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ENQUANTO MINHO TAGARELA FACILMENTE durante toda a refeição e até a sobremesa, eu o contemplo, esforçando-me para não deixar meu queixo cair com muita frequência: acho que nunca o vi sorrir tanto.

Uma parte de mim quer puxar o celular outra vez e tirar uma foto; a mesma parte que quer catalogar cada uma de suas características: as sobrancelhas e os cílios dramáticos, os olhos castanhos; o nariz impecável; a boca carnuda e inteligente. Tenho a sensação de estarmos morando em cima de uma nuvem; independente do que eu diga à minha cabeça e meu e ao meu coração, receio precisar fazer um pouso forçado quando voarmos de volta para Seoul em questão de dias. Por mais que eu lute contra o pensamento, ele fica retornando, sem convite: "Isso não pode durar. É bom demais".

Ele passa um morango pela calda de chocolate ao lado da cheesecake que estamos dividindo, e então segura o garfo no alto.

— Estava pensando que poderíamos ir ao Haleakalã amanhã, ao nascer do sol.

— O que é isso? — pergunto e roubo o garfo, comendo o pedaço perfeito que ele preparou. Ele sorri. Tento não deixar que isso me desconcerte. Lee Minho fica numa boa depois de eu usar seu garfo. A Choi Minji de duas semanas atrás está pasmada.

— É o ponto mais alto da ilha — ele explica. — De acordo com Carly, a garota da recepção, é a melhor vista da região, mas temos que chegar lá bem cedo.

— Carly da recepção, hein?

Minho ri.

— Tive que encontrar alguém com quem conversar enquanto você fazia compras a tarde toda.

Apenas uma semana atrás, eu teria feito um comentário sarcástico e cortante em resposta a isso, mas meu cérebro não há nada além de coraçõezinhos e do anseio de beijá-lo.

Então, estendo meu braço sobre a mesa para alcançar sua mão. Ele aceita a minha sem hesitar, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

— Então, acho que, se vamos acordar para ver a aurora, provavelmente temos que ir para a cama mais cedo — digo baixinho.

Seus lábios se entreabrem, e sua vista se fixa em minha boca. Lee Minho é ligeiro.

— Acho que você tem razão.

[...]

O alarme do celular de Minho toca às quatro da manhã. Acordamos assustados, resmungamos na escuridão e rolamos nus pelo lençol bagunçado indo para fora da cama. Embora estejamos em uma ilha tropical, a Carly da recepção disse a Minho que a temperatura antes do amanhecer no pico da montanha costuma ser abaixo de congelante.

Apesar de nossa melhor intenção de ir dormir cedo, o homem me manteve acordada por horas com suas mãos, sua boca e um vocabulário cheio de palavras sujas. Sinto como se uma densa névoa de sexo pairasse em meu cérebro mesmo quando ele ascende as luzes da sala de estar. Com os dentes escovados, beijos dados, Minho prepara um café e eu arrumo uma bolsa com água, frutas e barrinhas de cereal.

— Quer ouvir minha história de escalada de montanha? — pergunto.

— Envolve falta de sorte?

— Isso aí.

— Estou ouvindo.

— No verão, depois do segundo ano de faculdade, Hyejin, Soyeon, Hyunjin e eu fizemos uma viagem a um parque nacional, porque Soyeon estava em uma pegada de ficar em forma e queria escalar uma montanha.

— Ai, ai.

— Sim! — cantarolo. — É uma história terrível. Bom, Hyejin e Soyeon, estavam em ótima forma, mas eu e Hyunjin, digamos, mais para criaturas que habitavam o sofá em frente à TV do que para corredoras. Claro, a trilha em si é insana, e achei que fosse morrer pelo menos cinquenta vezes (o que não tem nada a ver com sorte, apenas com sedentarismo), mas então começamos a última subida vertical até o topo. Ninguém me disse para prestar atenção em onde colocar as mãos. Alcancei uma fenda para me segurar e agarrei uma cascavel.

𝗧𝗛𝗘 𝗨𝗡𝗛𝗢𝗡𝗘𝗬𝗠𝗢𝗢𝗡𝗘𝗥𝗦 ― 𝗟𝗘𝗘 𝗠𝗜𝗡𝗛𝗢Onde histórias criam vida. Descubra agora