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   ESTÁ SILENCIOSO ANTES DE a correria da hora do jantar começar, e estou fazendo a verificação final da minha seção. Sohee é o quarto membro da família a passar pelo restaurante exatamente às quatro horas nesta semana. Ela disse que queria cumprimentar Junghoon porque não o via fazia séculos, mas sei que isso era mentira, porque Hyunjin — que passou ontem para me incomodar, apelando para uma história igualmente frágil — disse que Junghoon e Sohee visitaram tia Rosé há menos de uma semana.

Por mais que o tamanho e a presença de minha família possam parecer opressivos, trata-se do maior apoio que tenho agora. Mesmo que faça de conta que estou aborrecida com o fato de estarem me vigiando constantemente, todos percebem que é fingimento. Porque, se fosse qualquer um deles enfrentando dificuldades e foi o caso, muitas vezes —, eu também encontraria um motivo para dar uma passada às quatro horas onde quer que trabalhasse.

— Min, quando estamos tristes, nós comemos — Sohee afirma, seguindo-me com um prato de comida enquanto ajusto o posicionamento de duas taças de vinho em uma mesa.

— Eu sei — digo a ela. — Mas, juro, não consigo mais comer.

— Você está começando a parecer uma boneca cabeçuda da Selena Gomes — ela diz e aperta minha cintura. — Não gosto disso.

A família sabe que Minho terminou comigo, e que Hyejin e eu estamos "discutindo" (embora não haja nada claro a esse respeito; eu liguei para ela algumas vezes após nosso grande arranca-rabo, e, duas semanas depois, ela ainda não retornou nenhuma de minhas chamadas). Nos últimos dez dias, fui bombardeada com mensagens bem-intencionadas, e minha geladeira está cheia de comida que minha mãe traz diariamente da casa de tio Seojoon, Rosé, Sohee, Soyeon, Doyoon, titia Haeun, Jiyeon, Yoona.. Quase como se tivessem feito uma calendário da alimentação da Minji. Minha família alimenta as pessoas. E o que eles fazem. Ao que tudo
indica, minha ausência no jantar de família por duas semanas consecutivas — por causa do trabalho — deixou todo mundo em alerta máximo e louco por não saber o que está acontecendo.

   Não posso culpá-los. Se Soyeon, Sohee ou Hyunjin se escondessem, eu ficaria louca de preocupação. Mas não quero compartilhar minha história. Não saberia como contar o que está acontecendo e, segundo titia Haeun, que passou ontem pelo restaurante para "hum. pegar um cartão de visitas de um corretor de seguros com o Junghoon", Hyejin também não quer falar a respeito.

— Vi a Hyejin ontem. — Sohee faz uma pausa longa até que eu pare de me preocupar com os preparativos da mesa e olhe para ela.

— Como ela está? — pergunto e não consigo evitar a aflição. Sinto falta de minha irmã e estou devastada pelo fato de ela não estar falando comigo. É como perder um membro. Todos os dias, chego muito perto de ceder e dizer: "Você provavelmente tem razão. Junseo não fez nada de errado", mas as palavras simplesmente não saem, mesmo quando testo a mentira diante do espelho. Elas grudam em minha garganta, e sinto que vou chorar. Nada tão terrível aconteceu comigo — além de perder o emprego, minha irmã e meu namorado em um período de 24 horas —, mas ainda sinto uma espécie de raiva ardente de Junseo, como se ele tivesse me estapeado com a própria mão.

   Sohee dá de ombros e tira um fiapo de minha gola.

— Ela pareceu estressada e me perguntou a respeito de uma garota chamada Jinah.

— Jinah? — repito, buscando em minha memória por que esse nome me soa familiar.

— Aparentemente, o Junseo recebeu algumas mensagens dela e a Hyejin as viu no celular dele.

— Tipo, mensagens quentes?

Isso me deixa tão arrasada quanto esperançosa se for verdade: quero que
Hyejin acredite em mim, mas prefiro estar enganada a respeito de tudo isso a vê-la sofrer.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora