Um lorde decidido

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[Sophie]

Havia decisões que tomávamos na qual não poderíamos voltar atrás. E eu havia decidido por dois caminhos sem volta. O primeiro deles foi escolher não mais me afastar de lorde Stretford. O segundo foi querer dar-lhe prazer.

Eu via em seus olhos o desejo inflamado. Por mim. Por Deus! Por mais que me fosse lisonjeiro, eu só conseguia pensar no porquê ele cometera o erro de se sentir atraído por mim. Eu era um meio termo terrível. Não era uma cortesã, mas também já não era a dama respeitável que atraía olhares e que era disputada para uma dança nos bailes. Porque a sociedade especulava sobre mim. Porque minha reputação ficou a um fio de ter sido completamente arruinada devido ao fruto de um amor que eu perdera tragicamente.

Tenho por mim que Edward desconhece essa sombra de minha vida. Só isto para explicar por que ainda teima em me ver, em me auxiliar. Mas talvez depois de nosso último encontro, algum lampejo de consciência tenha iluminado sua mente. Que dama íntegra e pura teria lhe feito oferecido aquele tipo de deleite pecaminoso?

Porém, a culpa também era minha. Eu poderia ter simplesmente lhe rechaçado. Ter-lhe negado o que ele queria. Mas Edward estava se tornando cada vez mais alguém do qual eu não conseguia me distanciar. Porque eu passara os últimos anos me isolando de tudo e de todos. E aquela noite em Whitechapel havia mudado tudo. Um encontro totalmente inesperado e então aquela relação entre nós que ia se fortificando a cada dia.

Ainda assim, eu poderia ter negado seus anseios. Não estou certa quanto à verdadeira razão para o qual tive aquela ideia tão indecente. Nunca havia feito algo sequer parecido com Kyle. Infelizmente, não tivéramos tantos momentos íntimos. Foram apenas duas vezes, a última pouco tempo antes que ele partisse rumo à Índia. Aquela última vez que fora responsável por marcar meu corpo. Uma última vez que foi capaz de mudar tudo.

Haveria de ter algum provérbio que dizia que depois de provar do pecado, a alma padecia sem ele, pois depois que Kyle me mostrou o que era ser amada em seu sentido mais profundo, eu procurava e ansiava para que tivesse mais de seu gosto. Era em seu corpo quente, nele preenchendo meu âmago que eu pensava quando o esperava retornar. Imaginava como ele estaria sedento pelo meu corpo, o quanto o meu corpo estaria aguardando pelo dele. Ansiava pelas coisas novas que poderíamos descobrir e aprender um com o outro. Porém, nada disto aconteceu.

Ao contrário do que eu esperava, meu corpo teve que aprender a lidar com outros tipos de necessidade. Não por acaso, sempre pensei que a minha ousadia tinha me levado ao castigo. O desejo, a lascívia foram substituídos pela preocupação, pelo instinto feminino. Meses depois que Kyle estava em terras distantes, eu já era incapaz de pensar em qualquer ato carnal. Por fim, quando recebi a notícia de sua morte, qualquer resquício de volúpia também morreu dentro de mim.

Contudo, depois do primeiro beijo com Edward, os sentimentos há tanto adormecidos dentro de mim foram perdendo controle muito rapidamente. Carência, imprudência, libidinagem e todas aquelas outras sensações que compunham os desejos de uma mulher começaram a renascer lentamente de uma semente que eu pensara ter morrido com o homem que eu amei.

Eu ainda era capaz de sentir desejo. E já não podia mais negar que Edward era o objeto de meus pensamentos censuráveis. Que os pelos de meu corpo se arrepiavam quando ele se aproximava de mim. Que meus lábios ficavam secos na expectativa de que ele trouxesse a sua humidade. Que o meio de minhas pernas ficava umedecido quando eu sentia a sua ereção roçar em meu corpo.

Eu também o queria, mas me entregar a ele era correr o risco de que aquele pesadelo se repetisse. Nenhuma relação entre homem e mulher era cem por cento segura, mesmo tomando os cuidados necessários. Portanto, a melhor maneira de repetir o passado era simplesmente evitar que ele se transformasse em futuro, que era renegar a mim e a ele.

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