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O HOTEL PROVIDENCIOU UM ônibus para nos levar ao campo de paintball. Paramos diante de uma construção industrial ladeada por um estacionamento e com mata ao redor. Não está chovendo forte — é mais como um chuvisco constante e enevoado — e, ah, sim, está tudo enlamado.

No interior, o escritório é pequeno e tem cheiro de sujeira e tinta. Um cara branco, grande e alto, usando uma camiseta havaiana híbrida — isto é, com uma padronagem camuflada e floral —, e com uma etiqueta com o nome de HOGG, está atrás do balcão para nos recepcionar. Ele e Minho discutem as diversas opções do jogo, mas eu mal os ouço. Acima do balcão, as paredes estão cobertas de prateleiras com capacetes, armaduras, óculos de proteção e luvas. Um cartaz está pendurado ao lado da outra porta e diz "FIQUE CALMO E RECARREGUE". Também há armas. Muitas delas.

Provavelmente é uma péssima hora para me dar conta de que nunca segurei uma arma antes, e muito menos atirei com uma.

Hogg se dirige para um recinto nos fundos e Minho se vira para mim, indicando uma parede com uma lista de nomes e classificações: os jogadores que ganharam algum tipo de guerra de paintball.

— Isso parece bastante intenso — ele diz.

Aponto para o outro lado do recinto, onde uma placa alerta "MINHAS BOLAS PODEM ACERTAR VOCÊ NO ROSTO".

— A palavra que acho que Hogg estava procurando era "elegante" — afirmo e pego uma arma de paintball descarregada feita para se parecer com um rifle. — Você se lembra daquela cena em Como Eliminar Seu Chefe, em que Jane Fonda está usando um traje de safári e passa pelo escritório em busca do senhor Hart?

— Não — Minho responde, apontando a cabeça para os equipamentos juntos às paredes, docemente distraído. — Por quê?

Sorrio quando ele olha para mim.

— Por nada — digo e aponto para a parede. — Você já atirou com uma arma antes?

   Ele fica quieto. Então, meu cérebro entra em um túnel maluco, imaginando a tragédia de uma cabeça de zebra adornando a parede da sala de estar de sua casa. Meu Deus, e se ele for uma dessas pessoas horríveis que vão para a África caçar rinocerontes?

   Minha fúria com essa versão de Lee Minho começa a retornar em sua glória plena e tempestuosa.

— Só no estande de tiro, com Junseo, algumas vezes. É mais uma coisa dele do que minha — Minho enfim quebra o silêncio. Ele fica surpreso ao ver minha expressão. — O que foi?

   Respiro fundo, percebendo que acabei de fazer o que sempre pareço fazer, que é mergulhar imediatamente no pior cenário possível.

— Antes que você esclarecesse, eu o imaginei usando um traje de safári, com o pé apoiado sobre uma girafa morta.

— Pare com isso — ele diz. — Que nojo.

Retraindo-me, encolho os ombros.

— É assim que eu sou.

— Então me conheça primeiro. Mereço o benefício da dúvida.

   Minho diz essas palavras com calma, quase de improviso. Em seguida, faz cara feia para uma fivela à venda no balcão que diz "A primeira regra de segurança com armas: não me irrite".

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora