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   O PLANO DEPOIS DE pousarmos: pegaremos as bagagens, dividiremos um táxi para Seoul, e cada um passará a noite em sua respectiva casa. Já combinamos que o táxi vai me deixar em meu prédio — para que Minho me veja entrar em segurança —, antes de levá-lo. Estou certa de que será estranho dormir sozinha, mas combinamos de nos encontrar para o café da manhã, momento em que, sem dúvida, vou atacá-lo, em vez de fazer o que planejamos fazer: descobrir como e quando contar a Hyejin e para Junseo sobre a gente.

Tudo neste final de viagem se destaca por ser totalmente diferente do início. Não nos sentimos pouco à vontade. Estamos de mãos dadas, caminhando pelo terminal do aeroporto, discutindo numa boa a respeito de qual dos dois vai ceder primeiro e aparecer na porta do outro.

Minho se curva junto à esteira das bagagens, dando um beijo em
minha boca.

— Você poderia vir comigo agora e poupar a viagem mais tarde.

— Ou você poderia já ficar em casa.

— Mas minha cama é fantástica — ele argumenta. — É grande e o colchão é firme, mas não duro...

Percebo imediatamente onde residem todos os nossos problemas futuros: somos ambos pessoas caseiras e teimosas.

— Sim, mas quero entrar na minha banheira e usar todos os produtos para banho que tenho e de que senti falta nos últimos dez dias.

Minho torna a me beijar e recua para dizer algo mais, mas seus olhos esvoaçam por cima do meu ombro e todo o seu comportamento muda.

— Puta merda!

As palavras parecem ecoar, multiplicadas a certa distância. Eu me viro e vejo o motivo pelo qual Minho está boquiaberto. Fico em estado de choque: Junseo e Hyejin estão a poucos metros, segurando um cartaz que nos saúda com "Sejam bem-vindos da nossa lua de mel!". Agora entendo o que ouvi. Hyejin e Minho falaram as mesmas palavras, ao mesmo tempo.

Há um tumulto em meu cérebro: que sorte a minha, puta merda!

Fico temporariamente incapaz de decidir o que processar primeiro: o fato de que minha irmã está aqui; e que me viu beijando Minho; e que Junseo me viu beijando Minho; ou a realidade de que, mesmo onze dias depois de terem sido derrubados por uma toxina, os dois ainda parecem péssimos.

Acho que Hyejin perdeu mais de cinco quilos e Junseo ainda mais. O tom acinzentado da pele de Hyejin ainda não sumiu completamente e suas roupas sobram no corpo.

E aqui estamos nós, Minho e eu, claramente mais bronzeados, descansados e namorando na esteira de bagagens.

— O que estou vendo? — Hyejin diz, baixando sua metade do cartaz, atordoada.

Certamente vou analisar minha reação mais tarde, mas, como não sei se Hyejin está animada ou brava agora, solto a mão de Minho e dou um passo para longe dele. Pergunto-me qual é a impressão que minha irmã tem disso. Desfrutei sua lua de mel, não paguei quase nada, não sofri nada e voltei para casa beijando o homem que deveria odiar; e nunca mencionei nada disso para ela nos telefonemas nem nas mensagens de texto.

— Nada, estávamos apenas nos despedindo — digo a ela.

— Vocês estavam se beijando? — Hyejin pergunta, com os olhos castanhos arregalados.

— Sim — Minho responde, convicto.

Não — eu respondo, ao mesmo tempo, enfática.

Minho olha para mim, sorrindo maliciosamente diante da facilidade com que essa mentira escapou de mim. Percebo que ele está mais orgulhoso da minha suavidade do que aborrecido com minha resposta.

— Ok, sim — eu corrijo. — Estávamos nos beijando. Mas não sabíamos que vocês estariam aqui. Íamos contar amanhã.

— Contar o quê, exatamente? — Hyejin pergunta.

Minho desliza o braço em torno de meu ombro, puxando-me para perto dele.

— Que estamos juntos.

Pela primeira vez, olho bem para Junseo. Ele está encarando Minho com os olhos semicerrados como se estivesse tentando transmitir palavras para o crânio do irmão. Procuro esconder minha reação, sabendo que provavelmente é apenas minha própria leitura da situação, mas o olhar penetrante de Junseo parece muito com "O que você contou para ela?"

— O que é legal — Minho conclui calmamente.

Minha decisão de não me meter na vida dos outros retorna, intensificada por uma potente mistura de adrenalina em meu sangue.

— Tudo é muito legal — afirmo, em voz alta, e dou uma piscadela dramática e provavelmente imprudente para Feliz. — Superlegal.

Sou uma maníaca.

Junseo cai na risada e finalmente quebra o gelo, dando um passo à frente para me abraçar primeiro e depois ao irmão. Hyejin continua a me encarar em estado de choque e, então, lentamente, arrasta os pés em minha direção. Ela parece um esqueleto em meus braços.

— Cara, vocês dois estão mesmo tendo um lance agora? — Junseo pergunta ao irmão.

— Sim — Minho responde.

— Neste momento, acho que posso consentir nisso — Junseo afirma, sorrindo e acenando com a cabeça para cada um de nós como se fosse um chefe benevolente.

— Hum, isso é bom? — digo.

Hyejin ainda não relaxou nem um pouco.

— Como isso aconteceu?

Encolho os ombros, retraindo-me.

— Eu o odiava até não o odiar mais.

— E realmente um resumo muito preciso —Minho afirma e volta a deslizar um braço em torno de meus ombros.

Minha irmã balança a cabeça lentamente, olhando boquiaberta para nos dois.

— Não sei se devo ficar feliz ou horrorizada. Isto é o apocalipse? É isso que esta acontecendo?

— Poderíamos trocar de gêmeas um dia desses — Junseo diz para Minho e, em seguida, irrompe em uma risada meio cafajeste. Eu fico séria.

— Isso iria... — paro de falar e faço um gesto negativamente enfático com a cabeça. — Não, obrigada.

— Meu Deus, fique quieto, querido — Hyejin ri e bate no ombro do marido. — Você é muito nojento.

Todos riem, exceto eu, e me dou conta de que é tarde demais, então minha risada sai como um brinquedo que fala.

Mas acho que este é meu problema com Junseo, em poucas palavras: ele é nojento. E, infelizmente, minha irmã o ama, estou transando com o irmão dele e, há menos de cinco minutos, dei uma piscadela de "tudo em ordem" para Junseo. Tomei minha decisão: Vou ter de me comportar como uma mulher adulta e lidar com isso.

@ard4kani

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora