– Milady irá encontrá-lo. – A mulher reafirmou com um tom de voz reconfortante. – E fique tranquila que volto a lhe informar se tiver alguma notícia antes de Tyrell.
Sem ouvir uma resposta da senhorita Grantham, supus que sua réplica tivesse vindo sob alguma forma gestual.
O ruído de calçados sobre o piso de ladrilhos me alertou que as duas estavam deixando a cozinha. Rapidamente, eu dissimulei que estava apenas me encaminhando até lá quando as duas damas cruzaram o batente da porta.
– Oh! – A companhia da senhorita Grantham, uma senhora de cabelos grisalhos, rechonchuda, trajando um vestido cinza de saia volumosa, se sobressaltou com minha pessoa. – Estava esperando alguma visita, senhorita? – Ela indagou com surpresa.
– Eu... – lady Grantham me olhou como se não esperasse me ver ali. Talvez tivesse esquecido de nosso trato, ou talvez só não imaginasse que eu fosse de fato cumpri-lo. – Devo ser sincera em dizer que não o estava esperando.
Eu puxei o chapéu pork pie que usava para o lado, em um cumprimento às duas.
– Permita-me me apresentar. – Comecei a dizer. – Senhor Stretford. – Tomei a mão da senhora desconhecida e depositei um beijo em seu dorso. Por ora, preferi não me anunciar como lorde Stretford, uma vez que eu ainda estava fazendo o papel de cidadão comum aos olhos dos outros. – Sou um amigo de lady Grantham.
Diante de minha resposta, a senhora imediatamente trocou um olhar com a senhorita Grantham.
– Um amigo? – Havia uma sombra de dúvidas em seus olhos.
Os lábios de minha nova amiga se abriram e eu sorri, porém, impedi que ela proferisse qualquer palavra, até mesmo que me contradissesse, emendando:
– Não um de longa data, mas um amigo.
Os olhos da dama em trajes de cavalheiro se estreitaram em minha direção, uma reprimenda velada.
– Pois bem. E eu sou a senhora Bentley. – A mulher me fez uma mesura educada.
– Senhora Bentley...! Lady Grantham já me falou de sua pessoa.
– Já? – A matrona esboçou um sorriso tímido.
– Já. É um prazer conhecer alguém que dedica parte de seu tempo a este abrigo. Uma alma nobre, por sinal.
A mulher pareceu envaidecida pelo elogio.
– Bondade sua, senhor.
– Peço perdão, mas a senhora Bentley tem alguns afazeres para cuidar, senhor Stretford. – Minha nova amiga anunciou.
– De fato. Porém... – A senhora alternou o olhar entre nós dois. – Temo que precisarei adiar minha partida.
– Por qual razão? – Lady Grantham quis saber.
– Está fazendo uma visita à senhorita Grantham, não está, senhor Stretford?
– Estou. – Respondi. Parecia-me óbvio quando apresentei-me como amigo da senhorita Grantham.
– Pois então... – A matrona entrelaçou os dedos das mãos, parecendo desconfortável. – Não posso deixá-los sozinhos. Precisarei ficar como dama de companhia dela.
Ah! A etiqueta... Eu me senti ligeiramente frustrado com a ideia de não poder conversar a sós com lady Grantham. Mesmo aqui em Whitechapel, as regras eram levadas a sério...
– Ora, senhora Bentley... Não é meu desejo atrasá-la ou impedi-la de realizar suas obrigações. – Minha amiga protestou.
– Não seria de todo o mal, minha querida. E eu posso dizer que adoraria conhecer um pouco mais do cavalheiro tão educado.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...