Sua boca pousa delicadamente ao lado do meu pescoço.

— Acho que devemos atribuir tudo isso a um mal-entendido bobo. Ajudaria se eu tratasse esse seu trauma com uma porção de bolinhas de queijo quando voltássemos para casa?

— Sim.

— Você promete dividi-la comigo? — ele pergunta e volta a me beijar.

— Só se você pedir com muita gentileza.

Neste momento, só posso atribuir meus sentimentos pré-Maui a respeito de Minho como reacionários e defensivos. Quando uma pessoa não gosta da gente, é natural não gostar dessa pessoa, não é? Mas a lembrança de que Junseo disse a Minho que sou sempre amarga traz à tona algo que ele hesitou em discutir...

Sei que tendo a ser a pessimista enquanto Hyejin é a otimista, mas não sou zangada. Não sou ríspida. O que sou é cautelosa e desconfiada. O fato de que Junseo disse isso a Minho — e que Junseo por acaso estava transando com outras mulheres quando disse isso — me deixa especialmente desconfiada de Junseo.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora