34

5.6K 566 91
                                    

NADA SE COMPARA COM A sensação  de poder tocar seu instrumento novamente

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

NADA SE COMPARA COM A sensação de poder tocar seu instrumento novamente. A aula havia sido produtiva e meu professor elogiou a forma como toquei, como se não tivesse mais ninguém na sala, apenas eu e o violino.

Todas as segundas e quartas eu tinha prática. O estúdio ficava a umas duas quadras de casa e eu fazia o mesmo percusso desde meus 10 anos. Primeiramente ia com minha mãe, até ganhar uma certa idade e poder andar na rua sozinha. Duas horas tocando foram o suficiente para satisfazer a vontade que estava de usar as cordas novas.

Assim que cheguei em casa, tomei banho e me arrumei para o trabalho. Sol estava deitada sobre minha cama, dormindo. Fiz um almoço mais preparado, com ovos e bife. Aquilo estava divino, é foi uma ótima refeição pra quem pretendia atender muitas pessoas hoje.

-- Bom dia, flor do dia -- sou recebida por May, que já estava com seu avental por trás do balcão

-- Bom dia, Maymay -- dou um sorriso guardando minha bolsa e colocando meu avental também. O dia estava ensolarado ainda, por mais que já se passassem da uma da tarde

-- Dormiu bem?

-- Muito bem, na aula o professor elogiou minha concentração quando eu toquei com as cordas novas -- falo lembrando de como me senti ao ouvir isso

Qualquer elogio que eu recebia sobre meu violino, ou da maneira que tocava ele, significava muito pra mim. Era algo que eu amava fazer, e que se pudesse, viveria apenas disso. Foram anos tentando aprender músicas que hoje para mim são consideradas simples. Violino é um instrumento muito difícil, e se você não se empenhar, vai continuar girando e girando sem sair do lugar.

-- Que bom! Posso dizer que quando cheguei você nem sabia que o violino tinha cinco cordas -- a garota fala fazendo eu a encarar

-- Quatro May, quatro cordas -- falo dando uma risada

-- Foi o que eu disse, quatro cordas -- ela retruca voltando ao balcão para atender o primeiro cliente

Pessoas entravam e saíam da lanchonete, quase sempre com os mesmos pedidos. Eu me identificava com alguns, mas era estranho quando alguém pedia café em plenas três horas da tarde. Eu amava café, mas se tomasse um agora, passaria a noite acordada. E essa não era minha intenção.

-- Finalmente, mais quinze minutos e podemos fechar -- falo fechando o caixa por esperar que mais ninguém viesse, por conta do horário. May já estava lavando alguns pratos na cozinha, com seu rádio ligado, dando para ouvir suas músicas do outro lado da esquina se duvidasse.

Mas pelo visto, não poderíamos fechar agora. Nosso chefe nos orientou para que apenas fechássemos as portas quando todos os clientes tivessem saído. Mas nesse caso, um acabara de entrar pela porta, fazendo o sininho que havia pendurado tocar, indicando que havia mais uma pessoa ali.

-- Ainda da tempo de comprar um sanduíche de atum? -- vejo o garoto de dreads loiros se aproximar do balcão

-- Muito, muito tarde. Estamos fechados -- respondo

-- Ainda não. Na placa diz que fecha ás oito e meia, e ainda são oito e vinte. Dez minutos -- Tom diz olhando e apontando para o relógio que havia pendurado na parede

-- 5 euros -- falo abrindo o caixa novamente, vendo o garoto retirar algo do bolso

-- E se eu quiser que a balconista venha junto, fica quanto? -- o garoto põe uma de suas mãos sobre o balcão

-- Não temos essa opção no cardápio, infelizmente -- falo

-- Então terão que abrir uma exceção -- Tom passa por baixo da portinha que separava o balcão de onde os clientes faziam seus pedidos -- Não acha que eu mereço uma exceção? -- o garoto pergunta se aproximando de mim e colocado sua mão em minha cintura

-- Não acho. Não abrimos exceções aqui -- falo terminando com um sorriso de canto

-- Te espero lá fora, gatinha -- ele sussurra em meu ouvido

Meu corpo arrepia só de tê-lo por perto, e isso não é bom. Isso não é nada bom.

-- Já fechou moranguinho? -- escuto May gritar de dentro da cozinha

-- oito e meia -- o loiro passa novamente por baixo da portinha, deixando o dinheiro em cima do balcão e saindo pela porta da lanchonete.

É hoje que eu não saio daqui.

Ready? | Tom KaulitzOnde histórias criam vida. Descubra agora