Meu irmão me olhou mais uma vez com o cenho franzido.
– Eu não conheço duque algum. Deve estar havendo algum engano. – Defendi-me de seu olhar acusador.
– Não? Pois tiraremos isto a limpo agora mesmo. – Robert disse, decidido.
Ele limpou uma sujeira invisível de seu casaco e se apressou a acompanhar o mordomo e não precisou pedir que eu o acompanhasse, pois o fiz de imediato.
Seguimos até os portões da casa, de onde avistamos um cavalheiro muito bem-vestido, alto e de cabelos loiros. Estava parado e escondia uma das mãos no bolso da calça enquanto a outra segurava uma bengala com a ponta no formato da cabeça de um animal, dourada. Uma pose sutil que significava que estava aborrecido. Certamente não estava habituado a ter que esperar do lado de fora de uma casa, ainda mais se era de fato um duque.
Aproximamo-nos e eu vislumbrei as feições do cavalheiro tão bem-apessoado. Até o instante em que o reconheci...
– Não tinha conhecimento de que sua família mantinha o costume pouco usual de vir buscar as visitas no portão. – A nobre figura talvez quisesse dizer: o costume de deixar as visitas esperando. – Mas sinto-me na obrigação, como uma cortesia, de adverti-los que isto causa uma certa chateação para quem fica ao portão. – Sua expressão era séria, mas não havia aspereza em suas palavras.
– Milorde está... – meu irmão ia respondendo, mas o duque não permitiu que ele completasse sua declaração, corrigindo-o no mesmo instante:
– Vossa graça.
– Oh, claro, perdoe-me. – Os ombros de Robert se retraíram. – A mim parece-me um pouco jovem para deter a posse de um título tão notável. E também confesso que havia imaginado que meu mordomo tivesse se equivocado ao anunciá-lo a mim como um duque.
– Talvez isto se deva por não termos sido apresentados pessoalmente em nenhuma ocasião solene.
– Creio que possa estar certo em sua observação. – Robert concordou.
– Pois bem, vamos às apresentações. Nathaniel Walker, Duque de Manchester. – Nossa ilustre visita inclinou a cabeça, que estava inusitadamente desprovida de uma cartola, e sorriu com o olhar.
Meu irmão prestou-lhe um cumprimento educado.
– Robert Grantham, conde de Clifton. E esta é minha irmã.
– Lady Sophie Grantham. – O duque me fitou. – Já nos conhecemos. Viemos procurar justamente por ela.
Meu irmão alternou o olhar entre mim e sua graça, tentando imaginar em que circunstância nós havíamos nos conhecido. Eu, ao contrário dele, apenas fiquei intrigada com a conjugação no plural que ele usara.
– Bom dia, vossa graça. É um prazer revê-lo. – Respondi, ainda sem entender o que o trouxera até nossa casa.
O duque sorriu, divertindo-se.
– Não se preocupe, lorde Clifton. Sua irmã me foi apresentada por meu filho. Creio que eles se conheceram através de um amigo em comum.
– Seu filho? – Os olhos de meu irmão se perderam atrás do duque, buscando por algo.
– É por causa dele que estamos aqui. – Estamos. Agora eu já estava certa de que ele não estava sozinho.
O duque se virou para trás, onde a poucos metros estava estacionada uma bela carruagem adornada por um brasão e uma letra W dourada em sua lateral. – Incomoda-se, milorde, se meus filhos me acompanhem?
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Flor de East End
RomanceA noite pareceu promissora para o jovem Edward Walker: ele decidira descobrir os prazeres carnais que até então lhe eram desconhecidos aceitando o convite a uma incursão a Whitechapel, a área de Londres mais decadente e contrastante com sua vida de...