Ao acaso

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[Edward Walker]

Com as temperaturas mais agradáveis do início do verão, meus pais tiveram a ideia de desfrutar de uma tarde no Hyde Park com os filhos. Porém, eu, William e Harriet já somos crescidos o bastante, de modo que já não nos entusiasmamos com este tipo de passeio em família. Se minha avó Adelaide estivesse em Londres, certamente teria chamado a nós três em um canto, dizendo que o passeio poderia ser uma oportunidade para fortuitamente encontrarmos alguma lady ou lorde de boa família com quem deveríamos nos entreter em uma conversa.

Se William ou Harriet estavam interessados em ter tais encontros – na visão de nossa avó – prósperos, eu não sei. Mas eu, não estava disposto a perder a tarde com lady alguma. Digo, não com as ladies que minha avó gostaria que eu conhecesse, e que posteriormente insistiria para que eu as cortejasse.

Sem pensamentos de corte ou flerte, estávamos todos reunidos. As senhoras Robinson e a senhora Hughes nos acompanhavam para auxiliar no cuidado com as crianças. William e eu estávamos sentados mais afastados dos outros, fora do alcance das duas toalhas estiradas na grama verde do Hyde Park. Harriet estava junto aos nossos irmãos menores e Andrew acompanhava de perto nossos pais, mas apenas para se pôr a fazer caretas a Theodore, que repousava no colo de nossa mãe. À nossa disposição estavam três cestas do Fortnum & Mason repletas de saborosas iguarias que saciariam nossa fome.

– Ao menos as damas podem se vestir mais à vontade com as temperaturas mais altas. – Meu irmão comentou casualmente e meus olhos logo foram atraídos para duas jovens que passeavam de braço dado, a pele abaixo de seus cotovelos exposta devido às mangas curtas do vestido.

Elas estavam longe, mas não o suficiente para que seus traços não pudessem ser notados. Como se soubessem que estávamos a falar delas, elas olharam em nossa direção. Uma das damas, uma jovem de cabelos loiros, de vestido listrado em cinza e branco, deixou escapar uma risadinha, apertando a mão no braço da outra, que pareceu ser sua amiga.

– Parece-me que a dama gostou de sua pessoa, Will. – Afirmei.

Meu irmão apenas meneou a cabeça, em um gesto modesto, mas sem deixar de encarar as damas de volta.

Em resposta, a segunda apressou-se em vasculhar a bolsa a tiracolo que carregava. No momento seguinte, as duas jovens já caminhavam tão vagarosamente que não tardariam para se deter paradas a alguns metros de nós.

Eu me atentei ao objeto oferecido à dama loira, compreendendo. Um leque. Elas iriam usá-lo para se comunicar conosco através de uma linguagem discreta.

William passou uma das mãos pelos cabelos castanhos e não conseguiu evitar, deixando escapar um sorriso. Eu me dei conta de que ele cativara a atenção das damas sem qualquer esforço ou intenção.

Receoso de que nossos pais tivessem percebido a movimentação das damas, olhei de soslaio para eles. Minha mãe apoiava-se tranquilamente no peito de meu pai, que por sua vez, recostava-se num tronco de árvore. O pequeno Théo permanecia nos braços dela, distraindo-se com as galhofas de Andrew.

Foi então que avistei a jovem loira repousando o dedo na ponta do leque. Meu irmão se empertigou. A mensagem transmitida era a de que desejava conversar com ele.

– Edward, não deseja fazer companhia à outra dama? – William me indagou.

Diante da pergunta, eu me obriguei a observar a segunda figura feminina com mais atenção. Era sim muito bem-afeiçoada, com cabelos cacheados e acobreados que chamavam atenção de longe. Porém, eu ainda julgava os cabelos escuros e brilhantes da senhorita Grantham mais formosos.

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