Efeitos

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[Sophie]

Por que eu havia acreditado que seria uma boa ideia atender a um pedido daqueles? Nenhum cavalheiro pode ter boas intenções ao propor um encontro escondido.

Mas eu acreditei que lorde Stretford não teria estas más intenções. Não em uma igreja!

Mordi meus lábios, ponderando. Não. Decerto ele não tinha esta pretensão maligna, ainda mais para se pôr em prática em um local sagrado. Fora uma maldade do acaso que nos colocara naquela situação pecaminosa, e eu fui fraca por não ter me mantido firme.

O frio na barriga que senti quando meu amigo pressionou a mão em meu ventre, fazendo meu corpo se unir ainda mais ao seu, retornou em um rompante vívido. Eu fechei os olhos e entrelacei os dedos de minhas mãos com força. Em qual parte do terço eu estava mesmo?

Céus!

Sem ter certeza em qual oração eu parara, pela distração, recomecei o terço desde o início. O que acontecera naquela manhã me deixara em um estado terrível de perturbação.

O toque de sua mão por cima de meus lábios me chicoteou como um castigo, dificultando que eu retomasse a razão. Então o pior dos pensamentos me castigou ainda mais. Era o significado da mais pura indecência: a compreensão de ter a sua masculinidade roçando em meu cóccix, a sensação de reconhecer o seu contorno e o efeito que me causara: um latejamento no meio das pernas...

– Não, Sophie. Não. Por Deus, não! – Eu me recriminei.

Levantei-me, determinada e tomei a sineta do criado mudo, abrindo a porta do quarto com urgência e tocando-a para que um criado viesse.

Quem atendera a meu pedido foi a senhorita Molly. Margot devia estar ocupada no momento ou teria vindo em meu auxílio, como sempre fazia. Com boa vontade, Molly foi e voltou, entregando-me o pequeno pacote pardo, a expressão do rosto dizendo sem palavras que não entendia a razão pela qual eu pedira aquilo. Agradeci a ela e fechei a porta.

Rasguei o pacote e derramei seu conteúdo sobre a tapeçaria, tomando o cuidado de não espalhar por demais os grãos.

Sentei-me na poltrona de frente para a minha cama e levantei as saias do vestido. Abaixei as meias de algodão até os tornozelos. Levantei-me, e ainda com as saias erguidas em mãos, ajoelhei-me nos grãos duros de milho.

~*~

Uma batida à porta interrompeu minha penitência. Pelas minhas contas, ainda faltavam cinquenta orações para enfim completar o rosário. Pensei em ignorar quem quer que fosse, concentrando-me naquela tarefa mais importante, mas a voz que ecoou do lado de fora me jogou um balde de água fria.

– Sophie?

Era Robert.

Se eu não me manifestasse, ele abriria a porta de qualquer forma.

– Entre.

Eu me apressei para terminar a oração em andamento para não perdê-la na contagem.

– Irei ao... – meu irmão perdeu as palavras ao me ver quase na penumbra, ajoelhada em posição de oração.

Já havia anoitecido e eu me preocupei apenas em acender uma única vela, para não ficar na completa escuridão.

– Por que está no escuro? – Robert perguntou. – E por que diabos está ajoelhada no meio do quarto?

– Estou fazendo penitência, não vê? – Respondi, aborrecida por sua interrupção.

– Hum. Tinha me esquecido de que fora à igreja esta manhã.

Flor de East EndOnde histórias criam vida. Descubra agora