Consultei as horas no relógio de madeira em cima da cômoda do quarto. Seis da tarde. Edward chegaria às seis e meia para irmos à ópera. Macbeth. A história de ambição, traição e culpa de Shakespeare. Ele não havia se enganado. Covent Garden estava exibindo uma versão de Verdi, da qual eu já ouvira falar algumas vezes em escassas conversas nos poucos bailes que frequentei nos últimos anos. Aliás, os comentários eram sempre muito positivos.
Margot tomou o arranjo de flores de seda da penteadeira e os ajeitou em meu cabelo. Eu me olhei através do espelho.
– Faz tanto tempo que eu vou à uma ópera. – Comentei.
– Sim. – Margot prendeu as flores em meus cabelos com dois grampos. – Lorde Stretford está fazendo um excelente trabalho em tirar-lhe do luto.
Eu girei o corpo para encará-la.
– Não é como se eu tivesse saído do luto por completo. Uma parte de mim ainda está perdida.
– Como andam as investigações do senhor Tyrell?
– Da última vez em que encontrei a senhora Bentley, ela me disse que ele voltaria em poucos dias.
– E... – Margot passou os dedos por entre os fios de meu cabelo, em uma carícia reconfortante, tomando cuidado para não desfazer o penteado elegante. – Está confiando desta vez? Foram tantas pistas falsas... Tanta frustração a cada negativa.
– A senhora Bentley também me disse as mesmas palavras. – Lembrei-me de seu olhar consolador em minha direção. – Mas desta vez, o senhor Tyrell têm se demorado mais. E meu coração diz que ele enfim está trilhando o caminho para encontrá-lo.
– Já faz dois anos que está nesta busca... – Margot pareceu lamentar.
– Pois eu passaria o resto da vida procurando por ele. – Um ardor ameaçou tomar meus olhos.
Depois que me recuperei de todo o sofrimento, percebi que não conseguiria viver aceitando o destino que me impuseram. Aquela crueldade era tamanha. Não era justo que mulher alguma passasse pelo que eu passei. Nem justo que eu passasse por aquilo.
Margot pegou um pequeno frasco cor de âmbar em cima da penteadeira, mostrando-o a mim.
Fiz que não com a cabeça. Pingar as usuais gotas de beladona fariam minhas pupilas ficarem dilatadas e mais chamativas, mas em compensação, eu me veria com a visão ligeiramente embaçada. E eu queria aproveitar ao máximo da ópera, sem ter que me preocupar em me esforçar para distinguir os rostos dos atores à distância.
Minha fiel criada depositou o frasco de volta ao móvel. Eu me levantei do pequeno pufe, alisando o vestido de seda verde-água.
– Hora de chamar meu irmão. – Olhei mais uma vez para o relógio. Quinze minutos haviam se passado desde então.
– Sim, milady.
Margot tomou à frente e abriu a porta para mim. Quando passei pelo batente tive a sensação de que seu rosto fora maculado por um sorriso.
~*~
Esperei até que ele descesse. Robert não costumava se atrasar para seus compromissos, o que me fez estranhar sua demora. Ainda mais nesta situação, em que fora ele quem impusera sua presença, eu duvidava muito de que perderia a hora.
Levantei-me do sofá da sala de visitas e impaciente atravessei os cômodos. Ergui as saias de meu vestido e subi as escadas apressada.
– Robert? – Bati à porta de seus aposentos.
Aguardei, mas não obtive resposta.
– Robert! Está quase atrasado! Lorde Stretford deve estar para chegar! – Bati mais uma vez, com mais força.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...