Um cavalheiro distante

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Meu plano de interrogar William a respeito de algum cavalheiro chamado Hugh, envolvido em apostas de cavalo, falhou. Quando retornei a Manchester House, vi-me cercado mais uma vez por inúmeras obrigações do "lorde da casa". Contudo, esta não fora a única razão de não termos conversado. Meu irmão simplesmente havia saído de casa e quando fui me recolher, já tarde da noite, ele ainda não havia retornado.

Será que William estava metido em algum tipo de aventura e não me revelara?

Não estou certo de que deveria chamar minhas incursões a Whitechapel de aventura, mas se William estivesse vivenciando algo semelhante, eu não o criticaria. Contávamos apenas um ano de diferença de idade, portanto, era natural que tivéssemos pensamentos e atitudes muito similares. Mas confesso que gostaria que ele me contasse se estivesse flertando desavergonhadamente com uma dama, como diria tio Armin.

Tio Armin... O tratante não havia dado as caras desde que me deixara à mercê em Whitechapel. Sequer enviara um recado, um bilhete ou carta explicando-se. Eu deveria estar furioso com ele, mas não fosse por isto, eu não teria seguido sozinho pelas ruas e não teria conhecido a senhorita Grantham.

A lembrança de minha última visita ao orfanato me veio à mente. E especificamente o momento em que lady Grantham caiu sobre mim, nós dois sobre o chão ensaboado, a maneira indecente como suas pernas se encaixaram em torno de meu corpo e suas mãos se apoiaram no chão, a fim de que nossos corpos não se tocassem.

A recordação me causou um ardor no rosto. Eu sacudi a cabeça para espairecer, afastar quaisquer que fossem as sensações indecorosas que ameaçavam me invadir.

Então me concentrei em abrir a última das correspondências que chegaram a nossa residência naquela manhã. No entanto, fui interrompido por batidas à porta do escritório.

– Entre, por favor. – Pedi em voz alta.

Quando a porta se abriu, Wallace entrou, anunciando:

– Milorde, os irmãos Hemingway estão na sala de visitas aguardando-o.

Ora, ora! Aqui estava minha chance de confrontar tio Armin sobre aquela noite!

Eu dobrei o papel da carta que abrira instantes antes e o guardei na gaveta da escrivaninha.

– Estão aqui para receber Sua Graça. – A voz grave e envelhecida do mordomo se fez presente novamente.

Eu pisquei.

– Perdoe-me o comentário, milorde. Espero que não me julgue impertinente, mas por seu semblante, devo crer que tenha esquecido que seus pais chegam a Londres hoje.

Eu fitei a folha de calendário disposta na mesa. 14 de junho. Era de fato o dia em que meus pais voltariam de viagem.

– Wallace, eu não percebi o passar dos últimos dias! – Exclamei, surpreso.

– Perfeitamente compreensível, milorde. – Ele me respondeu e eu não soube se a resposta era sincera ou se tratava apenas de uma réplica pronta de um mordomo instruído a sempre agradar a quem servia. – Esteve ocupado com as responsabilidades da casa, administrando as contas do ducado pela primeira vez. Com tantas atribulações, os dias passaram voando.

– Não há como negar, Wallace. – Concordei e levantei-me da cadeira. – Devo me apressar para encontrar os Hemingway. Tenho alguns assuntos a tratar com eles antes que os dois se juntem a meu pai.


– Tio Armin! Tio Alex!

Quando cheguei à sala de visitas, os Hemingway estavam preguiçosamente acomodados em um sofá cor de creme. William e Andrew já lhes faziam companhia, cada um debruçado em uma poltrona.

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