[Sophie]
As badaladas da igreja de Saint James ecoaram no mesmo instante em que nossa carruagem parou no pórtico de Manchester House, indicando as 22h.
Lorde Hartington foi o primeiro a descer, seguido por Robert. Ele ajudou lady Amelia a sair do veículo e eu fui a última, sendo auxiliada por meu irmão.
Adentramos no hall, que não era muito amplo. Embora a casa fosse opulenta, não era exageradamente grandiosa, uma vez que não servia de moradia fixa à família do duque de Manchester. Como muitos outros aristocratas de famílias procedentes de outras cidades que não Londres, os Walker mantêm outras várias propriedades espalhadas pelo território britânico, mas a grandiosidade que faz jus a seu nome deveria estar mesmo à mostra em Kimbolton Castle, que pelo que eu soube, era de fato um castelo, construído há mais de dois séculos.
Aguardamos por alguns poucos minutos em uma pequena fila de convidados até que nos fosse permitido subir as escadas para o primeiro pavimento, onde ficava o salão de baile. Durante o trajeto, encontrei a estátua em mármore de Adonis, mencionada por lorde Stretford. Era diante dela que eu deveria encontrá-lo daqui a meia hora.
Fomos anunciados pelo mestre de cerimônia logo que entramos no salão, que já estava quase cheio. Encaminhamo-nos na direção dos anfitriões; o duque e a duquesa de Manchester e, claro, da aniversariante, a duquesa-viúva. Adelaide Walker desfilava em um vestido de tafetá roxo escuro com bordados dourados nas bordas das saias, as curvas do corpo marcadas pelo corpete bem acinturado. Uma tiara de diamantes enfeitava os seus cabelos loiros salpicados por poucos fios prateados, que ornava perfeitamente com o belo colar de ametistas em seu pescoço. Os traços da duquesa-viúva ainda eram delicados e atrativos, com poucas expressões de idade maculando sua pele clara. Ela era elegante e possuía uma beleza digna de nobreza, sem que a idade tivesse lhe causado prejuízos. Também era visível que o filho, o duque, herdara suas feições bem-afortunadas.
O casal nos cumprimentou de um modo muito cortês e acolhedor, saudando-nos com um sorriso. Já a duquesa aniversariante, por não nos conhecer, imaginei, foi bastante polida, mas sem se importar de tirar do rosto sua expressão de altivez.
Atravessamos o salão, minha atenção voltando-se aos convidados ali presentes. Procurei lorde Stretford entre eles, mas não vi qualquer sinal de sua figura.
– Sentem-se um pouco. – Meu irmão indicou algumas cadeiras em um dos cantos do salão, onde algumas damas já estavam sentadas. – Irei até a sala onde os cavalheiros estão reunidos para fumar a fim de ver se encontro alguns de meus amigos.
Perfeito. Sem Robert por perto, eu teria chance de me ausentar por alguns minutos para encontrar meu amigo na companhia de Adonis.
– Eu cuidarei delas. – Anunciou lorde Hartington instantes antes de meu irmão se dirigir a uma das portas laterais.
Lady Amelia e eu nos sentamos. Ela abriu o leque de seda e plumas, abanando-se delicadamente.
– Está procurando por alguém, lady Sophie?
– Eu?
– Sim. Vi como seus olhos passearam pelo salão como se buscasse por algo.
Oras! Eu havia arranjado mais alguém para me vigiar além de meu irmão?!
– De fato. – Comecei a responder sem muita amabilidade. – Estava procurando por alguma amiga para me fazer companhia.
– Mas já tem a minha companhia. Não ficará sozinha neste salão.
Eu precisei me conter para evitar olhá-la torto.
– E milady tem a meu irmão. Ele lhe dará toda a atenção esta noite e obviamente me verei sozinha em algum momento.
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...