epilogue 01

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Dois anos depois
MINHO

— Cara ele apagou.

— Ele está babando?

— Ele é um dorminhoco fofinho. Mas está em sono profundo, caramba. Aposto que as pessoas desenharam no rosto dele na faculdade.

— Normalmente o sono dele não é tão profundo.

   Uma pausa. Tento abrir os olhos, mas a névoa do sono ainda é muito pesada.

— Estou com vontade de lamber o rosto dele para acordá-lo. Seria uma maldade?

— Sim.

   Muitos disseram que minha namorada e sua irmã são tão parecidas que até suas vozes soam iguais, mas, depois de dois anos com ela, consigo distinguir facilmente a de Minji. Ambas as vozes são delicadas, com um sotaque quase imperceptível, mas a de Minji é mais rouca, um pouco estridente, como se ela não a usasse muito. Sempre a ouvinte no meio de muitas pessoas; a espectadora.

— Seungmin?

   É a voz de Hyejin de novo, ondulante e lenta, como se viesse através da água.

— Você consegue carregá-lo para fora do avião se for preciso?

— É improvável.

Sou empurrado. Uma mão chega ao meu ombro, deslizando do meu pescoço até o rosto.

— Minhooooo, aqui é o seu pai. Estamos pousando.

Na verdade, não é o meu pai; é Minji, falando através de seu punho diretamente no meu ouvido. Eu me arrasto para fora do sono com muito esforço, piscando. O assento à minha frente entra em um foco embaçado;
a superfície dos meus olhos parece gelatinosa.

— Ele está vivo! - Minji exclama, inclina-se sobre meu campo de visão e sorri. — Oi.

— Oi — respondo, levanto uma mão pesada e esfrego meu rosto, procurando limpar a névoa.

— Estamos quase pousando — Minji diz.

— Juro que acabei de adormecer.

— Oito horas atrás — ela me informa. — O que o doutor Seungmin te deu funcionou bem.

Inclino-me para a frente, olhando para além de Minji, que está no assento do meio, Hyejin está no assento do corredor, e o novo namorado dela.

— e meu amigo de longa data e médico, Kim Seungmin — está sentado na poltrona do outro lado do corredor. — Acho que você me deu uma dose para cavalo.

Ele projeta o queixo e diz:

— Você é um peso leve.

Caio para trás contra o assento, preparando-me para voltar a fechar os olhos, mas Minji estende a mão e vira meu rosto para a janela, para que eu veja. A visão é de tirar o fôlego; a intensidade da cor é como um tapa. Eu perdi isso na primeira vez que viemos a Maui, já que passei o voo inteiro fingindo não olhar para os seios de Minji através de minha névoa de ansiedade, mas, abaixo de nós, o Oceano Pacífico é uma safira repousando no horizonte. O céu está tão azul que é quase neon; apenas um punhado de nuvens delicadas são corajosas o suficiente para bloquear a visão.

— Puta merda! — exclamo.

— Falei para você — Minji diz, inclina-se e beija meu rosto. — Você está bem?

— Grogue.

Minji estende a mão e puxa minha orelha.

— Perfeito, porque a primeira parada será um mergulho no mar. Isso vai acordar você.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora