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UMA VEZ QUE MINHO e eu descobrimos que moramos a apenas três quilômetros de distância um do outro, seria de se imaginar que encontraríamos uma maneira de alternar entre os apartamentos à noite. Errado. Claramente, sou péssima em fazer concessões, porque, desde quarta-feira à noite, quando voltamos de Maui, até segunda-feira de manhã, quando começo a trabalhar em meu novo emprego, Minho passa todas as noites em meu apartamento.

Ele não deixa nada aqui (exceto uma escova de dentes), mas, com efeito, aprende que tenho de apertar meu despertador quatro vezes antes de sair da cama para ir à academia, que não uso minha colher favorita para algo tão banal quanto mexer o café, que minha família pode e vai aparecer no momento mais inoportuno, e que exijo que ele ligue a televisão ou coloque alguma música sempre que uso o banheiro.

Porque sou uma dama, obviamente.

Porém, com essa familiaridade vem a consciência de como tudo está caminhando rápido. Na altura em que chegamos perto de duas semanas juntos — o que, no grande curso da vida, não é nada —, sinto como se Minho fosse meu namorado desde o momento em que o conheci na feira estadual, anos atrás.

   Tudo é fácil, divertido e sem esforço. Não é como inícios de relacionamentos supostamente são: estressantes, exaustivos e incertos.

   A manhã do dia em que vou trabalhar na Hamilton Biosciences pela primeira vez não é o momento para uma crise existencial a respeito de estar avançando rápido demais com meu novo namorado, mas meu cérebro não recebeu o lembrete.

   Com um terninho novo, um salto bonito, mas confortável, e o cabelo arrumado com secador até se tornar uma folha de seda nas costas, olho para Minho sentado à minha pequena sala de jantar.

— Você não disse nada sobre como estou essa manhã.

— Eu disse com os olhos quando você saiu do quarto; você só não estava olhando — ele dá uma mordida na torrada e fala através dela. — Você está linda, profissional e inteligente — pausa para engolir e acrescenta: — Mas também gosto da sua versão desmazelada da ilha.

   Passo um pouco de manteiga na minha torrada e, em seguida, pouso a faca com estrépito.

— Você acha que estamos indo rápido demais?

   Minho beberica seu café, os olhos castanhos agora focados nas notícias que passam pela tela de seu celular. Ele nem se abala com a minha pergunta.

— Provavelmente.

— Isso o preocupa?

— Não.

— Nem um pouco?

Ele torna a erguer a vista para mim.

— Você quer que eu fique na minha casa hoje à noite?

— Deus, não — solto, em um reflexo completamente automático. Ele sorri, metido, e baixa os olhos mais uma vez. — Mas talvez? — digo. — Você devesse?

— Não acho que haja regras para isso.

   Dou uma golada em meu café escaldante solto um gritinho de dor. Encaro-o. — plácido como sempre, o nariz enfiado novamente em algum site de notícias diárias.

— Por que você não está surtando um pouco?

— Porque não estou começando em um emprego novo hoje e procurando por motivos que expliquem meu estresse a respeito desse fato — ele pousa o celular e cruza os braços sobre a mesa. — Você vai ser ótima; sabe disso.

   Resmungo, não convencida. Minho é mais intuitivo do que eu pensei que fosse.

— Talvez devêssemos nos encontrar com Hyejin e Junseo para tomar uns
drinks mais tarde — ele sugere. — Sabe, para digerir seu primeiro dia, para nos certificarmos de que ninguém está chateado com essa situação atual. Sinto que estive monopolizando você.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora