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EU ME OLHO NO espelho todos os dias e, por esse motivo, não deveria ser tão chocante ver Hyejin parada em sua varanda esperando por mim, mas é. Nunca ficamos duas semanas sem nos ver; mesmo na época da faculdade. Estudávamos em universidades diferentes, mas, mesmo nas semanas mais atarefadas, ainda nos víamos nos jantares de domingo.

   Abraço-a o mais forte possível e a aperto ainda mais forte quando percebo que ela está chorando.

— Senti muita saudade de você — ela diz, soluçando em meu ombro.

— Eu também.

— É uma droga.

— Eu sei — digo, recuo e enxugo o rosto de Hyejin. — Como você está?

— Eu estou..

   Hyejin para de falar e, então, ficamos paradas ali, sorrindo uma para a outra por meio de telepatia, porque a resposta é óbvia: "Uma intoxicação alimentar arruinou minha festa de casamento, perdi minha lua de mel e agora meu marido pode estar me traindo"

— Eu estou viva — Hyejin completa.

— Ele está em casa?

— No trabalho — ela responde, apruma-se e respira fundo, recompondo-se. — Vai chegar por volta das sete.

   Hyejin se vira e me leva para dentro. Eu adoro a casa deles: é com o conceito aberto e também bem iluminada. Sou grata pela forte habilidade de Hyejin com decoração, porque suponho que, se fosse deixada a cargo de Junseo, incluiria um monte de vermelho, que é a cor da seleção sul-coreana de futebol, alvos de dardos e talvez alguns sofás de couro moderninhos e um carrinho de bebidas que ele nunca usaria.

   Hyejin vai até a cozinha e serve vinho para nós em duas grandes taças.

Dou uma risada quando ela entrega a minha.

— Ah, então é esse tipo de noite.

   Ela sorri, embora eu possa dizer que não há nenhuma felicidade ali.

— Você não faz ideia.

   Ainda sinto que tenho de pisar em ovos em relação ao assunto, mas não posso deixar de perguntar.

— Você pegou o celular dele ontem à noite?
Quais são as novidades?

— Peguei — Hyejin responde e toma um longo gole. Em seguida, olha para mim por cima da borda da taça. — Eu lhe conto tudo mais tarde — prossegue, inclina a cabeça, indicando que devo segui-la até a sala de estar, onde ela já deixou nossos pratos de lasanha em duas bandejas de colo.

— Bem, parece saborosa — digo.

   Ela agradece com uma reverência, joga-se no sofá e coloca Doentes de Amor para assistirmos. Nós o perdemos enquanto estava em cartaz, mas pretendíamos vê-lo um dia, então sinto uma doce pontada de emotividade na garganta ao saber que Hyejin me esperou para isso.

   A lasanha está perfeita, o filme é maravilhoso e quase me esqueço de que
Junseo mora aqui. Contudo, depois de uma hora de filme, a porta da frente se abre. Hyejin muda todo o seu comportamento. Ela se senta com a coluna reta, as mãos nas coxas e respira fundo.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora